Deutsche Welle
A FLEC lamenta que
as autoridades de Angola não tenham até hoje respondido às inúmeras
solicitações feitas para um diálogo sobre a independência de Cabinda.
Num comunicado a
FLEC, Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, diz que existe um bloqueio
político à volta do tema "paz para Cabinda". Nesse documento acusa o
Governo de José Eduardo dos Santos de "querer a guerra e jamais um
processo de diálogo".
A DW África entrevistou
o presidente da FLEC, Nzita Tiago, sobre Cabinda.
DW África: A
solução para o probelma de Cabinda parece estar muito longe. Que
obstáculos precisam ainda de ser removidos?
Nzita Tiago: Os
Governos angolano e português é que têm o remédio para curar a doença do povo
de Cabinda. Porque isso, os portugueses sabem muito bem que Cabinda na
Conferência de Berlim de 1885 os cabindas voluntariamente pediram a proteção do Governo português.
Durante todo esse tempo Cabinda é considerado protetorado português.
E numa das conferências no Cairo, Egipto, os chefes de Estado de África quando
fizeram o mapa dos territórios que deveriam ter a sua independência
deram a Cabinda o número 39 e a Angola 35. Foi previsto que Cabinda deveria ter
a sua independência à parte.
DW África: Mas
isso já não aconteceu? A independência de Angola já foi há muitos anos e a
situação continua. Comunicados da FLECdizem que Cabinda continua a viver
uma situação extremamente difícil. O que a FLEC exige neste momento?
NT: Proponho
que haja uma mesa redonda, temos de nos sentar com os angolanos à mesa.
DW África:
Para quê?
NT: Vamos
colocar questões que dizem respeito à soberania cabindense.
DW África: Nomeadamente?
NT: Para que
haja paz em Cabinda e que o reconhecimento do direito do povo de Cabinda seja
oficializado. Então o Sudão hoje não está dividido? Nós conhecemos o antigo
Congo belga, Ruanda eBurundi. Os belgas quando deram a independência ao Congo
belga não obrigaram aos ruandeses eburundeses a estarem anexados no Congo.
DW África: Que
resposta recebeu das autoridades de Angola?
NT: Absolutamente
nenhuma.
DW África: E a FLEC enviou
um mensageiro com a proposta a José Eduardo dos Santos?
NT: A pessoa
que transportou a correspondência chama-se Lalgi Belchior,
professor da Universidade em Cabinda. E não tenho qualquer resposta já passam
dois anos. Se provarem que Cabinda é Angola não vamos criar problemas.
DW África: Mas
algumas informações veiculadas pela imprensa dizem que o presidente Nzita Tiago
talvez seja o obstáculo a paz em Cabinda. O que responde a esta tese?
NT: Mas então
obstáculo a paz é a pessoa que quer negociar? Eu sou o fundador da FLEC,
das forças armadas cabindesas. Qual é a pessoa que eles apresentam que não
cria obstáculos, para nós terminarmos com a situação?
DW África: O
presidente da FLEC tem uma visão da paz para Angola?
NT: Primeiro a
paz para Cabinda, isso é o que Nzita Tiago quer. Porque a paz em
Angola não depende de Cabinda.
DW África: E
enquanto a situação em Cabinda não for esclarecida ou solucionada, como aFLEC vai
continuar a agir?
NT: Deus é que
sabe e o povo de Cabinda saberá dar as soluções. Se acontecer alguma coisa na
região, eles, angolanos, é que vão pagar e serão os culpados.
DW África: Se
compreendemos bem, isso quer dizer que a FLEC neste momento não atuamilitarmente?
NT: A FLEC dá
tempo aos angolanos de poderem refletir, de avançarem rapidamente, para
podermos negociar.
DW África: A FLEC tem
apoios políticos no terreno?
NT: Quando
digo que temos de sentar a mesa não quero dizer que Nzita Tiago é que se vai
sentar a mesa sozinho com os angolanos. Se não querem se sentar com a FLEC que
organizem um referendo popular em Cabinda.
DW África:
Para que seria o referendo?
NT: Seria para
perguntar se Angola é Cabinda ou não.
DW África:
Será que a comunidade internacional tem ouvido bem as vossas
reivindicações?
NT: Quando
digo a comunidade internacional, refiro-me a ONU, União Africana e outras
organizações. Nós os cabinda é que devemos trabalhar para obrigar a esses, que
tiram de lá o petróleo, e que não querem dar ouvidos ao sofrimento do povo de
Cabinda. Os americanos tiram petróleo lá, não fazem parte da comunidade internacional?
Não estão em Cabinda? Lá na fronteira do CongoBrazaville os franceses
estão a tirar o petróleo, não estão a ver o que se passa lá? Os chineses estão
lá a tirar o ouro e não perguntam porque há muitas tropas angolanas?
DW África:
Então quer dizer que a comunidade internacional não se debruça como
devia sobre a questão de Cabinda?
NT: A
comunidade internacional quer sacrificar o povo de Cabinda, mas o
povo de Cabinda não se vai deixar sacrificar.
Leia também em
Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário