Pais não têm
dinheiro para vacinar os filhos
Emilia Monteiro –
Jornal de Notícias
As vacinas não
comparticipadas pelo Estado estão a ser cada vez menos compradas pelos pais. Os
pediatras alertam para o perigo de parar planos de vacinação já iniciados, mas
as famílias estão sem dinheiro.
"Existe uma redução
clara nas vacinas fora do Plano Nacional de Vacinação (PNV) que são dadas às
crianças", disse, ao JN, José Gonçalves Oliveira, do Colégio de Pediatria
da Ordem dos Médicos (OM) e presidente da Associação de Pediatria do Minho.
"Das vacinas, não comparticipadas pelo Ministério da Saúde, os pediatras
recomendavam e recomendam a toma de, pelo menos, duas: as vacinas contra
doenças pneumocócitas e a rotavírus", afirmou o pediatra. "Agora, nas
consultas, os pais dizem que não têm dinheiro para pagar as vacinas e pedem-nos
a nós, médicos, para 'escolher' a vacina mais importante", frisou Paula
Fonseca, pediatra.
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Mães sem dinheiro
"arriscam" e dão leite de vaca a bebés de poucos meses
Jornal de Notícias
Mães sem dinheiro
para comprar leite em pó estão a alimentar bebés de poucos meses com leite de
vaca, ou juntam mais água às fórmulas artificiais, o que pode prejudicar a saúde
das crianças.
Estes casos são do
conhecimento dos serviços sociais da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em
Lisboa, que cada vez mais atendem mães com "grandes carências", a
maior parte devido ao desemprego, como disse à Lusa a assistente social Fátima
Xarepe.
"Todos os dias
recebemos pedidos de ajuda", disse, explicando que os mais frequentes são
para a compra de leite em pó, de medicamentos, como vitaminas ou vacinas que
não constam do Plano Nacional de Vacinação, e produtos de higiene.
Estas mães "fazem
o melhor que podem", disse Fátima Xarepe, que lamenta nem sempre a
maternidade poder ajudar, nomeadamente no fornecimento de leite em pó, apesar
de contar com o apoio da Associação de Ajuda ao Recém-Nascido (Banco do Bebé) e
outras instituições particulares de solidariedade social.
"Estamos a
recuar 50 anos"
A pediatra Cristina
Matos conhece esta realidade e as consequências da ingestão de leite de vaca
antes de um ano de idade, como gastroenterites.
"Estamos a
recuar 50 anos", disse à Lusa, acrescentando que são cada vez mais as mães
que, para o leite em pó render, juntam mais água do que o devido.
Isso mesmo
confirmou a enfermeira Esmeralda, que consegue identificar o acréscimo
excessivo de água ao leite em pó, principalmente através do atraso no
crescimento do bebé.
Segundo Fátima
Xarepe, são mais de mil os pedidos de ajuda que os serviços sociais já
receberam este ano, e que não se limitam à alimentação dos recém-nascidos.
"Há grávidas que não vêm às consultas de vigilância por não terem dinheiro
para os transportes, o que as coloca em risco, assim como aos bebés",
disse esta assistente social, que não tem dúvidas de que estes casos, cada vez
mais graves e frequentes, vão aumentar por causa da crise.
Estas profissionais
sentem-se impotentes, apesar de tentarem fazer "o melhor" que sabem,
pois apesar de o serviço público de saúde ser gratuito para as grávidas, estas
muitas vezes não conseguem assumir outras despesas, como é o caso dos
transportes. "Há grávidas que vêm a pé de Chelas [o que pode demorar cerca
de uma hora], porque não têm dinheiro para pagar o transporte", disse.
Este ano, o Banco
do Bebé recebeu 3430 pedidos de ajuda, apoiaram 971 crianças e 62 no domicílio.
Dos cerca de 4000
partos anuais na MAC, perto de 10% resultam em crianças sinalizadas por estarem
em risco de serem negligenciados.
A MAC comemora,
esta quarta-feira, o seu 80.º aniversário, tendo assinalado a efeméride com uma
conferência com o psicanalista Coimbra de Matos, durante a qual este falou
sobre a importância de cuidar e amar.
*Título PG
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