José Goulão –
Jornal de Angola, opinião - 3 de Maio, 2013
Para a comunidade
não eleita que governa a União Europeia em regime de ditadura económica e
financeira, o 1º de Maio deixou de ser o dia do trabalhador, nem sequer daquela
versão insidiosa e mansa que é a de “colaborador”, mas sim o dia do escravo.
Não vale a pena
andar às voltas, é assim que eles nos olham por muito que queiram convencer-nos
– e alguns até a eles próprios, pobres deles – que não é assim, tratam apenas
do bem comum.
Claro, há milhões que saem às ruas em todo o mundo, na Europa também,
proclamando as suas razões, fazendo-se ouvir, protestando de viva voz e a
plenos pulmões. Dir-se-á então que a democracia funciona, os cidadãos exercem
os seus direitos, apresentam as suas reivindicações.
E durante? E depois, o que acontece? Durante, o exército silencioso e macabro
dos novos bufos, capazes de achincalhar a capacidade de antevisão de Orwell,
rastreiam até as formigas para encherem com os nossos rostos, palavras e gestos
gavetas electrónicas sem fundo de um estratosférico ficheiro global, porque se
somos cidadãos, e nos assumimos como tal, somos portanto potenciais
terroristas, inimigos do mercado, competindo-nos depois provar o contrário. A
doutrina da presumível inocência explica-se de uma maneira e pratica-se de
outra.
Durante e depois dos protestos a comunidade governante não eleita continua a
reunir-se, a decidir, a mandar, a ignorar o que se passa, sabendo nós que
quando ela trabalha, até no dia ainda oficialmente designado “do trabalhador”,
é para cometer malfeitorias contra os trabalhadores. Por absurdo, admitamos que
o regime governante não é uma ditadura económica e financeira para imposição de
modernas formas de escravatura.
E que um dia a austeridade desabrocha em crescimento económico ainda que na
forma dolorosa de figos da Índia. O êxito dever-se-á, explicarão os nossos
governantes, ao triunfo da competitividade.
E o que é a competitividade, meus amigos? Pôr-nos a produzir em todo o mundo
aos custos mais baixos que ainda subsistem em algum lugar do planeta, ou mesmo
mais reduzidos.
Competitividade é a arte de fazer os nossos salários e direitos tenderem para
zero à custa do nivelamento da actividade laboral por tudo quanto de mais reles
e desumano existe. À custa, também, de nivelar os países onde ainda resiste um
Estado social por aqueles onde foi extinto ou jamais existiu.
Podem chamar o que quiserem a esta situação, mas não encontrarão vocábulo mais
adequado do que “escravatura”.
Não podemos retirar razão ao ministro português Gaspar quando, do alto da sua
impunidade, diz que não foi eleito “por coisíssima nenhuma”.
Ele está mesmo convencido disso e a realidade envolvente não o desmente. A
União Europeia e os países membros não são governados em democracia, essa é a
verdade.
Por isso, no 1º de Maio a luta dos trabalhadores foi pela restauração da
democracia. Como em Portugal há 39 anos e antes disso. A comunidade governante
e não eleita da União Europeia tem que sentir que além de não ser impune também
é punível.
Sem comentários:
Enviar um comentário