Pragmatismo Político
Folha financiava
operações na ditadura e Frias era amigo de Fleury. Detalhes sobre o caso
conhecido como ‘chacina da Lapa’ indicam a participação do dono da Folha de
S. Paulo e de outros empresários no apoio à repressão
O ex-delegado da
Polícia Civil Claudio Guerra (23) fez uma série de revelações nesta terça-feira
(23), em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, sobre
episódios da ditadura militar. Detalhou o caso conhecido como ‘chacina da Lapa’
e tratou da participação do dono da Folha de S.Paulo e de outros empresários no apoio financeiro à repressão.
O ex-delegado da
Polícia Civil Claudio Guerra afirmou nesta terça-feira (23), à Comissão
Municipal da Verdade de São Paulo, que foi o autor da explosão de uma bomba no
jornal O Estado de S.Paulo, na década de 1980, e afirmou que a ditadura, a
partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo
de desmoralizar a esquerda no País.
“Depois de 1980
ficou decidido que seria desencadeada em todo o País uma série de atentados
para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, disse o
ex-delegado em entrevista ao vereador Natalini (PV), que foi ao Espírito Santo
conversar com Guerra.
No depoimento,
Guerra afirmou que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do
Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão.
Entre suas
atividades na cidade de São Paulo, Guerra afirmou ter feito pelo menos três
execuções a pedido do SNI. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando
fomos ver datas e locais que fiz a execução”, afirmou o ex-delegado, dizendo
que, mesmo para ele, as ações eram secretas.
Guerra falou também
do Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, a quem acusou
de tortura e assassinatos. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais
ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores
da ditadura, segundo ele)”, acusou.
O ex-delegado disse
também que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os
líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em
1976.
“Eu estava na cobertura,
fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não
teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá
foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.
Guerra disse que
recebia da irmandade “por determinadas operações bônus em dinheiro”. O
ex-delegado afirmou que os recursos vinham de bancos, como o Banco Mercantil do
Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo.
“Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS (Departamento de Ordem
Política e Social), era amigo pessoal de Fleury”, afirmou.
Segundo ele, a
irmandade teria garantido que antigos membros até hoje tivessem uma boa
situação financeira.
‘Enterrar estava
dando problema’
Segundo Guerra, os
mortos pelo regime passaram a ser cremados, e não mais enterrados, a partir de
1973, para evitar “problemas”. “Enterrar estava dando problema e a partir de
1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em
Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.
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