Verdade (mz) - Editorial
Todos já ouvimos,
em algumas ocasiões, o adágio segundo o qual “de boas intenções o inferno está
cheio”, elucidando-nos que não basta ficar no uso da palavra, é preciso que se
coloque em prática as intenções ou o plano de acções. Pela sua essência, o ditado
popular supracitado encaixa que nem uma luva para o Governo moçambicano, pois
já é sabido, por experiência, que o executivo de Armando Guebuza é um dos
governos mais bem intencionados que já vimos neste país. Só nos espanta o facto
de nenhuma universidade moçambicana não ter ainda concedido o título de “Doutor
Honoris Causa” em matéria de boas intenções.
A verdade seja
dita: o nosso Governo é muito bem intencionado. Pelo menos é isso que deixa
transparecer no dia-a-dia, porém, nunca o vimos a agir. O executivo moçambicano
passa o tempo a celebrar intenções, ao invés de comemorar realizações. A título
de exemplo, o leitor lembra-se da famigerada Revolução Verde e da Jatropha? E
do subsídio à cesta básica? Na verdade, não passaram de meras intenções. A população
continua a viver a pão e água, sem cuidados básicos de saúde, sem transporte e,
pior, a ser tratada como besta de carga. A lista das “boas” intenções é
actualizada diariamente, a cada decreto aprovado nos habituais encontros da
terça-feira para melhorar isto e aquilo, e também nos discursos de combate à
pobreza absoluta proferidos nas Presidências Abertas.
Celebrar intenções
é, sem dúvida, uma estratégia desesperada de um regime incompetente que medra à
custa do suor e ignorância da população. É estratégia de um Governo sem
programa de governação que vive à mercê de um golpe de sorte e teme que os
moçambicanos descubram os seus pés de barro. É, na verdade, uma atitude
mesquinha de um Governo sem políticas sociais e económicas concretas e eficazes
para tirar o povo da pobreza extrema a que é forçado a viver. Durante
sensivelmente 10 anos, assistimos a um Governo que as vezes que agiu acabou por
chover no molhado, além disso, não fez nada que não fosse sua obrigação como
servidor do povo.
O Governo limitou-se
à difundir informações segundo as quais a história recente de Moçambique é um
exemplo raro de crescimento, quando, na verdade, alguns dos principais
alicerces do crescimento económico têm vindo a abrandar com o tempo. O
crescimento do país nos últimos anos concentrou-se nos megaprojectos detidos
por estrangeiros, com forte concentração de capital e orientados para a
exportação, ou seja, a maioria da população continua pobre.
Portanto, um
Governo que passa a vida a celebrar intenções não deve merecer, de forma
alguma, o apoio do seu povo, sobretudo quando esse mesmo Governo ignora os
esforços da população na luta pelo sustento diário. Como moçambicanos e
contribuintes, não devemos aceitar que uma minoria, por sinal corrupta,
continue a dirigir os nossos destinos, delapidando os nossos recursos. Não
devemos permitir que o nosso país continue a ser visto como uma das mais infame
das rameiras sobre o planeta terra por causa de meia dúzia de pessoas que estão
na origem de toda a injustiça estrutural em Moçambique.
Sem comentários:
Enviar um comentário