A oposição sabe que
o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a
popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez
o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória,
mas de que haja segundo turno em 2014.
Antonio Lassance - Carta Maior
A oposição sabe que
o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a
popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez
o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de
vitória, mas de que haja segundo turno em 2014. O “timing” para fazer isso é
2013, ou será tarde demais para conseguir tirar a vantagem que hoje tem a
presidenta contra qualquer adversário.
Ao contrário de campanhas anteriores, os tucanos já definiram seu candidato com
bastante antecedência. A antecipação ocorreu porque a tarefa da oposição é
ingrata. A popularidade de Dilma anda na estratosfera (73%) e resistiu aos
escândalos direcionados contra seu governo, ao julgamento da Ação Penal 470 e à
desaceleração da economia. A presidenta e o PT não só atravessaram tudo isso
como conseguiram ampliar o número de prefeituras e derrotar o PSDB na cidade
com o maior eleitorado do país. Uma dificuldade extra para a política em 2014
será o clima de copa do mundo de futebol, mais intenso e que se estenderá por
mais tempo no Brasil.
Na batalha para garantir que pelo menos haja segundo turno, os que fazem
oposição ao governo Dilma sabem que não podem confiar só no PSDB. Torcem por um
maior número de candidatos com pelo menos 10% de intenções de voto cada. Faz
parte do jogo trazer Marina Silva de volta à cena, falando de meio-ambiente;
dar voz ao Psol para falar de corrupção; estimular Eduardo Campos – que já
disse que não é candidato - a se tornar candidato. Nessa divisão do trabalho,
os tucanos centram seu foco na economia, ou melhor dizendo, no tema das
finanças (públicas e privadas).
Na nova estratégia oposicionista, o tempo é a variável fundamental. A
estigmatização dos adversários e a editorialização da política já são armas
corriqueiras. Os alvos também continuam, em grande medida, os mesmos. Incluem
os clichês da tradicional espiral de pessimismo: "a inflação está alta
demais", "os gastos públicos fugiram do controle", "o país
vai crescer menos que o Haiti", "a saúde está pela hora da
morte", "a educação só piora".
Os estigmas mais fortes virão dos desdobramentos do mensalão. A oposição
ambiciona as imagens de petistas indo para a carceragem, se possível,
algemados; melhor ainda se forem pegos de pijama e seguirem para a prisão em
camburões, filmados pelos helicópteros das redes de TV.
Os novos alvos ficam por conta da batalha pela redução das tarifas de energia,
confrontada com o fantasma do apagão, e da gestão da prefeitura de Haddad, que
poderá ser alvo da mesma tentativa de erundinização que se viu na campanha de
1989 contra Lula, quando uma administração boa e séria foi transformada em um
péssimo exemplo pelos adversários.
Está certíssimo o ministro Gilberto Carvalho, que disse que “2013 vem aí e vem
muito bravo”. A questão é saber: diante dos ataques, o que farão a presidente,
seu governo, Lula e o PT?
Uma grande expectativa está sendo depositada em uma presença pública mais
intensa de Lula, com suas caravanas, seu contato com o povo, sua língua ferina
contra os adversários, seu improviso, suas metáforas. Esse estilo direto e
mambembe de fazer política sempre ajudou o PT a inverter o jogo em momentos
difíceis.
Mas será que isso basta? Lula será fundamental para defender o PT e a si
próprio dos duros ataques que vem sofrendo. Também pode fazer, melhor do que ninguém,
a defesa de seu legado. Em 2013, completamos 10 anos do início de muitas
mudanças que agora fazem parte da paisagem socioeconômica do país. Mas há toda
uma nova geração de brasileiros que já não se recorda do que era este país
antes de Lula. Não sabe o que era a educação sem Fundeb, sem Pró-Uni, sem
Cefet’s, sem as universidades que foram criadas ou ampliadas. Não sabe o que
era a Saúde sem a Política Nacional de Urgência e Emergência - da qual fazem
parte o SAMU e as Unidades de Pronto Atendimento - e sem “Brasil Sorridente”.
Tem gente que não se lembra o que era a infraestrutura do país antes do PAC,
nem da época em que engenheiros começavam a aparecer nas esquinas vendendo
cachorro-quente. Muita gente não tem ideia do que era a vida dos mais pobres
com a taxa de desemprego acima de dois dígitos, sem o Bolsa Família, sem o
“Minha Casa, Minha Vida”, sem o “Luz para todos”. Antes da criação das contas
populares, que permitiram a bancarização de milhões de brasileiros, muitos
tinham vergonha de entrar em uma agência bancária e só conseguiam crédito
recorrendo à agiotagem. Neste sentido, Lula pode ajudar muito a refrescar a
memória do país.
Mas, e Dilma? Estamos falando de seu governo, e não só do governo Lula. É da
presidenta a responsabilidade primordial de dizer o que é e o que faz seu
governo. Seria bom que fizesse isso mudando ou no mínimo variando mais seu
padrão de comunicação, incluindo entrevistas a blogueiros, a rádios e veículo
do interior, sindicais e comunitários.
Se quiser fazer frente a seus adversários e ao tamanho dos desafios colocados,
Dilma vai ter que falar mais, que viajar mais. Vai precisar explicar mais o que
está acontecendo, o que está fazendo e o que está em jogo para o futuro do
país. Terá que se rodear menos de ministros e celebridades, e mais do povo das
ruas. Afinal, este ano de 2013 começou com altas temperaturas e com cara de
primeiro turno.
* Antonio Lassance é
cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA). As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente
opiniões do Instituto.
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