Tiago Mesquita –
Expresso, opinião, em Blogues
O ministro Relvas é
um autocolante, um cromo, com a cola ressequida. Colado a cuspo, teima em
manter-se agarrado à caderneta governamental, ocupando há demasiado tempo um
espaço que nunca deveria ter sido seu. Sinto vergonha alheia. Dói vê-lo a
sorrir enquanto responde às perguntas dos jornalistas, sempre com o ar
angelical de madre Teresa. É penoso.
Relvas continua a
fazer parte deste executivo porque a inação de Passos Coelho o permite. A única
explicação para isto é o facto de uma tomada de decisão levar à queda não de
Relvas, mas de todo o governo. Passos está, sabe-se lá por que motivo, refém de
Relvas. Companheiros de longa data, terão as suas razões.
As confusões são
muitas. Um radialista afastado da Antena 1 (Pedro Rosa Mendes), as ligações
tenebrosas ao ex-espião Jorge Silva Carvalho que levaram às famosas comissões
parlamentares que que o ministro meteu os pés pelas mãos e deu barraca, a
mirabolante historieta da turbo-licenciatura ("Miguel Relvas, além de ter
precisado de fazer apenas quatro das 36 cadeiras da licenciatura da
Universidade Lusófona, teve também equivalência a cadeiras que não
existiam" - Público), as alegadas pressões, nunca esclarecidas, à
jornalista do Público que acabou afastada do cargo, as trapalhadas em volta da
privatização da RTP, a suposta agressão de um jornalista a um dos seus
seguranças nos Açores.
Mas continua: as
suspeitas levantadas em relação à empresa na qual o atual primeiro-ministro era
administrador quando Miguel Relvas era secretário de Estado da Administração
Local ("Relvas e Passos agiram em simultâneo para angariar contratos para
a Tecnoforma" - Publico) e na ordem do dia o "saneamento
político" de Nuno Santos. Saneamento que para o ex-director de informação
da RTP existiu e teve a mão ministerial, como confirmou ontem em comissão
parlamentar ("Miguel e o lobo"). Referiu as várias investigações e
matérias que incomodavam o governo e foi claro : "a partir de um certa altura
percebeu-se que eu era pessoa ingrata para o Governo (...) durante os últimos
meses houve um desconforto crescente de alguns setores do Governo com a forma
como a RTP tratava certas matérias." São casos graves a mais.
Em relação a todos,
sem excepção, o ministro diz ser alheio, inocente ou ignorante. Um rol de
acontecimentos que individualmente seriam motivo para o seu afastamento (ou a
existir um mínimo de decoro e vergonha, levar ao pedido de demissão pelo
próprio) passam incólumes. Mas, em boa verdade, seria preciso renascer este
governo e reconhecer-lhe alguma dignidade, coisa que se perdeu há muito, para
que daqui saíssem consequências. Relvas é a imagem do governo. Este governo
tresanda a Miguel Relvas. Vão cair juntos.
Sem comentários:
Enviar um comentário