Tomás Vasques –
Jornal i, opinião
O que é que o
governo acertou já com a troika, nos últimos dias, às escondidas, para precisar
assim tanto do “amparo” do PS e dos parceiros sociais?
O governo dedicou a
semana passada à “procura de consenso”, conceito vago com o qual, ao que diz,
pretende chamar o maior partido da oposição e “os parceiros sociais” para darem
o seu assentimento às drásticas medidas a anunciar até ao final de Maio. De um
momento para o outro, o primeiro- -ministro convidou o líder do maior partido
da oposição para uma reunião, o que não é hábito. António José Seguro, no
entanto, saiu do encontro como entrou, afirmando que não lhe tinha sido dito
“nada de novo”. A meio da semana, numa conferência de imprensa, os ministros
presentes, com destaque para Poiares Maduro, a nova aquisição governativa,
desfizeram-se em múltiplas declarações sobre a disponibilidade de um “consenso”
com a oposição. Finalmente, no debate quinzenal, no parlamento, na sexta-feira,
Passos Coelho anunciou um conselho de ministros para aprovar “uma estratégia de
crescimento e de fomento industrial”, prometendo que “posteriormente vai ser
discutida com os partidos políticos e com os parceiros sociais.” Sabendo quanto
a palavra crescimento está arredada do dicionário do governo, podemos concluir
que há aqui reconhecimento de más opções, se não for uma mera encenação.
A necessidade de
envolver, agora, o PS nas duras medidas que aí vêm explica-se com os resultados
destes dois anos. Para trás, está o insucesso das políticas do todo-poderoso
ministro das Finanças, cobertas pelo primeiro-ministro, desde a tomada de
posse. A sua política de “austeridade custe o custar”, “ir para além da troika”
e “nem mais tempo, nem mais dinheiro” levou a maioria dos portugueses a um
empobrecimento geral, dramático em muitos casos, em troca de nada. Não foram
obtidos resultados positivos. Nenhuma meta foi atingida pela estratégia de
Vítor Gaspar. Nem a menina dos olhos: o défice orçamental. É preciso lembrar,
para termos a noção do fracasso, que estava inicialmente previsto, no memorando
com a troika, assinado em 2011, alcançarmos no final deste ano um défice de 3%.
O ano passado foi de 6,4% e este ano, pelo andar da carruagem, não ficará muito
longe deste valor. Em consequência, o que está para a frente parece ainda pior.
Tudo se conjuga para o aumento das dificuldades: a execução do orçamento de
“guerra” deste ano, para responder ao insucesso do ano passado, não augura nada
de bom; o acordo com a troika de cortar 4 milhões de euros nas despesas do
Estado, nas áreas da Saúde, Educação e Segurança Social; o despedimento de
milhares de funcionários públicos e os cortes que substituam a
inconstitucionalidade das normas do orçamento. A fuga para o “consenso”, agora
ensaiada, surge como a única tábua de salvação para um governo sem
credibilidade, nem “força anímica” para resolver os problemas de Portugal e dos
portugueses.
Nesta altura, quase
a completar dois anos de governo, só o desespero político e o instinto de
sobrevivência levam Passos Coelho a procurar um “consenso” com o PS, quando
durante todo este tempo ainda não conseguiu obter um consenso com Paulo Portas,
seu parceiro de coligação. Nem Vítor Gaspar, nem Passos Coelho se disponibilizariam
para obter “consensos”, dispondo de maioria absoluta no parlamento, se não
estivessem com a corda ao pescoço. Um dos exemplos mais recentes que ilustram a
cosmética destes “pedidos de namoro” do governo foi o que se passou com a
encenação à volta do “debate da reforma do Estado”: à socapa, o governo
combinou com a troika um corte nas despesas do Estado e procurou, sem êxito,
envolver os socialistas na manigância. Agora, a pergunta é: o que é que o
governo acertou já com a troika, nos últimos dias, às escondidas, para precisar
assim tanto do “amparo” do PS e dos parceiros sociais? Coisa boa não deve ser.
Jurista - Escreve à
segunda-feira
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