Ana Gomes – Causa Nossa
O Parlamento grego
decidiu que o ex-ministro das Finanças Giorgos Papaconstantinou será ouvido
para responder às acusações de ter manipulado a apelidada "lista
Lagarde".
Papaconstantinou é suspeito de ter modificado a lista de cerca de 2000 nomes de
gregos com depósitos avultados no banco suíço HSBC não declarados ao fisco
grego.
A lista, entregue pela então Ministra das Finanças do Governo Sarkozy,
"perdeu-se" na altura, entre a gaveta do ministro e os corredores do
poder, tendo sido recriada por Evangelos Venizelos, sucessor de
Papaconstantinou.
As autoridades gregas, que pediram entretanto a lista original às autoridades
francesas, notaram que três nomes na lista original estavam ausentes da
oficiosa: o de uma prima de Papaconstantinou, do marido desta, e ainda da
mulher de outro primo do então ministro. Tudo em família, portanto.
O Parlamento e as autoridades gregas cedem assim à intensa pressão do povo
grego, que compreensivelmente não se conforma com a complacência das autoridades
para com os milhares de milhões criminalmente evadidos ao fisco pelas suas
elites, enquanto vê o seu nível de vida degradar-se drasticamente e a economia
do país arrasada, após anos de austeridade imposta pela Europa e pelo FMI.
E em Portugal?
Poucos parecem preocupar-se em saber se o Governo português recebeu ou não
também a sua "lista Lagarde" (eu enviei duas cartas a Christine
Lagarde sobre o assunto - vd abaixo).
Mas sabemos que o Ministro Teixeira dos Santos teve acesso à lista de
portugueses com contas parqueadas no Liechtenstein.
Em vez de serem tornadas publicas estas listas - tal como pedi na altura a
Teixeira dos Santos, e também a Vitor Gaspar (vd abaixo) - continuamos sem
saber que diligências tomou o Estado português para recuperar esses activos que
tanta falta fazem ao erário público. Se é que tomou alguma.
Sabemos também que, em virtude do acordo de troca de informação fiscal
celebrado com a Suíça, Portugal poderia ter acesso às contas de portugueses em
bancos naquele país, informação imprescindível para o Ministério Público poder
agir com processos-crime.
Mas não: o Governo de Passos Coelho preferiu, com o RERT III, oferecer amnistia
fiscal a todos os evasores, garantindo-lhes sigilo no que respeita à sua
identidade e origem dos capitais, mediante o pagamento de uma taxa de...7,5%!!!
o que muitos fizeram, convenientemente, antes de o Acordo com a Suíça entrar em
vigor.
Como aparentemente fez Ricardo Salgado, o CEO do BES, que, segundo o Jornal I
de ontem, invoca "esquecimento" para não ter declarado ao fisco a
bagatela de 8.5 milhões de capitais próprios...
Segundo o "Sol" de 21.12.12 "Ricardo Salgado foi prestar
declarações no processo Monte Branco, esta terça-feira, para esclarecer milhões
de euros que colocou no estrangeiro até 2010 e que não declarara ao Fisco.
Trata-se de capitais movimentados para fora de Portugal através dos serviços da
Akoya Asset Management, fundada em 2009, e do seu líder, o suíço Michel
Canals".
A Akoya é considerada a maior rede de fraude fiscal e de branqueamento de
capitais que operou em Portugal. Por acaso conta entre os seus accionistas o
Sr. Álvaro Sobrinho, da Newshold que quer fazer negócio com o Ministro Miguel
Relvas e comprar a RTP (vd D.Economico de 28.12.12) Tudo imaculado, está bem de
ver.
Segundo o Jornal I, o esquecido banqueiro Salgado teve de corrigir por diversas
vezes a declaração de IRS que fez em 2011 e por isso terá acabado por pagar 4,5
milhoes de euros.
Claro que tudo isto só se sabe porque o MP abriu a investigação "Monte
Branco" e topou que o Dr. Salgado e a Akoya tinham relações...
O que continua a não se saber é quanto o Dr. Salgado poupou por ter transferido
tudo o que transferiu para o exterior, durante anos, sem nada declarar ao
Estado, só corrigindo quando foi apanhado pelo MP e, presume-se, pagando apenas
7,5% de imposto, taxa para proteger os ricos evasores fiscais no esquema
engendrado no OE 2012 pelo Governo de Passos/Gaspar/Portas e Paulo Nuncio, o
Secretário de Estado do Tesouro - e do CDS/PP - especialista na matéria.
Mas não era elementar, até para a credibilidade e descanso do BES, que o Dr.
Salgado explicasse a que montante depositado no exterior corresponde a quantia
de 4,5 milhoes que pagou ao fisco, em correcção do seus
"esquecimentos"?
E não era elementar que o Governo prestasse contas aos portugueses sobre as
quantias que o Estado cobrou e deixou de cobrar, ao deixar corrigir os
"esquecimentos" do banqueiro Salgado? E que montante afinal deixou
que ele mantivesse a bom recato em cofres no exterior do país? E com que justificação,
quando sobrecarrega violentamente os contribuintes que nunca se
"esqueceram" de pagar impostos e que ganham o que o Dr. Salgado pode
gastar em amendoins?
É que quando o Estado impõe os níveis confiscatórios e iníquos de impostos que
Gaspar/Coelho/Portas impuseram este ano às classes médias e pobres, era
elementar tornar transparentes as doçuras por eles oferecidas ao banqueiro
Salgado...
Carta a Teixeira Santos: http://www.anagomes.eu/PublicDocs/5c2d7dc4-0c28-47aa-b7c0-967a30208be6.pdf
Carta a Vitor Gaspar: http://www.anagomes.eu/PublicDocs/8ca362d1-55fb-4ba3-bf9e-fc8a8ec46d27.pdf
Sem comentários:
Enviar um comentário