AYAC – MSF - Lusa
Chimoio, 12 jan
(Lusa) - Grávidas e seropositivos lamentam a "ineficiência do sistema de
saúde" em Manica, centro de Moçambique, devido à greve dos médicos, que
decorre desde a última segunda-feira, em reivindicação de melhores salários.
Entre murmúrios e aflição,
Sandra Cadeado, ronda a cama para abrandar o choro do filho na ala pediátrica
do Hospital Provincial de Chimoio (HPC), enquanto espera pelo atendimento
médico, já quatro horas atrasado.
"A medicação é
rigorosa, a sua prescrição geralmente depende da variação do peso e desde
segunda-feira temos esperado várias horas pelo médico. Não sei que implicação
isso terá na saúde do meu filho", desabafa Sandra Cadeado, que percebe a
"mudança da rotina" no hospital.
As áreas de
ginecologia-obstétrica, pediatria e urgências, as quais os médicos haviam
assegurado que não seriam afetados pela greve, estão a atravessar
"momentos críticos", segundo os utentes, que se veem com horários
estendidos ou adiados para o atendimento.
Até sexta-feira,
quinto dia consecutivo da greve, oito médicos haviam aderido na província de
Manica. Destes, quatro são do HPC, que funciona com nove médicos moçambicanos,
ou seja, quase metade dos médicos nacionais aderiu à greve no único hospital de
referência na região.
Dos outros quatro
médicos, dois são do distrito de Barué, com hospital de referência no norte de
Manica, e os outros dois dos distritos de Guro e Machaze, únicos nestas zonas.
Manica conta com 40
médicos, dos quais 23 são moçambicanos e os restantes 17 estrangeiros. Nenhum
médico estrangeiro aderiu à greve em Manica, embora a Associação Médica de
Moçambique (AMM) tivesse apelado à sua adesão.
Em declarações à
Lusa, o utente Luís Pedro, disse que a greve, embora sem um impacto muito
grave, "veio fragilizar mais o atendimento já deficitário nas unidades
sanitárias" criando um ambiente desconfortável entre os utentes do serviço
"pelo tempo de espera nas filas, quer no banco de socorro ou nas
enfermarias".
"Estou desde
quarta-feira à espera da vacina do bebé recém-nascido, mas o médico não
apareceu até agora. Várias outras mulheres estão na mesma situação. Espero que
as implicações desta demora não se reflitam na saúde da criança no
futuro", precisou Ermelinda Lucas.
Entretanto, o
director provincial de Saúde de Manica, Juvenaldo Amos, considero
"ínfimo" o impacto da greve dos médicos na província, apontando que
as áreas chaves dos serviços de saúde, quer no hospital de referência, quer nos
distritos, "estão asseguradas", mas a realidade sugere o contrário.
"Todos os
médicos seniores e especialistas, independentemente de ocupar cargo de direção
estão a trabalhar. O efeito da greve é ínfimo, por isso não houve necessidade
de reforço", disse à Lusa Juvenaldo Amos, que mobilizou o pessoal técnico
para a maior entrega.
A pressão que se
exerce contra os poucos médicos em exercício, nas especialidades dos grevistas,
Medicina e Ginecologia-obstétrica, é maior no Hospital Provincial de Chimoio
(HPC), embora os serviços não tenham ficado "paralisados".
A governadora
provincial, Ana Comoana, reuniu-se de emergência com os médicos na
quinta-feira. A agenda não foi anunciada e na saída da reunião nenhuma das
partes prestou declarações à imprensa.
Há 20 anos em
Moçambique registou-se a greve geral dos funcionários de Saúde, que viria a
semear um "caos" no sistema de saúde pública no país.
A greve dos médicos
promete prosseguir por não ser ter chegado a um acordo entre grevistas e
Governo.
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