Filipe Fialho – Visão,
com foto de Marcos Borga
Acredita que
Timor-Leste está bem entregue e vai continuar a ser um caso de sucesso. Ramos
Horta, o Nobel da Paz de 1996, deixou a presidência do seu país há sete meses e
admite estar a aproveitar muito bem a sua liberdade
Em maio, cedeu o
lugar de Chefe de Estado a Taur Matan Ruak e, desde então, tornou-se um
reformado de luxo da política de Timor-Leste e um andarilho global. Tal como
Bill Clinton ou Tony Blair, José Ramos Horta passou a integrar a lista de
antigos dirigentes que passam o tempo em viagens pelos cinco cantos do mundo
para dar todo o tipo de conferências - pagas proporcionalmente ao seu prestígio
internacional. Esta semana, veio a Lisboa para participar nas comemorações dos
40 anos do Expresso e rever velhos amigos. No final do mês, tem à sua espera um
novo desafio pessoal e diplomático, quando assumir funções como enviado
especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau. Um cargo
que, confessa, lhe pode provocar alguns constrangimentos por impedi-lo de dizer
o que realmente pensa. Enquanto tal não ocorre, mostra-se solidário com a causa
palestiniana, elogia os professores portugueses em Timor-Leste - "são
dedicados e entusiastas, devíamos pagar-lhes um pouco melhor" - e diz que
Durão Barroso pode muito bem suceder a Ban ki Moon à frente da ONU.
Após ter abandonado
a presidência da República de Timor-Leste, afirmou que lhe tiraram um enorme
fardo de cima. É hoje um homem mais livre?
A verdade é que,
nestes últimos meses, deleitei-me com a minha liberdade. Mas não se entenda
isto como sinónimo de ociosidade. Logo em junho, por exemplo, aceitei o convite
do Presidente Taur Matan Ruak [o seu sucessor] para representar Timor-Leste na
cimeira do Rio+20. Tenho viajado imenso, dei mais de 20 palestras - nos Estados
Unidos, Japão, Suíça, Alemanha, Singapura, Tailândia, Austrália... Recebi mais
três doutoramentos honoris causa, entrei para o Conselho Honorário da
Universidade de Harvard...
Tenho estado muito
ocupado, a diferença é que já não sou obrigado a preocupar-me com problemas de
política e segurança em Timor-Leste. Durmo tranquilo e acordo tranquilo, as
dores de cabeça em relação ao que acontece em Timor-Leste ficaram para o atual
Presidente e para o primeiro-ministro.
Curioso que a sua
reforma da política timorense lhe permita agora ter maior visibilidade
internacional...
Eu nunca deixei de
ter visibilidade, a nível internacional. Mesmo quando estava na chefia do
Estado, publiquei artigos de opinião no Washington Post, no International
Herald Tribune, no New York Times. Sempre opinei sobre aquilo que me parecia
mais oportuno, fosse a Síria, a situação dos media ou a Birmânia... Mas agora,
ser representante especial do secretário-geral para a Guiné-Bissau, impõe-me
alguns constrangimentos. Tenho um secretário-geral a quem devo todo o respeito,
a ele e aos 193 membros da ONU. No passado, em conversas informais, eu
costumava dizer "aquelas pessoas da ONU que trabalham entre o 36.° e o
38.° andar devem ser os melhores diplomatas do mundo porque têm de gerir as
sensibilidades, os interesses e os egos de todos os Estados membros. Não pode
haver diplomatas mais hábeis, porque têm de medir cada palavra". E se é
habitual os líderes cometerem gafes, é muito raro um funcionário da ONU cometer
uma gafe.
Já que fala da
Guiné-Bissau e da sua nomeação para mediador do conflito naquele país, a sua
amizade com o ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior não lhe provoca nenhum
tipo de constrangimento?
Bom, eu não diria
amizade, porque não conheço assim tão bem o dr. Carlos Gomes Júnior. Estive com
ele duas ou três vezes quando ele era primeiro-ministro. No plano pessoal, não
posso colocá-lo, por exemplo, ao nível da relação que tenho com Joaquim
Chissano, personalidade que conheço há mais de 30 anos...
Permita que insista
nos constrangimentos. Há apenas um mês subscreveu uma carta enviada ao novo
Presidente da China, apelando à libertação do Nobel da Paz, Liu Xiaobo. Está a
dizer que não voltará a ter esse tipo de tomadas de posição?
Se eu aceito
desempenhar uma função nas Nações Unidas, com o estatuto de secretário-geral
adjunto, não represento o José Ramos Horta, represento o secretário-geral.
Portanto não
voltará a assinar e a promover cartas desse género, nem a criticar o regime de
Pequim...
Enquanto me
mantiver nestas funções, não posso fazer nada a que não seja dada luz verde
pelo secretário-geral...
Mas é importante
que se saiba que eu tenho excelentes relações com a China. A China considera-me
um amigo. Mais. O meu filho, Loro Horta, é um respeitado especialista nesse
país. Ele tem três mestrados e um deles foi tirado na Universidade Militar de
Pequim - e com notas tão boas que lhe deram o título honorífico de coronel do
exército chinês. Agora, está a concluir o doutoramento em Singapura sobre a
doutrina naval chinesa. Fez, também, um mestrado na Universidade americana de
Monterrey, onde a sua tese, igualmente sobre a China, foi classificada como a
melhor do ano, na instituição... Tudo o resto é mero bom senso.
Admite concorrer ao
cargo de secretário-geral da ONU quando Ban Ki Moon terminar o segundo mandato,
no final de 2016?
Eu diria que essa
possibilidade está excluída. A não ser numa outra vida, na minha próxima
reencarnação - algo em que eu até acredito. Depois de Ban Ki Moon, um asiático,
os europeus vão digladiar-se em grande para que o cargo de secretário-geral
seja ocupado por um europeu. Vai ser muito interessante observar a cena!
(risos) E eu vou fazê-lo, à distância, com intenso prazer.
E pondera apoiar
algum candidato que entretanto surja?
Creio ser demasiado
cedo mas a Europa pode apresentar candidatos brilhantes. Um deles é José Manuel
Durão Barroso. Mas haverá outros candidatos. Os nórdicos, provavelmente, vão
querer novamente o lugar, os polacos também devem dizer que nunca houve um
secretário-geral da Europa de Leste...
Depois de três
décadas de luta por Timor-Leste, ainda há alguma causa que o mova para lutar
pelo poder?
Pelo poder não, mas
há causas que ainda me partem o coração! Por exemplo, a situação dos
palestinianos. Sessenta anos depois, continua sem haver uma solução? Vinte anos
depois dos acordos de Oslo, continuam a ver negado o seu direito a um Estado
palestiniano livre e independente, a viverem em paz com Israel? Eu fui o único
Chefe de Estado no mundo que teve a possibilidade de visitar em simultâneo, e
na mesma deslocação oficial, a Palestina e Israel. Nesse campo de minas
político, eu estava com imenso receio de cometer alguma gafe. Ainda por cima
tinha aceite dar duas conferências publicas, uma em cada território. E pensei:
vou fazer asneira, de certeza. Afinal, saí incólume e não detonei nenhuma mina
político-diplomática.
Dizer o que pensa
ainda o prejudica?
Já disse muitas
asneiras, ao longo da minha vida!
Há um mês, numa
entrevista à Al Jazeera, afirmou que tinha muitas dúvidas sobre se valia a pena
perder-se uma única vida humana para que um país atingisse a independência...
Já o tinha dito
antes, mais do que uma vez, em conferências. Nenhuma causa, nenhuma religião,
deveria justificar a morte. Mas nós sabemos que as pessoas aceitam morrer por
uma causa, por uma religião, sempre assim foi na história da humanidade. Eu
próprio perdi uma irmã e três irmãos [na guerra pela independência de
Timor-Leste]. A nós, os vivos, resta-nos saber honrar a memória deles e tudo
fazer para não trair essa memória. Caso contrário, para quê tantas mortes e
tantos sacrifícios?
D. Basílio do
Nascimento, bispo de Baucau, afirmou, recentemente, que o nepotismo e a
corrupção são os grandes problemas de Timor-Leste. Quer comentar?
Bom, em relação ao
nepotismo eu nem percebo. O Presidente não tem nenhum irmão, nenhum sobrinho,
nenhum primo ligado ao poder político ou empresarial. O primeiro-ministro
Xanana Gusmão também não tem nenhuma irmã, nenhum tio na alta chefia do Estado
ou das força armadas...
E quanto à
corrupção?
A International
Transparency, no seu último relatório, revelou que Timor-Leste está no bom
caminho e subiu 19 lugares no ranking. Criaram-se, no país, muitos instrumentos
e instituições de luta contra a corrupção que são quase um modelo em toda a
Ásia. Embora a mim, como ser humano, me fira o coração ver alguém ser punido,
temos de recordar que os tribunais timorenses condenaram a prisão uma ministra
da Justiça. Portanto, é preciso tirar o chapéu à justiça timorense! Por outro
lado, os dados mais recentes da ONU também demonstram que a pobreza está a
diminuir; a mortalidade infantil baixou para metade, nos últimos três ou quatro
anos; o caminho a percorrer ainda é longo mas acredito que os próximos cinco
anos vão ser de grande crescimento económico, num clima de paz e estabilidade.
Está, pois,
otimista em relação ao futuro imediato do seu país, apesar da retirada das
forças internacionais da ONU?
Sim. O país está
bem entregue, está em boas mãos. Nós temos líderes credíveis e eu estou muito
confiante.
Há pouco tempo, num
artigo de opinião publicado num diário indonésio, o Jakarta Post, escreveu que,
daqui a dez anos, metade dos timorenses falarão português. Timor é
indispensável para defender os interesses da Lusofonia na Ásia?
A língua não é uma
mera questão de geopolítica. É uma questão de identidade, da identidade
timorense. Temos uma história de 500 anos, aquilo que é hoje o povo timorense
resulta da colonização portuguesa e nós, os líderes timorenses, chegámos à
conclusão de que era necessário manter a língua portuguesa, apesar da
interrupção de 24 anos de colonização indonésia. Não foi uma tomada de posição
fácil, em 2000. Enfrentávamos os maiores desafios e a oposição de muita gente,
sobretudo dos anglófonos. A verdade é que o português já é falado por mais de
20% da população. Ironicamente mais do dobro da percentagem de timorenses que
falavam português em 1974. Timor-Leste independente fez mais pela língua
portuguesa do que o Portugal colonial até ao 25 de abril. Isto é um enorme
sucesso, é espetacular!
*Também publicado
em TIMOR LOROSAE NAÇÃO, onde pode ler ainda DESTERRO
EM TIMOR – A SAGA DA FAMÍLIA MIRANDA
1 comentário:
seu porco demoralizado estas gozar do sofremento dos Timorense que pagaram mais das suas vidas para libertar Timor tu es decentes dos brancos tu nao es Timor pure cobarde tal e qual como banana alkatiri sao traidores do patria do povo Timor PURO.. volta para a sua origem deonde o seu pais naseram. filho da puta..
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