Diário de Notícias,
editorial
O discurso do
presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, perante um grupo de reflexão
política em Bruxelas, é bem um sinal dos tempos. Quem diria que, 27 anos após a
adesão dos países ibéricos à CEE, fosse necessário ouvir da boca de um dos
dirigentes de topo das instituições europeias a afirmação categórica que os
portugueses - e demais países periféricos do euro - não são mandriões nem
incompetentes. Este é o legado de três anos de preconceitos, servidos em doses
maciças às suas opiniões públicas, por políticos populistas nos países mais
ricos do Norte da Europa, para justificar a pressão acrescida de austeridade
sobre a periferia e a criação de bodes expiatórios externos perante as próprias
dificuldades.
Dizer que este ou
aquele povo é isto ou aquilo é meio caminho andado para cavar fossos de
desconfiança, que podem um dia transformar-se em inimizade e confronto. Foi
justamente contra esta forma de pensamento reducionista e maniqueísta que os
fundadores de uma Europa Unida empreenderam a jornada mais ambiciosa entre
todas: a abertura recíproca entre todos os povos da Europa ao conhecimento
profundo uns dos outros, à cooperação e solidariedade, para ajudar os menos
prósperos a aproximar-se de um modo de vida de alta qualidade, pacífico, aberto
ao mundo e ponto de referência.
Os estragos
causados a este património e a este ideal, devido à crise atual, são enormes.
Ouvir o ministro das Finanças em Berlim afirmar que os críticos da atual
política germânica têm é inveja da Alemanha seria qualquer coisa de impensável
antes da reunificação e, mesmo, até há escassos anos. A substância do problema
reside no facto de se ter chegado a um impasse na austeridade a todo o custo e
o mais profunda que os povos consigam aguentar.
Todo o mundo já o
diz e agora até uma alta figura política de uma das instituições da troika: é
preciso parar com o aprofundamento da austeridade e passar a mobilizar as
forças industriosas dos povos para a revitalização das suas economias. Sem
isso, a Zona Euro não sairá da recessão, nem se corrigirão os desequilíbrios
provocados pelo sobreendividamento dos particulares e dos Estados.
Os trabalhos de
Giorgio
Giorgio Napolitano
está quase a completar 88 anos. Mas mesmo assim, para não se agravar a crise
política em Itália, aceitou uma inédita eleição no seu país para um segundo
mandato como Chefe do Estado. Ao que se sabe, a sua vontade era reformar-se,
até porque presidentes com mais idade só mesmo o israelita Peres e o zimbaweano
Mugabe.
A falta de
entendimento entre os partidos que gerou o fracasso na escolha de um sucessor
para Napolitano é também a razão da incapacidade para se formar governo, apesar
de as legislativas terem ocorrido há quase dois meses. Por isso muito trabalho
terá o velho líder pela frente.
Na tomada de posse,
Napolitano fez questão de relembrar que a sua reeleição foi excecional. Acusou
os partidos de irresponsabilidade e apelou à formação de um governo para que
seja possível levar a cabo as reformas tão necessárias à terceira economia da
Zona Euro. É importante que as suas sábias palavras sejam ouvidas.
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