terça-feira, 23 de abril de 2013

Guiné-Bissau: O FIM DO NARCO-ESTADO




Faustino Henrique – Jornal de Angola, opinião

A forma como a Guiné-Bissau está a transformar-se num narco-Estado preocupa a comunidade internacional, o continente africano e as organizações em que aquele Estado se encontra inserido.

A Guiné-Bissau está para a África Ocidental o que a Somália está para o outro extremo do continente, no que à degradação da situação política interna diz respeito motivada por factores diferentes. São duas situações que se mostravam como irremediáveis perante a União Africana numa altura em que se encaminham para abismo como Estados falhados. O plano da MISSANG era, para a Guiné-Bissau, como a última tentativa para, através da reforma dos sectores de defesa e segurança, se normalizar a vida política na Guiné-Bissau.

Os militares deram conta de que seria um perigo para a sua classe qualquer eventualidade de reforma das forças armadas que obrigasse a um papel de subordinação completa dos militares perante o poder político democraticamente eleito.

O golpe militar que tinha afastado do poder o Presidente Raimundo Pereira e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, foi, acima de tudo, uma infeliz e bem sucedida tentativa para inviabilizar a normalização da situação política naquele país.

O envolvimento dos militares no tráfico da droga deu a altas figuras militares da Guiné-Bissau o controlo do poder político. Com o beneplácito da CEDEAO, que deu luz verde ao novo estado de coisas produzido pelo golpe militar de Abril de 2012. Os militares guineenses foram bem sucedidos no controlo do aparelho de Estado para continuarem com o tráfico de drogas. O período de transição, abertamente propalado pelos militares e apoiado pela CEDAEO, era apenas mais uma manobra de diversão através da qual os militares continuariam a manietar o Governo de transição liderado por uma figura que, curiosamente, está também a ser implicado em esquemas de tráfico de droga. A solução tinha que passar  por uma intervenção estrangeira ou o aumento de pressão como consequência das provas que resultasse na detenção de, pelo menos, uma figura da alta-roda militar envolvida no tráfico. De outro modo, todo um continente continuava a observar, sem grandes opções para reverter o curso da degradação política e militar em que se encaminhava a Guiné-Bissau.

Para muitos, os contornos da situação por que passava a Guiné-Bissau tinha que conhecer uma etapa que determinasse o princípio do fim do estado de coisas naquele país. A detenção do almirante José Américo “Bubo Na Tchuto” era a gota necessária para fazer transbordar o copo da água.

A operação da agência anti-narcotráfico norte-americana (DEA) levou à detenção, a 4 de Abril, do contra-almirante Bubo na Tchuto e outros cidadãos guineenses, pode ser o prenúncio da solução do problema do tráfico de droga, da instabilidade política e militar. A detenção de Bubo Na Tchuto gerou as mais diversas reacções, uma situação a que as autoridades guineenses estão alheias por razões conhecidas. Não tendo um controlo efectivo do território, não estão em condições de determinar em que circunstâncias o almirante foi detido. Em todo o caso, as autoridades americanas já declararam que a operação foi feita em águas internacionais, um argumento contrariado pelo porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Daba Naualna, citado pela imprensa do seu país, mostrou-se convencido de que Bubo Na Tchuto foi levado para as águas internacionais através de outros meios. O homem de confiança de António Indjai disse que “não era possível o próprio deslocar-se até às águas internacionais com um bote porque se afogaria. Agora onde a detenção terá sido efectuada? Seguramente no território da Guiné-Bissau”.

O silêncio do Governo da Guiné-Bissau pode ser interpretado como sintomático de um poder político que não tem o pleno controlo do Estado que diz governar. No fundo, a maior preocupação radica no depoimento que Bubo Na Tchuto e os outros detidos poderão fazer, numa altura em que relatórios recentes chegavam a implicar o presidente interino, Sherifo Nhamadjo como um dos beneficiários do tráfico da droga. Outra figura que se declarou sempre como inocente, tendo exigido provas, foi o actual chefe do Estado-Maior General das forças armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, agora acusado pelas autoridades americanas de tráfico de droga e de armas.

De acordo com o documento que indicia António Indjai, o alto oficial guineense terá participado numa conspiração para fornecer armas à guerrilha colombiana das FARC, da Colômbia, considerada terrorista pelos EUA, e terá usado a sua posição no topo da hierarquia militar guineense para fazer passar pelo país terroristas e narcotraficantes.

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