Polémica quanto ao
ingresso, ao estatuto de membro pleno da CPLP, da Guiné Equatorial, país
governado desde 1979 pelo presidente Teodoro Obiang Mbasogo. Portugal mostra-se ainda como a única nação membro da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) contrária ao ingresso da Guiné Equatorial como membro
pleno de direito da entidade lusófona.
O presidente da
República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, tem manifestado contrariedade à
entrada da Guiné Equatorial na CPLP. E o vice primeiro-ministro português, o
antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo Portas, tem declarado ao
secretário executivo da CPLP, embaixador Murade Murargy, a “inconveniência” de
seus pronunciamentos públicos a favor da adesão do país africano presidido
desde 1979 por Teodoro Obiang Mbasogo.
Portas alegou que o
assunto da adesão da Guiné Equatorial – que possui já o estatuto de país
observador da CPLP – não é encarado de forma unânime pelos Estados membros da
organização e, por isso, a Comunidade deve adotar uma atitude neutral quanto às
diferentes opiniões das nações que dela fazem parte.
A decisão final
quanto à adesão da Guiné Equatorial ao organismo das nações lusófonas promete
ser dada na Cimeira da CPLP em Díli, Timor-Leste, em 2014.
As autoridades da
Guiné Equatorial têm manifestado expectativas pouco usuais no sentido de uma
decisão favorável a seu ingresso na CPLP. Diversas altas autoridades de Angola,
São Tomé e Príncipe, Moçambique e Guiné-Bissau têm se declarado a favor da
adesão da Guiné Equatorial. O governo brasileiro também não oferece obstáculos
à adesão, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que aparentemente
ligou-se à Guiné Equatorial por interesses privados – também declarou-se
favorável à causa do ingresso da Guiné Equatorial.
O governo de Cabo
Verde declarava-se de início contrário à adesão, mas foi convencido pelas
promessas do presidente Teodoro Obiang, como a de que os primeiros
especialistas a serem chamados para o ensino e a disseminação da Língua
Portuguesa entre a população equato-guineense seriam professores
cabo-verdianos. Assim, embora o presidente José Carlos Fonseca tenha se
mostrado reticente quanto às pretensões da Guiné Equatorial, o governo
cabo-verdiano passou a ser favorável ao ingresso. Apenas Portugal permanece com
a posição contrária.
A Guiné Equatorial
comprometeu-se a colocar a Língua Portuguesa como oficial, ao lado do espanhol
e do francês – como foi feito através de decreto aprovado pela Assembleia
Nacional em Malabo em outubro de 2011. Mas há reservas pelo facto de o
português não ser a Língua materna de pelo menos parte da população e também
pela ausência do uso da Língua pelos próprios meios de comunicação oficiais do
país.
As reservas de
Portugal – e também de muitas associações civis dos países lusófonos – à Guiné
Equatorial apoiam-se também sobre questões de princípios, como a má reputação
internacional do país africano quanto ao respeito aos direitos humanos e às
liberdades democráticas.
Embaixada em Lisboa
– e novos problemas externos
O ministro dos Assuntos Exteriores e Cooperação da Guiné Equatorial, Agapito Mba Mokuy, visitou Lisboa em julho deste ano, sendo recebido por seu homólogo da República Portuguesa, Rui Machete, com o objetivo de definir a escolha e aquisição de um edifício para abrigar a embaixada do país africano na capital portuguesa.
Em agosto, José
Dougan Chubum tornou-se o primeiro embaixador da Guiné Equatorial em Portugal,
ao apresentar suas credenciais ao presidente Cavaco Silva. Dougan Chubum também
foi nomeado pelo governo de Malabo para ser acreditado junto da CPLP, nos
esforços para convencer Portugal quanto à adesão plena à Comunidade lusófona.
Para complicar a
imagem do país africano no exterior, o segundo vice-presidente da Guiné
Equatorial, Teodoro Obiang Mangue, vulgo “Teodorín” (filho do presidente
Obiang), é alvo de mandados judiciais internacionais vindos de países como
Estados Unidos da América, Brasil e França, por corrupção e aquisição ilícita
de património. A Justiça francesa chegou a confiscar a “Teodorín” diversos bens
pessoais de vulto, como imóveis e automóveis de luxo.
Chikoti: “A
adesão da Guiné Equatorial à CPLP depende dela própria”
O ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, disse, na terça-feira, dia 3 de setembro, em Lisboa, que a eventual aprovação da adesão da Guiné Equatorial dependerá do cumprimento dos requisitos exigidos.
“Não tem sido muito
consensual a forma como podemos acomodar a Guiné Equatorial na CPLP”, disse
Chikoti. O chanceler angolano ainda acrescentou que a solução da questão
depende também do cumprimento do plano de ação preparado pela CPLP para a
adesão plena. Nesse sentido, disse esperar que aquele país africano faça “mais
progressos internos para satisfazer a vontade de todos os membros da CPLP”.
“Se ela puder se
adaptar a este plano, provando que de facto agora é um país onde se fala o
português, e que de facto o português está institucionalizado, os países da
CPLP poderão apoiar” a integração no organismo lusófono, adiantou Chikoti.
Segundo o chefe da
diplomacia angolana, os problemas quanto à violação dos direitos humanos não
são uma questão decisiva para a inviabilização da entrada da Guiné Equatorial
na CPLP, apesar de aparecer na Constituição equato-guineense a pena de morte.
“Vamos olhar para o
plano de ação da CPLP, pois, além da Constituição que institui a Língua
Portuguesa como Língua oficial, é fundamental que a Guiné Equatorial dedique
algum esforço na aprendizagem da Língua Portuguesa”, disse Georges Chikoti, em
declarações feitas na capital portuguesa durante encontro com Carlos Bayan
Ferreira, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola.
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