Passada a euforia
sobre o acordo por fim alcançado pelos 27 sobre a supervisão bancária, embrião
de uma união bancária, a imprensa europeia mostra-se menos entusiasmada perante
os pormenores do mecanismo elaborado em Bruxelas.
É, sobretudo, o
sentimento de ter cedido ao diktat da Alemanha, que impôs que o supervisor
único europeu não possa interessar-se pelos bancos locais, que suscita
críticas.
“O acordo parece
ser de envergadura mas, na verdade, é insuficiente”, argumenta o NRC
Handelsblad. “É dececionante, quatro anos depois do início da crise dos
subprimes“. O diário holandês lamenta, sobretudo, que a grande maioria dos seis
mil bancos [europeus] continuem a ser da responsabilidade do regulador nacional
e dependam, assim, da confiança mútua entre bancos, que se revelou, no passado,
mais desigual do que se pensava […] A crise dos *subprimes* mostrou até que
ponto os bancos estão ligados uns aos outros. Só nos damos conta disso quando
degenera […] veja-se o que se passou na Islândia e sobretudo no caso Fortis,
onde os interesses nacionais passaram à frente do interesse comum. Só uma
supervisão centralizada por todos os bancos pode lutar contra isso. Além disso,
ainda não foram tomadas decisões sobre as duas etapas cruciais seguintes: o
encerramento dos bancos falidos e uma rede financeira comum que separaria,
finalmente, o destino dos Estados do destino dos bancos.
Do lado alemão, o Frankfurter Allgemeine Zeitung
fornece uma panóplia de argumentos segundo os quais a nova supervisão
bancária é uma má notícia, justamente no momento em que os bancos da zona euro
estão três vezes mais endividados do que os Estados-membros. Para o FAZ, o
problema está no todo-poderoso Banco Central Europeu (BCE), uma instituição
não-eleita, como lembra o diário. Com a sua dupla função de banco central e
autoridade de supervisão, deixará de estar em posição de cumprir a sua função
de garante da estabilidade dos preços.
Apesar de uma
supervisão comum dos bancos europeus fazer sentido, está muito mal colocada sob
a égide do BCE. Até agora, o banco central tinha por única obrigação garantir a
estabilidade dos preços. Doravante, viverá com um conflito de objetivos por
causa da supervisão. Como irá decidir quando a inflação precisar de um aumento
das taxas de juros mas forem essas taxas, exatamente, a afundar os bancos? Além
do mais, é duvidoso que o BCE vá pôr em causa instituições financeiras cuja
sobrevivência sob a forma de banco *zombie* tem garantido durante anos à custa
de injeções de dinheiro.
Foi escolhido um "modelo
erróneo" para a união bancária, escreve o diário El País. Uma
decisão “imposta” pela Alemanha e que “fratura” o mercado financeiro europeu em
dois grandes blocos: as grandes instituições, sob a supervisão do BCE, e as que
têm ativos inferiores a 30 mil milhões de euros, sob supervisão dos governos
nacionais. O diário madrileno mostra-se crítico:
O acordo responde
ponto por ponto às exigências alemãs. Angela Merkel já tratou de explicar ao
Bundestag que o acordo é um triunfo alemão; agora, chegou o momento de explicar
por que é que um triunfo para a Alemanha pode tornar-se um erro financeiro para
a Europa. O objetivo da triunfante proposta [do ministro das Finanças alemão
Wolfgäng] Schäuble é esconder a situação pouco encorajante das caixas alemãs e
dos bancos dos *Lander*. O pretexto que esconde este fim é o de colocar sob a
supervisão do BCE todo o risco sistémico europeu. Mas a realidade, demonstrada
pelo caso de Espanha, é que as pequenas instituições também são capazes de
intoxicar o sistema bancário nacional. E esta circunstância invalida o
argumento alemão segundo o qual a supervisão dos seus bancos regionais não tem
interesse, porque a Alemanha pagaria uma eventual consolidação dessas
instituições. O risco não diz respeito à falência, mas sim à contaminação de
ativos.
Argumento que
também é usado pelo seu compatriota ABC : "o
que a Alemanha esconde", escreve o diário, é o maus estado das caixas
regionais. Isso explica boa parte das movimentações políticas de Angela Merkel,
que foi capaz de defender o seu sistema financeiro e esconder as suas fraquezas
como nenhum outro líder europeu. Bruxelas nunca gostou das caixas de aforro,
mas a nova dama de ferro conseguiu fazer da Alemanha o seu último bastião,
apesar da sua responsabilidade nos problemas [financeiros]. Os *Landesbanken*
envolveram-se em operações internacionais muito arriscadas que deixaram uma
fatura elevada. [Mas] os problemas da Alemanha ficarão na Alemanha, [que] já disse
claramente que não gosta que outros se metam nas suas finanças. Apesar da união
bancária, por agora, só o Bundesbank o poderá fazer.
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