Deutsche Welle
O anúncio de que
Monti deixará o governo italiano e a ameaça de uma volta de Berlusconi deixaram
líderes europeus preocupados. Será que a Itália pode se transformar no
"detonador" da zona do euro?
Abalar os mercados
financeiros não é nada difícil nesses dias de crise do euro. Por isso, quando o
premiê italiano, Mario Monti, anunciou a sua renúncia após perder o apoio do
partido do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, era de se esperar que a
notícia fosse gerar instabilidade, o que de fato aconteceu.
A Itália ainda
sente os efeitos da recessão. Em outubro, por exemplo, a produção industrial
caiu 1% em relação ao mês anterior.
No início desta
semana, os negócios com as ações dos bancos Monte Paschi di Siena, UBI e Banca
Popolare di Milano tiveram que ser interrompidos depois de elas despencarem 5%,
acionando a suspensão temporária automática.
Também as manchetes
no principal jornal de economia da Itália, Il Sole 24 Ore, são as mais
pessimistas possíveis nos últimos dias.
Até as eleições, só
especulação
O jornalista Morya
Longo, analista do Il Sole 24 Ore, afirmou que os maiores riscos deverão vir
após as eleições de fevereiro. Até lá, segundo Longo, tudo o que se vê agora
não passa de especulação, e ele diz haver sinais para permanecer otimista.
Na análise dele, a
renúncia de Monti não foi nenhuma surpresa, uma vez que seu governo era, desde
o início, provisório. A agenda de estabilidade que ele iniciou está indo bem e
precisaria apenas ser mantida pelo próximo governo para que os mercados se
acalmassem.
Ao comentar a
situação por que passa a Itália, o ministro alemão do Exterior, Guido
Westerwelle, também usou um tom tranquilizador. Em entrevista ao site de
notícias Spiegel Online, ele disse que a Itália está indo bem e não deveria
interromper sua política de austeridade.
Westerwelle
observou que a interrupção do processo de reformas traria turbulências não
apenas para a Itália, mas para toda a Europa.
Longo também
observou que, na comparação com 18 meses atrás, a maior parte da dívida pública
italiana está agora em mãos de italianos, o que a deixa potencialmente menos
volátil. Mas também alertou que o teste de verdade virá após as próximas
eleições.
Se o partido
vencedor não conseguir uma maioria sólida, todas as medidas de austeridade dos
últimos 11 meses poderão ir por água abaixo. Este, segundo o analista, seria o
"verdadeiro teste de fogo" dos mercados.
"Vim para
ganhar"
Poucos acreditam
que Berlusconi deva voltar ao poder, apesar de ele já ter conseguido esse feito
outras vezes. Ele mesmo relativizou suas declarações nesta quinta-feira, em
entrevista televisiva, sugerindo que talvez não concorra.
Mas o
"relançamento" da sua candidatura, no sábado passado (08/12), durante
uma partida de futebol, lembrou a sua primeira incursão na política, em 1994,
quando ele conquistou o poder utilizando na campanha o coro futebolístico
"Forza Italia!".
Nos anos seguintes
ele voltaria ao poder por mais duas vezes, apesar de seu envolvimento numa
série de escândalos e processos judiciais.
Desta vez, ele
declarou à imprensa que "veio para ganhar", mas muitos acham difícil
a sua vitória nas próximas eleições. Para o analista político James Walston, da
Universidade Americana de Roma, a tarefa é até mesmo impossível. Pesquisas
recentes indicam que Berlusconi deverá receber apenas 15% dos votos.
Mas a Itália não
costuma eleger seus líderes com ampla maioria. Pierluigi Bersani, o candidato
do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, aparece na frente com o dobro
das intenções de voto do ex-premiê, o que está longe de ser uma maioria estável
para governar.
Berlusconi, como a
voz dos antieuropeus, poderia angariar mais votos do que o esperado devido à
impopularidade das medidas de austeridade. Sem dúvida, esse seria um motivo de
grande preocupação para os demais lideres europeus.
Outra pedra no
sapato dos políticos sérios é o Movimento 5 Stelle (Movimento 5 Estrelas) do
comediante Beppe Grillo, que pode levar até 20% dos votos nas próximas
eleições.
O historiador e
especialista em política italiana da Universidade de Colônia, Rudolf Lill,
afirmou à DW que Grillo é o típico antipolítico, mas alertou que caso o
Movimento 5 Stelle consiga uma boa margem de votos no ano que vem, poderá
dificultar a vida do próximo premiê.
O detonador da zona
do euro?
A sociedade
italiana atravessa, nos últimos dois anos, uma de suas piores crises. De acordo
com dados do Istat, o centro de pesquisas nacionais da Itália, quase três em
cada dez italianos correm o risco de cair abaixo da linha da pobreza. Quase a
metade das famílias italianas vive com menos de 2 mil euros por mês.
O premiê Monti
chegou a afirmar ao jornal La
Reppublica que estava muito preocupado com o futuro do país,
e alertou que a Itália deveria fazer o possível para "evitar ser o
detonador que explodiria a zona do euro".
O que é bom para a
Europa não é necessariamente o que faz sucesso entre os italianos. A política
austera de Monti acabou isolando-o tanto da população quanto dos demais
políticos italianos. Os candidatos à sua sucessão irão sem dúvida considerar
com muito cuidado até onde vai a paciência dos eleitores, dentro desse quadro
de austeridade econômica.
Stefano Ceccanti,
senador do PD, afirmou ao jornal Corriere della Sera que uma aliança de seu
partido com Monti poderia ser benéfica para ambos. Se Monti liderar as forças
de centro ao lado do PD, Bersani poderia ser o novo premiê, enquanto Monti
assumiria a presidência.
Walston alerta que,
mesmo se Berlusconi não voltar ao poder, ele tem recursos suficientes para
dificultar muito a vida de quem for eleito e certamente irá tentar atrapalhar
qualquer coalizão de centro e centro-esquerda que Bersani puder estabelecer,
assim como fez durante o mandato de Monti.
Autora: Emma Wallis
(rc) - Revisão: Alexandre Schossler
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