terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Portugal: CRESCER É A ÚNICA SOLUÇÃO




Eduardo Oliveira Silva – Público, opinião - foto Lusa

Vítor Gaspar é o elemento essencial a convencer dessa necessidade, dada a sua influência sobre Passos Coelho

"Quem não cresce, não paga." A frase foi proferida ontem, de forma discreta mas duas vezes seguidas, por Felipe González, na conferência dos 40 Anos do "Expresso".

De seguida, o ex-primeiro-ministro espanhol deu como exemplo a situação da Grécia, afirmando que, em 2010, se achava que o problema se resolvia com 30 mil milhões de euros, e agora verifica-se que 300 mil milhões não chegam.

Com estas duas observações, González conseguiu colocar de forma clara o problema dos países sob intervenção, como a Grécia, Portugal e a Irlanda, cujos exemplos podem perfeitamente aplicar-se também a outros Estados, como a Espanha, que está sob resgate bancário, ou os da ex-Europa de Leste, que também apresentam problemas gravíssimos.

Há, portanto, uma questão de fundo que ninguém está a conseguir resolver, pura e simplesmente porque não tem solução. Sem crescimento, não há hipótese de as economias recuperarem e de os países – e, por definição, as empresas – fazerem face aos seus encargos. Simples e linear.

A pouco e pouco vai-se instalando na Europa a convicção geral de que a austeridade e a política de cortes sucessivos levam à espiral recessiva de que falava Cavaco Silva na sua intervenção de fim de ano e que Durão Barroso também enfatizou ontem, reafirmando um distanciamento relativamente à política do governo de Lisboa.

Esta nova percepção é um primeiro resultado de um novo estado de espírito que François Hollande conseguiu colocar na agenda política europeia, retirando a visão unilateral dos governos que se convencionou (mal) chamar neoliberais e que dominam a Europa da União.

O discurso do crescimento e da necessidade de acelerar a economia está a ganhar espaço por todo o lado, e em Portugal também.

No seio do próprio governo de Passos Coelho, já se verifica a existência de pelo menos um ministro "desenvolvimentista", embora isolado, como é o caso de Álvaro Santos Pereira.

É bom que outros membros do governo tenham plena consciência de que, de facto, quem não cresce não vai conseguir pagar o que deve. Vítor Gaspar é o elemento essencial a convencer dessa evidência, dada a influência enorme que tem sobre o primeiro-ministro.
Esse relançamento passa, em primeira linha, por aumentar a procura interna e incrementar as exportações diversificando mercados, como ainda ontem acentuou Cavaco Silva.

Há, porém, um ponto essencial nas exportações. Não basta encontrar mercados novos. É preciso garantir o financiamento e o pagamento dos bens enviados, matéria sobre a qual pouco se tem falado mas que merece uma análise atenta, designadamente em relação ao mercado da América Latina e com especial incidência na Venezuela.

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