Faustino Henrique –
Jornal de Angola, opinião
A forma como a
Guiné-Bissau está a transformar-se num narco-Estado preocupa a comunidade
internacional, o continente africano e as organizações em que aquele Estado se
encontra inserido.
A Guiné-Bissau está
para a África Ocidental o que a Somália está para o outro extremo do
continente, no que à degradação da situação política interna diz respeito
motivada por factores diferentes. São duas situações que se mostravam como
irremediáveis perante a União Africana numa altura em que se encaminham para
abismo como Estados falhados. O plano da MISSANG era, para a Guiné-Bissau, como
a última tentativa para, através da reforma dos sectores de defesa e segurança,
se normalizar a vida política na Guiné-Bissau.
Os militares deram conta de que seria um perigo para a sua classe qualquer
eventualidade de reforma das forças armadas que obrigasse a um papel de
subordinação completa dos militares perante o poder político democraticamente
eleito.
O golpe militar que tinha afastado do poder o Presidente Raimundo Pereira e o
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, foi, acima de tudo, uma infeliz e bem
sucedida tentativa para inviabilizar a normalização da situação política
naquele país.
O envolvimento dos militares no tráfico da droga deu a altas figuras militares
da Guiné-Bissau o controlo do poder político. Com o beneplácito da CEDEAO, que
deu luz verde ao novo estado de coisas produzido pelo golpe militar de Abril de
2012. Os militares guineenses foram bem sucedidos no controlo do aparelho de
Estado para continuarem com o tráfico de drogas. O período de transição,
abertamente propalado pelos militares e apoiado pela CEDAEO, era apenas mais
uma manobra de diversão através da qual os militares continuariam a manietar o
Governo de transição liderado por uma figura que, curiosamente, está também a
ser implicado em esquemas de tráfico de droga. A solução tinha que passar
por uma intervenção estrangeira ou o aumento de pressão como consequência das
provas que resultasse na detenção de, pelo menos, uma figura da alta-roda
militar envolvida no tráfico. De outro modo, todo um continente continuava a
observar, sem grandes opções para reverter o curso da degradação política e
militar em que se encaminhava a Guiné-Bissau.
Para muitos, os contornos da situação por que passava a Guiné-Bissau tinha que
conhecer uma etapa que determinasse o princípio do fim do estado de coisas
naquele país. A detenção do almirante José Américo “Bubo Na Tchuto” era a gota
necessária para fazer transbordar o copo da água.
A operação da agência anti-narcotráfico norte-americana (DEA) levou à detenção,
a 4 de Abril, do contra-almirante Bubo na Tchuto e outros cidadãos guineenses,
pode ser o prenúncio da solução do problema do tráfico de droga, da
instabilidade política e militar. A detenção de Bubo Na Tchuto gerou as mais
diversas reacções, uma situação a que as autoridades guineenses estão alheias
por razões conhecidas. Não tendo um controlo efectivo do território, não estão
em condições de determinar em que circunstâncias o almirante foi detido. Em
todo o caso, as autoridades americanas já declararam que a operação foi feita
em águas internacionais, um argumento contrariado pelo porta-voz do
Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Daba Naualna, citado
pela imprensa do seu país, mostrou-se convencido de que Bubo Na Tchuto foi
levado para as águas internacionais através de outros meios. O homem de
confiança de António Indjai disse que “não era possível o próprio deslocar-se
até às águas internacionais com um bote porque se afogaria. Agora onde a
detenção terá sido efectuada? Seguramente no território da Guiné-Bissau”.
O silêncio do Governo da Guiné-Bissau pode ser interpretado como sintomático de
um poder político que não tem o pleno controlo do Estado que diz governar. No
fundo, a maior preocupação radica no depoimento que Bubo Na Tchuto e os outros
detidos poderão fazer, numa altura em que relatórios recentes chegavam a
implicar o presidente interino, Sherifo Nhamadjo como um dos beneficiários do
tráfico da droga. Outra figura que se declarou sempre como inocente, tendo
exigido provas, foi o actual chefe do Estado-Maior General das forças armadas
da Guiné-Bissau, António Indjai, agora acusado pelas autoridades americanas de
tráfico de droga e de armas.
De acordo com o documento que indicia António Indjai, o alto oficial guineense
terá participado numa conspiração para fornecer armas à guerrilha colombiana
das FARC, da Colômbia, considerada terrorista pelos EUA, e terá usado a sua
posição no topo da hierarquia militar guineense para fazer passar pelo país terroristas
e narcotraficantes.
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