Eduardo Oliveira
Silva – Público, opinião - foto Lusa
Vítor Gaspar é o
elemento essencial a convencer dessa necessidade, dada a sua influência sobre
Passos Coelho
"Quem não
cresce, não paga." A frase foi proferida ontem, de forma discreta mas duas
vezes seguidas, por Felipe González, na conferência dos 40 Anos do
"Expresso".
De seguida, o ex-primeiro-ministro
espanhol deu como exemplo a situação da Grécia, afirmando que, em 2010, se
achava que o problema se resolvia com 30 mil milhões de euros, e agora
verifica-se que 300 mil milhões não chegam.
Com estas duas
observações, González conseguiu colocar de forma clara o problema dos países
sob intervenção, como a Grécia, Portugal e a Irlanda, cujos exemplos podem
perfeitamente aplicar-se também a outros Estados, como a Espanha, que está sob
resgate bancário, ou os da ex-Europa de Leste, que também apresentam problemas
gravíssimos.
Há, portanto, uma
questão de fundo que ninguém está a conseguir resolver, pura e simplesmente
porque não tem solução. Sem crescimento, não há hipótese de as economias
recuperarem e de os países – e, por definição, as empresas – fazerem face aos
seus encargos. Simples e linear.
A pouco e pouco
vai-se instalando na Europa a convicção geral de que a austeridade e a política
de cortes sucessivos levam à espiral recessiva de que falava Cavaco Silva na
sua intervenção de fim de ano e que Durão Barroso também enfatizou ontem,
reafirmando um distanciamento relativamente à política do governo de Lisboa.
Esta nova percepção
é um primeiro resultado de um novo estado de espírito que François Hollande
conseguiu colocar na agenda política europeia, retirando a visão unilateral dos
governos que se convencionou (mal) chamar neoliberais e que dominam a Europa da
União.
O discurso do
crescimento e da necessidade de acelerar a economia está a ganhar espaço por
todo o lado, e em Portugal também.
No seio do próprio
governo de Passos Coelho, já se verifica a existência de pelo menos um ministro
"desenvolvimentista", embora isolado, como é o caso de Álvaro Santos
Pereira.
É bom que outros
membros do governo tenham plena consciência de que, de facto, quem não cresce
não vai conseguir pagar o que deve. Vítor Gaspar é o elemento essencial a
convencer dessa evidência, dada a influência enorme que tem sobre o
primeiro-ministro.
Esse relançamento
passa, em primeira linha, por aumentar a procura interna e incrementar as
exportações diversificando mercados, como ainda ontem acentuou Cavaco Silva.
Há, porém, um ponto
essencial nas exportações. Não basta encontrar mercados novos. É preciso
garantir o financiamento e o pagamento dos bens enviados, matéria sobre a qual
pouco se tem falado mas que merece uma análise atenta, designadamente em
relação ao mercado da América Latina e com especial incidência na Venezuela.
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