domingo, 8 de setembro de 2013

Moçambique: O GOVERNO DAS BOAS INTENÇÕES

 

Verdade (mz) - Editorial
 
Todos já ouvimos, em algumas ocasiões, o adágio segundo o qual “de boas intenções o inferno está cheio”, elucidando-nos que não basta ficar no uso da palavra, é preciso que se coloque em prática as intenções ou o plano de acções. Pela sua essência, o ditado popular supracitado encaixa que nem uma luva para o Governo moçambicano, pois já é sabido, por experiência, que o executivo de Armando Guebuza é um dos governos mais bem intencionados que já vimos neste país. Só nos espanta o facto de nenhuma universidade moçambicana não ter ainda concedido o título de “Doutor Honoris Causa” em matéria de boas intenções.
 
A verdade seja dita: o nosso Governo é muito bem intencionado. Pelo menos é isso que deixa transparecer no dia-a-dia, porém, nunca o vimos a agir. O executivo moçambicano passa o tempo a celebrar intenções, ao invés de comemorar realizações. A título de exemplo, o leitor lembra-se da famigerada Revolução Verde e da Jatropha? E do subsídio à cesta básica? Na verdade, não passaram de meras intenções. A população continua a viver a pão e água, sem cuidados básicos de saúde, sem transporte e, pior, a ser tratada como besta de carga. A lista das “boas” intenções é actualizada diariamente, a cada decreto aprovado nos habituais encontros da terça-feira para melhorar isto e aquilo, e também nos discursos de combate à pobreza absoluta proferidos nas Presidências Abertas.
 
Celebrar intenções é, sem dúvida, uma estratégia desesperada de um regime incompetente que medra à custa do suor e ignorância da população. É estratégia de um Governo sem programa de governação que vive à mercê de um golpe de sorte e teme que os moçambicanos descubram os seus pés de barro. É, na verdade, uma atitude mesquinha de um Governo sem políticas sociais e económicas concretas e eficazes para tirar o povo da pobreza extrema a que é forçado a viver. Durante sensivelmente 10 anos, assistimos a um Governo que as vezes que agiu acabou por chover no molhado, além disso, não fez nada que não fosse sua obrigação como servidor do povo.
 
O Governo limitou-se à difundir informações segundo as quais a história recente de Moçambique é um exemplo raro de crescimento, quando, na verdade, alguns dos principais alicerces do crescimento económico têm vindo a abrandar com o tempo. O crescimento do país nos últimos anos concentrou-se nos megaprojectos detidos por estrangeiros, com forte concentração de capital e orientados para a exportação, ou seja, a maioria da população continua pobre.
 
Portanto, um Governo que passa a vida a celebrar intenções não deve merecer, de forma alguma, o apoio do seu povo, sobretudo quando esse mesmo Governo ignora os esforços da população na luta pelo sustento diário. Como moçambicanos e contribuintes, não devemos aceitar que uma minoria, por sinal corrupta, continue a dirigir os nossos destinos, delapidando os nossos recursos. Não devemos permitir que o nosso país continue a ser visto como uma das mais infame das rameiras sobre o planeta terra por causa de meia dúzia de pessoas que estão na origem de toda a injustiça estrutural em Moçambique.
 

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