sábado, 12 de janeiro de 2013

Greve dos médicos afeta grávidas e seropositivos no centro de Moçambique




AYAC – MSF - Lusa

Chimoio, 12 jan (Lusa) - Grávidas e seropositivos lamentam a "ineficiência do sistema de saúde" em Manica, centro de Moçambique, devido à greve dos médicos, que decorre desde a última segunda-feira, em reivindicação de melhores salários.

Entre murmúrios e aflição, Sandra Cadeado, ronda a cama para abrandar o choro do filho na ala pediátrica do Hospital Provincial de Chimoio (HPC), enquanto espera pelo atendimento médico, já quatro horas atrasado.

"A medicação é rigorosa, a sua prescrição geralmente depende da variação do peso e desde segunda-feira temos esperado várias horas pelo médico. Não sei que implicação isso terá na saúde do meu filho", desabafa Sandra Cadeado, que percebe a "mudança da rotina" no hospital.

As áreas de ginecologia-obstétrica, pediatria e urgências, as quais os médicos haviam assegurado que não seriam afetados pela greve, estão a atravessar "momentos críticos", segundo os utentes, que se veem com horários estendidos ou adiados para o atendimento.

Até sexta-feira, quinto dia consecutivo da greve, oito médicos haviam aderido na província de Manica. Destes, quatro são do HPC, que funciona com nove médicos moçambicanos, ou seja, quase metade dos médicos nacionais aderiu à greve no único hospital de referência na região.

Dos outros quatro médicos, dois são do distrito de Barué, com hospital de referência no norte de Manica, e os outros dois dos distritos de Guro e Machaze, únicos nestas zonas.

Manica conta com 40 médicos, dos quais 23 são moçambicanos e os restantes 17 estrangeiros. Nenhum médico estrangeiro aderiu à greve em Manica, embora a Associação Médica de Moçambique (AMM) tivesse apelado à sua adesão.

Em declarações à Lusa, o utente Luís Pedro, disse que a greve, embora sem um impacto muito grave, "veio fragilizar mais o atendimento já deficitário nas unidades sanitárias" criando um ambiente desconfortável entre os utentes do serviço "pelo tempo de espera nas filas, quer no banco de socorro ou nas enfermarias".

"Estou desde quarta-feira à espera da vacina do bebé recém-nascido, mas o médico não apareceu até agora. Várias outras mulheres estão na mesma situação. Espero que as implicações desta demora não se reflitam na saúde da criança no futuro", precisou Ermelinda Lucas.

Entretanto, o director provincial de Saúde de Manica, Juvenaldo Amos, considero "ínfimo" o impacto da greve dos médicos na província, apontando que as áreas chaves dos serviços de saúde, quer no hospital de referência, quer nos distritos, "estão asseguradas", mas a realidade sugere o contrário.

"Todos os médicos seniores e especialistas, independentemente de ocupar cargo de direção estão a trabalhar. O efeito da greve é ínfimo, por isso não houve necessidade de reforço", disse à Lusa Juvenaldo Amos, que mobilizou o pessoal técnico para a maior entrega.

A pressão que se exerce contra os poucos médicos em exercício, nas especialidades dos grevistas, Medicina e Ginecologia-obstétrica, é maior no Hospital Provincial de Chimoio (HPC), embora os serviços não tenham ficado "paralisados".

A governadora provincial, Ana Comoana, reuniu-se de emergência com os médicos na quinta-feira. A agenda não foi anunciada e na saída da reunião nenhuma das partes prestou declarações à imprensa.

Há 20 anos em Moçambique registou-se a greve geral dos funcionários de Saúde, que viria a semear um "caos" no sistema de saúde pública no país.

A greve dos médicos promete prosseguir por não ser ter chegado a um acordo entre grevistas e Governo.

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