terça-feira, 23 de abril de 2013

A DEFESA DA EUROPA




Diário de Notícias, editorial

O discurso do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, perante um grupo de reflexão política em Bruxelas, é bem um sinal dos tempos. Quem diria que, 27 anos após a adesão dos países ibéricos à CEE, fosse necessário ouvir da boca de um dos dirigentes de topo das instituições europeias a afirmação categórica que os portugueses - e demais países periféricos do euro - não são mandriões nem incompetentes. Este é o legado de três anos de preconceitos, servidos em doses maciças às suas opiniões públicas, por políticos populistas nos países mais ricos do Norte da Europa, para justificar a pressão acrescida de austeridade sobre a periferia e a criação de bodes expiatórios externos perante as próprias dificuldades.

Dizer que este ou aquele povo é isto ou aquilo é meio caminho andado para cavar fossos de desconfiança, que podem um dia transformar-se em inimizade e confronto. Foi justamente contra esta forma de pensamento reducionista e maniqueísta que os fundadores de uma Europa Unida empreenderam a jornada mais ambiciosa entre todas: a abertura recíproca entre todos os povos da Europa ao conhecimento profundo uns dos outros, à cooperação e solidariedade, para ajudar os menos prósperos a aproximar-se de um modo de vida de alta qualidade, pacífico, aberto ao mundo e ponto de referência.

Os estragos causados a este património e a este ideal, devido à crise atual, são enormes. Ouvir o ministro das Finanças em Berlim afirmar que os críticos da atual política germânica têm é inveja da Alemanha seria qualquer coisa de impensável antes da reunificação e, mesmo, até há escassos anos. A substância do problema reside no facto de se ter chegado a um impasse na austeridade a todo o custo e o mais profunda que os povos consigam aguentar.

Todo o mundo já o diz e agora até uma alta figura política de uma das instituições da troika: é preciso parar com o aprofundamento da austeridade e passar a mobilizar as forças industriosas dos povos para a revitalização das suas economias. Sem isso, a Zona Euro não sairá da recessão, nem se corrigirão os desequilíbrios provocados pelo sobreendividamento dos particulares e dos Estados.

Os trabalhos de Giorgio

Giorgio Napolitano está quase a completar 88 anos. Mas mesmo assim, para não se agravar a crise política em Itália, aceitou uma inédita eleição no seu país para um segundo mandato como Chefe do Estado. Ao que se sabe, a sua vontade era reformar-se, até porque presidentes com mais idade só mesmo o israelita Peres e o zimbaweano Mugabe.

A falta de entendimento entre os partidos que gerou o fracasso na escolha de um sucessor para Napolitano é também a razão da incapacidade para se formar governo, apesar de as legislativas terem ocorrido há quase dois meses. Por isso muito trabalho terá o velho líder pela frente.

Na tomada de posse, Napolitano fez questão de relembrar que a sua reeleição foi excecional. Acusou os partidos de irresponsabilidade e apelou à formação de um governo para que seja possível levar a cabo as reformas tão necessárias à terceira economia da Zona Euro. É importante que as suas sábias palavras sejam ouvidas.

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