Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
O violento ataque
dirigido pelo Governo contra os direitos sociais fundamentais dos portugueses
assenta numa campanha ideológica fascizante, num chorrilho de argumentos
manipulados e mentirosos, num determinismo perigoso e absolutamente
antidemocrático.
Trata-se de um
receituário venenoso para os objetivos de igualdade, solidariedade,
universalismo e dignidade humana que sustentam e dão sentido à democracia.
Urge denunciar os
seus objetivos, organizar a resistência e passar à ofensiva, com reposição de verdade
sobre as condições concretas de cada vetor do Estado social e sobre o seu papel
no desenvolvimento da sociedade.
Temos hoje mais
informação sobre o papel do Governo na produção da encomenda feita ao FMI.
Passos Coelho, Gaspar e Portas, e também os Moedas do Governo, não só
orientaram como municiaram - com manipulação e leituras enviesadas de dados
estatísticos - os seus colegas "mercenários" do FMI. Ficou-se a saber
que um destes, o espanhol Carlos Mulas, colabora nesta trapaça ao mesmo tempo
que propagandeia no Twitter campanhas contra a austeridade e os perigos da
destruição do Estado social.
É um escândalo!
Como é possível estes indivíduos instalados na gestão da coisa pública
afirmarem que o sistema da Segurança Social ou as transferências sociais são
elementos de desigualdade e de mais benefício aos ricos? Ou que pensões na
ordem dos 600 euros são pensões de ricos?
Os governantes e os
funcionários nacionais e estrangeiros que manipulam estudos para fabricar estas
conclusões deviam ser corridos e julgados por objetiva má-fé e atentado à
dignidade dos portugueses.
O Governo prossegue
na sua azáfama, embora cada vez mais isolado. Juntou meia dúzia de amigos no
Palácio Foz num paupérrimo e ridículo "debate" sobre "reformas
do Estado", enquanto o PSD e o CDS impõem uma Comissão Parlamentar
fantoche.
Entretanto, o Banco
de Portugal vai afirmando que é errado o caminho da austeridade e de ataque às
prestações sociais, demonstrando exatamente que no nosso país essas prestações
são mais orientadas para as pessoas de menores rendimentos do que na
generalidade dos países.
Infelizmente, nas
hostes do Partido Socialista as opiniões contraditórias em torno do futuro da
ADSE vieram dar uma ajudita ao Governo. Até deu para o sr. Relvas surgir a
autoconvencer-se de que o sujo nos outros o torna limpinho.
O futuro do Estado
social tem de ser discutido com realismo, transparência, verdade e com
participação da sociedade, mas isso só será possível, como aqui afirmei na
semana passada, no contexto da construção e formulação de políticas e de
governação verdadeiramente alternativas.
Dizem-nos o Governo
e os seus apoiantes que não há dinheiro e que temos uma despesa pública
excessiva.
Não há dinheiro
para quê e porquê?
Não há dinheiro
para garantir um mínimo de recursos a milhões de portugueses, mas alguns
continuam a enriquecer aceleradamente. Há milhares de milhões para cobrir
roubos privados na Banca e noutros setores, ou para recapitalizar a Banca. E
alimenta-se, sempre em nome do "interesse nacional", a exploração
desmedida que significa o Memorando e as políticas feitas a seu pretexto.
Sobre a despesa
pública, a manipulação e a mentira não são menores. Como está exposto no último Barómetro
das Crises * , a evolução da despesa pública em Portugal, em comparação
com a União Europeia (UE), mostra-nos que até final da década de 70 ela se
situava abaixo da média da UE, que houve um movimento de convergência nos anos
80 e 90 significando para nós um grande impulso de desenvolvimento, que em 2009
e 2010 tivemos as mesmas oscilações que a UE e que agora em 2011 e 2012, com as
políticas de austeridade, estamos a descer desse padrão médio, gerando mais
desigualdades, pobreza e bloqueio ao desenvolvimento.
Decisões erradas
sobre a despesa pública podem ter consequências de grande gravidade e
dificilmente revertíveis.
* O Barómetro das Crises é publicado pelo Observatório
sobre Crises e Alternativas, criado pelo Centro de Estudos Sociais da Univ.
Coimbra, em parceria com o Instituto para os Estudos Laborais da OIT.
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