segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Angola: VICENTE NÃO CONSEGUE LAVAR IMAGEM DO EXECUTIVO NA ONU

 


Folha 8 – edição 1161 – 05 outubro 2013
 
O vice-pres­idente de Angola reconhe­ceu na As­sembleia Geral da ONU, que, “apesar de a economia estar no caminho certo”, ainda “muito há a fazer para atingir os Objec­tivos de Desenvolvimento do Milénio”. Não foi a acei­tação do fracasso mas es­teve próximo disso. Desde logo porque se há algum país que tem tudo para ter êxito, esse país é (ou deve­ria ser) Angola.
 
Manuel Vicente garantiu, em Nova Iorque, que o seu Governo está “consciente desse desafio” e “continua a desenvolver programas para reduzir as desigual­dades sociais existentes”.
 
Ou seja, o Governo sub­verteu os objectivos e em vez de trabalhar para os milhões que têm pouco ou nada está, assumidamente, a trabalhar para os poucos que têm milhões. A seu fa­vor, reconheça-se, joga o exemplo de ter conseguido que uma humilde cidadã, que começou a vender ovos nas ruas de Luanda, seja hoje multimilionária e a mulher mais rica de África.
 
Nas palavras do “número dois” de Angola, o país “vive actualmente um período de consolidação das suas instituições democráticas e do Esta­do de Direito”, enquanto aposta na “consolidação da estabilidade macroe­conómica”, o que justifica a adesão ao “programa de países elegíveis a deixar­em a categoria dos menos desenvolvidos”.
 
Manuel Vicente esque­ceu-se de dizer que, se­gundo o Presidente, a democracia “foi imposta” e que, por isso, falar de consolidação das insti­tuições democráticas é uma treta. Basta, aliás, ver o desrespeito pelos direi­tos humanos, a corrupção e a tentativa violenta de limitar a liberdade de expressão à verdade ofi­cial. Desta forma, falar de um Estado de Direito é a mais ignóbil tentativa de passar um atestado de “matumbez” a um Povo que é grado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com a bar­riga… vazia.
 
No discurso, desviando estrategicamente o cerne da questão, Manuel Vi­cente abordou ainda o estado da paz e segurança internacionais, manife­stando “preocupação face à escalada de violência que está a ter lugar no Egipto” e à crise humani­tária resultante do con­flito na Síria.
 
Como se Angola fosse um caso menor e acessório, recordou o persistente conflito israelo-palestini­ano, manifestando o apoio de Angola ao direito à au­todeterminação do povo sarauí, instando Marrocos a negociar à mesa inter­nacional, e classificou o bloqueio internacional a Cuba como “uma violação do Direito Internacional”.
 
Desconhecendo, o que fica sempre bem, que os conselhos dados a Mar­rocos se aplicam que nem uma luva a Angola no caso de Cabinda, Manuel Vicente continuou a sua análise internacional, fa­lando de cátedra para um auditório petroliferamente submisso.
 
Saudando “a normalização legal e constitucional em alguns países africanos, que, após períodos de in­stabilidade, foram bem sucedidos na realização de eleições livres e justas”, como o Mali, Manuel Vi­cente salientou também os “desenvolvimentos positivos” em países onde a “instabilidade se man­tém”, como é o caso da Guiné-Bissau. “Apelamos à comunidade internacional que apoie os esforços em curso nesses países para atingirem a paz e a estabili­dade”, disse.
 
“Reiteramos a importân­cia de revitalizar o sistema das Nações Unidas, par­ticularmente reformando o Conselho de Segurança, que deve reflectir uma representação justa de to­das as regiões, aumentando o número de membros permanentes”, sustentou, reafirmando a candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança, na eleição que terá lugar na próxima sessão da Assembleia Geral.
 
Os Objectivos de Desen­volvimento do Milénio são oito metas internacionais estabelecidas em 2000, no termo da Cimeira do Milénio das Nações Uni­das, com a adopção da Declaração do Milénio das Nações Unidas sub­scrita na altura por todos os Estados-membros da ONU e pelo menos 23 or­ganizações internacionais, com o compromisso do seu cumprimento até 2015.
 
A pouco mais de dois anos do limite estabelecido, An­gola, assim parece (apenas parece), cumpriu o primei­ro, ao reduzir para metade a percentagem da popu­lação afectada pela fome e subnutrição.
 
O próprio ministro Afonso Pedro Canga destaca que o Governo angolano está a dar passos significativos no que se refere ao cum­primento do compromisso de combater a fome e a subnutrição, proeza que se deve “à visão estra­tégica do Chefe do Estado, José Eduardo dos Santos, que elegeu a segurança ali­mentar, o combate à fome, à pobreza e o desenvolvi­mento rural como priori­dades”.
 
As Nações Unidas, por exemplo, sabem que para alcançar estes resultados o Governo, sempre sob a superior e divina égide do Presidente, implementou (dizem) um conjunto de programas nos domínios social e económico-produ­tivo, especificamente nos sectores da agricultura, pescas, indústria, empre­go, construção de infra-estruturas, transportes, comércio, desminagem, saúde, assistência social, educação e ensino, for­mação profissional, assim como uma boa (seria mais correcto dizer excelente) governação, que se traduz na gestão cuidada dos re­cursos públicos, factor que – não dizem eles mas dize­mos nós – conseguiu colo­car o nosso país nos últi­mos lugares da corrupção. Nos últimos lugares se, esclareça-se, estivermos a ver a lista ao contrário.
 
Para Afonso Canga, os êxi­tos alcançados encorajam (como se isso fosse preci­so) o Governo a prosseguir com mais dinamismo e de­terminação nos esforços de reconstrução nacional, visando satisfazer as ne­cessidades e as aspirações justas dos angolanos, em particular, o direito à ali­mentação.
 
“O Executivo angolano, liderado pelo engenheiro José Eduardo dos Santos, vem aumentando, anu­almente, os orçamentos destinados à segurança ali­mentar e nutrição, à saúde, à educação, à assistência social e ao combate à po­breza”, diz o ministro, sub­linhando que a produção alimentar tem conhecido aumentos, os níveis de emprego têm subido, os índices de pobreza estão a reduzir e a esperança de vida dos angolanos está a aumentar.
 

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