Oposição e
sociedade civil discordam do destino de 18% do dinheiro: o setor da Defesa e
Segurança. Parlamento angolano aprovou Orçamento Geral de Estado na
generalidade e aguarda votação final a 14.02.
O parlamento
angolano aprovou na quarta-feira (15.01), em Luanda, o Orçamento Geral de
Estado (OGE) para 2013 na generalidade. O diploma recebeu 156 votos a favor,
oito contra e 31 abstenções. O "sim" ao orçamento teve maioria
confortável, especialmente por causa da maioria parlamentar do partido
governista MPLA, do presidente José Eduardo dos Santos.
Apresentado pelo
ministro das Finanças, Carlos Lopes, o OGE prevê receitas e despesas no valor
igual de 51,9 mil milhões de euros, de acordo com a agência noticiosa LUSA.
Em comparação com o
OGE de 2012, o governo angolano parece ter mais dinheiro à disposição: o
orçamento deste ano teve um crescimento de 16,4 mil milhões de euros – mas é
preciso considerar que este aumento foi calculado a valores cambiais de 2013.
A votação final do
Orçamento Geral de Estado de Angola deverá acontecer no dia 14.02. Enquanto
isso, o diploma continuará sendo discutido na especialidade pelas comissões
parlamentares.
Chuva de críticas
Enquanto isso,
vários quadrantes da sociedade angolana não poupam críticas ao orçamento
angolano, já que as contas públicas do país austral africano não estariam a
fechar. O economista Fernando Heitor, deputado da bancada da UNITA – o maior
partido da oposição em Angola –, é um dos maiores contestatários das contas
públicas apresentadas pelo governo. "As contas públicas? O governo não as
apresentou. Neste momento, está-se a debater com o governo o Orçamento Geral de
Estado para 2013. Esta proposta foi enviada sem o balanço de execução dos
exercícios de 2012", explica Heitor.
Para ele, esta
"falha" está a levantar questões "pertinentes" por parte da
oposição e da sociedade civil, que questionam especialmente a distribuição da
verba total orçamentada: "Há uma excessiva centralização das verbas nas
estruturas centrais [do Estado]", constata Heitor.
"85% do total
do OGE vai ser gerido diretamente pelas estruturas centrais, deixando,
portanto, as estruturas regionais e municipais quase sem nada. Isso é
recorrente – até porque, nas eleições [gerais] passadas [de agosto de 2012], um
dos lemas principais da campanha do MPLA foi Crescer Mais e Distribuir
Melhor", recorda o deputado da UNITA.
Tempos de guerra ou
tempos de paz?
Fernando Heitor
discorda profundamente que 17,6% do OGE sejam destinados para o setor da
Defesa, Segurança e Ordem Interna,e que apenas 13,8% estejam previstos para a
Educação e a Saúde.
"É como se
estivéssemos ainda em tempos de guerra", afirma, recordando a guerra civil
angolana entre 1975 e 2002.
"Estamos em
tempos de paz. E continua-se a gastar mais dinheiro nos setores castrenses –
Defesa, Segurança e Polícia – em vez de se dar um incremento maior ao setor
social, nomeadamente à Educação, à Saúde, que se debatem com problemas
gravíssimos, problemas básicos", aponta o economista.
Dependência do
petróleo continua, segundo críticos
De salientar que o
setor petrolífero vai contribuir com metade das receitas previstas, seguindo-se
as receitas do setor não petrolífero, com 17%, e dos financiamentos externos,
com 12%. A dependência do petróleo continua, pois, a ser excessíva, na opinião
dos críticos.
O governo angolano
prevê ainda nas receitas que o preço médio do barril de petróleo exportado se
situe nos 96,02 dólares, e assenta as receitas petrolíferas numa produção
diária de 1,84 milhões de barris.
Em 2011, a produção
petrolífera foi de 1,66 milhões de barris/dia e em 2012 aquele valor subiu para
1,8 milhões/dia.
Tal cenário também
preocupa os partidos de oposição. O Bloco Democrático, nomeadamente, acaba de
distribuir uma nota de imprensa em que se mostra a sua indignação e preocupação
com a "monoprodução petrolífera" pelo "modelo de crescimento
assente no betão", posição que também os grupos da sociedade civil, OPSA
(Observatório Político Social de Angola) e ADRA (Ação para o Desenvolvimento
Rural e Ambiente) subscrevem.
Segundo estas
associações, o Orçamento Geral de Estado "reflete a afetação de
rendimentos para os mais ricos, a elite governante e subsidiária, em detrimento
dos mais pobres, impedindo a formação e consolidação de uma classe média no
país."
Autor: António
Cascais/LUSA - Edição: Renate Krieger/António Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário