José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor
Acabar com a
pobreza é o grande desígnio nacional. Este desígnio foi, aliás, sufragado nas
eleições gerais por uma maioria qualificada. Produzir mais riqueza e
distribuí-la melhor é um bom ponto de partida. Se o país o conseguir, no final
da legislatura milhões de angolanos vão ter mais qualidade de vida, o que se
traduz, acima de tudo, no resgate da sua dignidade.
Criar mais riqueza só é possível com muito trabalho. Todos somos chamados a dar
mais e melhor, nos nossos empregos. Assiduidade e produtividade são as metas
que cada qual tem de atingir, todos os dias, mês a mês, até final da
legislatura. Se todos assumirmos este compromisso, a pobreza perde espaço e
milhões de angolanos passam a viver com dignidade.
Neste percurso é importante a participação de todos sem exclusão. Para ser
sério, ninguém pode ficar a dormir. Partidos políticos, igrejas, sociedade
civil, cada um individualmente, todos devem ajudar o Estado a combater a
pobreza. É um combate motivador e que mobiliza transversalmente qualquer comunidade.
Em sociedades como a nossa, saídas de uma guerra de canhões, o assistencialismo
ou a caridade são importantes, mas cada ser humano tem o direito à autonomia em
todos os aspectos da sua vida. Os que vivem abaixo do limiar da pobreza só
podem recuperar a dignidade através de um emprego remunerado, habitação digna,
água potável, energia, cuidados de saúde, educação, lazer, acesso à cultura.
Estas são as condições mínimas.
Combater a pobreza exige, desde logo, melhor organização das empresas, uma
gestão inteligente e equilibrada, investimentos reprodutivos, sobretudo no
mundo rural, nas periferias urbanas, onde fazem mais falta, porque é lá que
existem as maiores bolsas de pobreza. É nas comunidades rurais e à volta das
cidades que há mais angolanos a viver abaixo do limiar da pobreza e em
condições precárias.
O Executivo tem feito um esforço notável, desde o fim do conflito armado, para
incluir no tecido social milhões de angolanos que vivem nas zonas que mais
sofrem com as assimetrias regionais. A desertificação humana está a ser
combatida com grande sucesso, através de instrumentos técnicos e financeiros
que permitem às comunidades rurais viver do seu trabalho. O crédito agrícola
bonificado, o apoio ao escoamento da produção, a criação de uma rede comercial
rural, os pesados investimentos nas redes rodoviárias nacionais e locais,
mudaram completamente a vida de milhões de famílias angolanas nos últimos dez
anos.
O apoio à produção é importante para combater a pobreza. A disponibilidade de
crédito é fundamental para quem nada tem. A mecanização da agricultura é
fundamental. A distribuição de sementes com qualidade e ferramentas de trabalho
valem muito nas comunidades em que nada existe. Mas a formação é uma componente
essencial. As comunidades rurais precisam de aprender novas técnicas e conhecer
novos métodos para arrancarem da terra os produtos que vão garantir a sua
subsistência, mas também para produzirem excedentes que lhes garantam algum
rendimento. O combate à pobreza passa pela formação técnica e profissional.
A saúde é fundamental no combate à pobreza. As regiões mais deprimidas, aquelas
onde existem maiores bolsas de pobreza, só podem crescer se existir um sistema
de saúde eficaz. Os doentes não produzem. Quem está mal alimentado rende pouco.
As famílias que vivem sem condições de higiene, dificilmente saem da miséria. O
combate à pobreza passa obrigatoriamente pelo alargamento dos cuidados de saúde
a todas as comunidades, sobretudo às que vivem isoladas e em condições muito
precárias.
Médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde têm uma palavra decisiva no
combate à pobreza. Os postos e centros de saúde, os hospitais municipais,
provinciais e gerais têm de funcionar em pleno. Onde há cuidados de saúde, a
pobreza diminui. Comunidades saudáveis produzem melhor e têm mais recursos.
Outra frente fundamental é a Educação. A pobreza é filha da ignorância e da
falta de cultura. O valor de um ser humano mede-se pela sua sabedoria. Quem é
inculto e sabe pouco, mesmo que tenha muitos bens materiais, é pobre. A riqueza
está na sabedoria de cada um. E é preciso ter um espírito aberto, porque
aprender, é até morrer. Muitos problemas económicos que Angola hoje enfrenta
têm origem na ignorância e podiam ser melhor ultrpassados com a ajuda dos
potentes meios de comunicação social que hoje dispomos. A delapidação dos
recursos é uma consequência da falta de sabedoria por parte de quem tem a
obrigação de geri-los bem, ao serviço do bem-estar social, do progresso e da
felicidade de todos.
Cada escola que abre nas aldeias mais recônditas é uma grande vitória sobre a
pobreza. Cada criança que entra na escola é um agente de combate à pobreza.
Durante os próximos anos temos de combater a pobreza levando para os bancos das
escolas milhões de crianças. Mesmo que a qualidade do ensino ainda não tenha
atingido o nível desejável, é importante que as crianças e jovens frequentem as
escolas de todos os níveis.
Quando tivermos milhões de universitários, que não se preocupem apenas com a
vaidade e a choradeira, vai nascer uma comunidade científica que garante ao
país investigação e desenvolvimento. Só então podemos falar numa derrota
completa da pobreza. Enquanto não existir uma massa de investigadores da
ciência e da sociedade, Angola será um país com importantes recursos naturais
para ser rico, mas que na verdade é pobre.
O combate à pobreza faz-se com mais trabalho, mais produção, mais empenho de
todos, nas empresas, nas fábricas e nos serviços. Mas também é preciso combater
as bolsas de pobreza com saúde, educação, informação e cultura. Por isso, para
produzir mais riqueza e distribuí-la melhor, temos de aprender mais, ser mais
saudáveis, mais empenhados e produtivos. Todos temos de dar muito mais nesta
guerra à pobreza, aproveitando também a experiência de outros povos. Se o
fizermos, vamos ter, de certeza, menos compatriotas pobres.
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