Ana Tomás – Jornal i, com Lusa
Corpo será
transportado em cortejo para o aeroporto e segue para Brasília
Oscar Niemeyer
morreu esta esta quarta-feira. O corpo do arquitecto brasileiro foi embalsamado
durante a madrugada e será levado para o aeroporto, em cortejo fúnebre, para
ser velado em Brasília.
A previsão é de que o corpo do arquiteto seja levado ao aeroporto Santos
Dummont por volta das 10:00 locais (12:00 em Lisboa), de onde seguirá para a
capital do país.
O arquitecto morreu
aos 104 anos no Hospital Samaritano, em Botafogo, no Rio de Janeiro, onde se
encontrava internado há várias semanas.
Oscar Niemeyer, que
completaria 105 anos no próximo dia 15 de Dezembro, deu entrada no hospital a 2
de Novembro, para tratar de uma desidratação, mas o seu estado agravou-se e
esta semana sofreu uma infecção respiratória, acabando por não resistir.
Nome ímpar da
arquitectura brasileira e conhecido internacionalmente pelos traços curvos e em
cimento armado, Niemeyer deixou a sua marca em várias cidades, entre as quais
Brasília, construída de raiz e para a qual projectou os edifícios.
Recebeu vários
prémios, como o Pritzker, em 1988, e a Ordem do Mérito Cultura.
Teve também um
papel activo na política brasileira, tendo-se filiado no Partido Comunista
Brasileiro em 1945.
Niemeyer, o
arquitecto da linha sensual
A originalidade e a
imaginação do brasileiro Oscar Niemeyer, falecido quarta-feira à noite no Rio
de Janeiro aos 104 anos, valeram-lhe uma reputação de líder da arquitetura
moderna.
"Não é o
ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo
homem. O que me atrai é a curva livre e sensual", dizia.
Dono de uma
personalidade doce e incisiva, características aprofundadas pela sabedoria do
tempo, a história do artista fluminense cruza-se com a política, literatura,
fotografia e artes plásticas brasileiras.
Oscar Ribeiro de
Almeida de Niemeyer Soares nasceu a 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro.
Em 1928, casou-se
com Annita Baldo, com quem teve sua única filha, Anna Maria Niemeyer, que
morreu em 2012. Viúvo desde 2004, voltou a casar-se, com a sua secretária dois
anos mais tarde.
Em 1929, ingressou
na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e em 1934 obteve o diploma
de engenheiro arquiteto no Rio de Janeiro e trabalhou com o arquiteto suíço Le
Corbusier.
Ingressou no
Partido Comunista Brasileiro em 1945 e um ano depois foi convidado a dar um
curso na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mas o visto de entrada foi
cancelado.
Dois anos depois,
obtida a permissão de entrada, viajou para Nova Iorque para desenvolver o
projeto da sede da ONU.
Niemeyer realizou
sua primeira viagem à Europa em 1954 para participar na Exposição Internacional
de Arquitetura de Berlim (Interbau). Integrou ainda o programa de reconstrução
da capital alemã no pós-guerra.
Em 1957 e 1958, o
arquiteto projetou o Palácio da Alvorada -- residência oficial do Presidente -,
o Palácio do Planalto e todos os principais edifícios da nova capital
brasileira, inaugurada em abril de 1960.
Estava fora do país
quando foi surpreendido pela notícia do golpe militar no Brasil e no regresso
foi chamado a depor perante as novas autoridades.
Em 1965, retirou-se
da Universidade de Brasília com mais 200 professores, em protesto contra a
política universitária, e viajou para Paris para a exposição de sua obra no
Museu do Louvre. No mesmo ano, projetou a sede do Partido Comunista Francês.
Em 1967, impedido
de trabalhar no Brasil, instalou-se em Paris e três anos depois, em protesto
contra a guerra do Vietname, afastou-se da Academia Americana de Artes e
Ciências.
Niemeyer regressou
ao Brasil no começo da década de 1980, no início da abertura política
brasileira e dez anos depois desligou-se do Partido Comunista Brasileiro,
embora tivesse mantido até ao fim amizade com figuras como Fidel Castro.
Recebeu o Prémio
Pritzker em 1988 (Estados Unidos) e o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, em
1996, dois dos muitos prémios e homenagens ao arquiteto brasileiro.
Niemeyer deixa
muitas obras e projetos diversos no Brasil e em vários países. Projetou a
Universidade de Constantine, na Argélia, o Memorial da América Latina, em São Paulo , o Sambódromo,
no Rio de Janeiro, a Residência em Oslo, o Acqua City Palace Moscovo, na
Rússia, o Museu do Cinema e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, no Rio
de Janeiro.
Em Portugal, em
1966, fez o projeto original da obra do Pestana Casino Park, no Funchal, cuja
construção foi finalizada nos anos 70, mas um dos seus colaboradores, Viana de
Lima, modificou e concluiu o desenho final.
O arquiteto
brasileiro também projetou uma obra de urbanização no Algarve, em 1965, mas
esta nunca foi realizada, tal como a sede da Fundação Luso-Brasileira em
Lisboa, pensada em 1990.
Em 2006, desenhou o
Centro Cultural Internacional Oscar Niemayer, na cidade de Avilés, em Espanha,
inaugurado em março de 2011 e fechado no final do mesmo ano por divergências da
administração do instituto com o Governo espanhol.
Apesar da idade
avançada e da saúde já debilitada, Niemeyer manteve até o fim a rotina de
trabalho no seu escritório, localizado na Avenida Atlântica, em Copacabana, no
Rio de Janeiro.
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