Fernando Peixeiro,
da agência Lusa
Bissau, 26 mai
(Lusa) - Bucari Baldé chegou duas vezes à Europa e foi expulso. Por isso
investiu a vida numa "oficina de bambo" em Santa Luzia, em Bissau, e
sonha fazer uma grande exposição de mobiliário em bambu. "A Europa só de
férias".
É sem mágoa que fala
das duas tentativas de emigrar, uma para a Bélgica e outra para Portugal, o
jovem de 34 anos que há quase 20 trabalha o bambu. "Gosto muito deste
trabalho", diz à Lusa, na oficina que fica junto da estrada de Santa
Luzia.
São quatro,
contando com ele. Trabalham todos os dias, em cadeiras, mesas, camas, armários
ou sofás, das formas e modelos que o cliente queira. Esvanecido o sonho Europa,
Bucari quer um dia fazer uma exposição da arte que trabalha, e se possível
abrir uma loja.
Clientes não faltam
à "oficina de bambo", como diz um letreiro pendurado na parede da
barraca onde se guardam os materiais. Porque o trabalho é feito mesmo na rua, à
sombra das árvores, que até seria saudável não fosse o constante passar de
automóveis.
"O grosso da
minha clientela são os estrangeiros mas agora também os guineenses se começam a
interessar pelo meu trabalho, os jovens com emprego, aqueles que trabalham nos
bancos", conta.
E dos estrangeiros,
diz, há os que compram para levar para os seus países, mas também os que compram
para mobilar as casas que tenham em Bissau. "Os angolanos (da missão
militar) que cá estavam em cada semana compravam dois ou três jogos para levar
para a sua terra".
Na oficina fazem
"de tudo um pouco". Diz Bucari que antigamente fazia mais estantes
mas que agora os pedidos são sobretudo de cadeiras. "Não fiz desde o ano
passado mais do que três estantes", diz, enquanto aponta um "jogo de
sala de jantar" que pode estar pronto numa semana se se concentrarem os
quatro.
O desenho é tirado
de revistas ou conforme o pedido do cliente, que "às vezes traz coisas que
viu na internet". "Eu faço qualquer trabalho de bambu que quiseres,
qualquer, posso fazer uma cama, não há nada que não possa fazer com
bambu", garante o jovem, que dá garantia de dois anos para qualquer peça.
Mas a qualidade do
trabalho não se compadece com as dificuldades do país. "Dizes um preço a
um cliente e ele pede logo para baixares", queixa-se, exemplificando com
um jogo de sala de jantar, pelo qual pede 290 euros e que chega a vender por
menos 45. Ainda assim, admite: "dá para assegurarmos as nossas
vidas".
Mas Bucari Baldé
tem outras queixas. O material é comprado na região de Tombali (sul), com cada
vara das mais grossas a custar 150 francos (22 cêntimos). E depois paga
impostos no transporte para Bissau e na oficina também não falta quem vá cobrar
mais dinheiro.
Bucari é da região
de Quebo, sul da Guiné-Bissau. Um dia, há 17 anos, viajou para Bissau para
tirar o bilhete de identidade e foi ficando pela oficina que na altura era do
irmão.
Ganhou o gosto pela arte, sonhou com a Europa, acordou à beira da
estrada de Santa Luzia e aí voltou a sonhar. Uma exposição e uma loja, que a
Europa só se for de férias.
FP/MB // VM
Sem comentários:
Enviar um comentário