Temos presos
políticos! Cenário em S.Paulo, sob brutalidade da polícia, truculência do
governador e omissão do prefeito em que votei
Marília Moschkovich
– Outras Palavras - Foto: Ninja
Na segunda-feira,
dia 10 de junho, expliquei aos meus alunos do primeiro ano do ensino médio: o
Estado detém o monopólio legítimo sobre o uso da violência física. Mal sabia eu
que no dia seguinte o Estado, essa supra-organização fundamentada na dominação
racional (já diria Weber) daria um exemplo claro da minha explicação, nas ruas
da cidade onde nasci, cresci e participei de manifestações.
Venho de uma
família de militantes. Aprendi desde bem cedo que ir às ruas causa mudanças
sociais, incomoda. Aprendi também que ir às ruas é, no Brasil e em
qualquer lugar do mundo, colocar a sua própria segurança e integridade física
em jogo. É uma troca. Nos colocamos vulneráveis ali porque a causa é
maior. A causa pode ser o direito à cidade, o direito de ir e vir, o fim de um
regime autoritário ou eleições diretas. É uma causa sempre maior do
que julgamos ser nossa segurança pessoal, individual.
[Aos que ainda não
aprenderam, que fique claro: cidadania não tem nada de “individual”.
“Individual” é direito do consumidor. Cidadania é necessariamente coletivo.]
Cidadania é a
coragem de arriscar sua individualidade pelo bem-estar do maior número de
pessoas o possível. O risco que protestar representa à segurança dos
indivíduos felizmente nunca fez ninguém deixar de exercer a própria
cidadania. Mesmo nos tempos em que ela foi proibida.
Esse é um dos
melhores motivos para no indignarmos com o que aconteceu em São Paulo no dia 11
de junho, e com o que está acontecendo hoje, dia 13 (apenas dois dias depois).
Para saber mais, recomendo a
cobertura da Fórum, a cobertura
em tempo real da Folha (apesar dos pesares), o incrível tumblr “O que não sai na TV”, a cobertura
da Agência Pública de
notícias em seu Facebook e, claro, a página do Movimento Passe Livre.
Um resumo dos fatos
poderia ser o seguinte: temos presos políticos. O fato de termos,
nesse momento da história do Brasil, presos políticos, diz muito sobre a
relação entre Estado e cidadania que estamos vivendo. Jornalistas,
trabalhadores e estudantes foram deliberadamente encarcerados no dia
11. Mesmo com alvará de soltura de dois presos, eles foram transferidos para
presídios, dificultando a liberação. Fianças desproporcionais foram
estabelecidas. Na manifestação marcada para hoje, estima-se que 60 pessoas
tenham sido presas na primeira hora de concentração (ou seja, antes mesmo de
começar a manifestação), entre elas um jornalista da Carta Capital. Sessenta
cidadãos e cidadãs foram detidos pela possibilidade de haver protestos. Líderes
do movimento estão sendo investigados pela Abin com base em atuação nas redes
sociais e alguns foram caçados e presos no ato agora há pouco, pelo que
informam os manifestantes.
Aí eu pergunto: que
porra é essa? Que porra é essa?
Em 2013
precisaremos cobrir o rosto para que a polícia não nos filme, como já avisou
por meios dos jornais que faria? Precisaremos combinar local de manifestações
no boca-a-boca, usando codinomes, como se fazia durante o regime militar? Foi
pra isso que centenas de pessoas arriscaram sua segurança, sua integridade
física e suas vidas durante a ditadura?
Minha mãe, meus
professores, meus heróis e heroínas foram presos, torturados, mortos para que
eu pudesse ter o direito constitucional de me manifestar numa democracia. A PM
corrupta (mantida corrupta e mantida no poder pelo PSDB que ocupa o governo do
estado há 20 anos) empoderada pela ausência e omissão do prefeito em quem eu
votei e pra quem fiz campanha, está jogando esse direito no
lixo. Está fazendo pouco com a nossa cara. Está impedindo o exercício da
cidadania.
Como bem disse o
blogueiro no “Esquema”, essa luta obviamente não é mais sobre 20 centavos (leia
aqui). Assim como a luta em Istambul não é sobre o Parque Gezi. Assim como
a luta em Belo Monte não é (e nunca foi) sobre uma usina hidrelétrica.
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