Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Nunca votei em Mário
Soares. Muitas vezes discordei dele, outras concordei. Muitas vezes o
considerei um adversário, outras um aliado. Muitas vezes me surpreendeu
positivamente, outras desiludiu-me. Sei dos ódios e das paixões que
provoca. O que apenas quer dizer que não se limitou a passar pela vida e fez
diferença. Para o mal e para o bem. Discordando e concordando com ele, respeito
a sua história e a sua coragem.
Mário Soares foi
hospitalizado. Esperemos, espero pelo menos eu, que não seja nada de grave.
Ao ler os
comentários que pululam na Net perante à notícia da sua
hospitalização tentei não me chocar em demasia. A Net não se limita a revelar o
melhor e o pior da condição humana. A revelar coisas que nos parecem ser
impensáveis. Ela amplifica, pela possibilidade do anonimato da opinião, os mais
abjectos dos sentimentos. Na realidade, como sempre soubemos - dos bufos
aos linchadores -, o anonimato sempre permitiu que os constrangimentos sociais
e morais desaparecessem e a escória humana se exibisse sem pudor.
Um dos comentários
mais habituais foi a crítica ao facto de Mário Soares ter sido hospitalizado no
Hospital da Luz. Um hospital privado. Seria, escreveram vários, sinal de
incoerência. Mas nem todos os que escreveram eram anónimos. José Manuel
Fernandes, antigo diretor do "Público", escreveu no seu twitter:
"O dr. Mário Soares não deveria ter ido para um hospital do SNS para dar o
exemplo? É só para saber, nada mais."
Não vou aqui
elaborar sobre o direito de qualquer cidadão se bater pelos serviços públicos e
usar, se assim entender, serviços privados. Não é o momento. O que me choca, o
que me deixa mesmo próximo do vómito, é alguém aproveitar um momento destes
para fazer combate político. Quem aproveita a hospitalização de um homem para
o combate político, quem aproveita a fragilidade física de um adversário para o
atacar, tem apenas um nome: é um cobarde. E com cobardes não se debate.
Desprezam-se apenas.
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