Verdade (mz) -
editorial
É a triste sina dos
moçambicanos nos dias que correm. Não há medicamentos e as pessoas estão
entregues à sua própria sorte. Falta tudo. É um mal geral em todo o país. As
farmácias estatais, hospitais, postos e centros de saúde não têm medicamentos.
Paradoxalmente, as farmácias privadas, onde comprar custa muito dinheiro, têm
tudo o que se procura. Num país acostumado a urdir esquemas no esgoto da
sacanice é preciso desconfiar. Contudo, o mais perigoso é o silêncio cúmplice
da imprensa. E aqui, diga-se, não escapa nenhum órgão de informação. Estão
todos na mesma panela.
O que faz correr a
imprensa é o escândalo e não o bem-estar dos moçambicanos. E isso é
extremamente mau para as nossas necessidades colectivas. Damos mais importância
a um pretenso caso de corrupção, mas viramos os olhos para o lado quando o país
é açoitado por uma calamidade natural. Não há antirretrovirais e ninguém diz
nada. Estamos aqui à espera de um incidente político ou que a Renamo dispare
uns quantos tiros em Sathunjira. A falta de medicamentos é pouca coisa. Não há
tiros, mas há muito mais mortos. Anónimos, sim, mas resultam desse nosso
silêncio repugnante.
Um país de cidadãos
dignos e no qual a cidadania é um valor supremo o ser humano não morre açoitado
pelo silêncio de 22 milhões de cúmplices. Nós, sem excepção, somos culpados
desta “carnificina”. O nosso maior problema enquanto moçambicanos reside no
descaso em relação ao outro. Enquanto o estado de coisas não mexer com o nosso
mundinho, não tocar no nosso carro topo de gama e continuarmos a ser assistidos
em clínicas privadas, os moçambicanos deste extenso país podem morrer. Não
importa. Só nos importamos com o escândalo imediato.
Mas é complicado
dizer a alguém que come o que lhe dá na gana que há milhões de outros
compatriotas a morrer à fome e/ou de doenças curáveis. Ninguém quer saber dos
Iciduas da vida ou da falta de água em Chigubo. Isso não vende e nem causa
repulsa. Interessa mais a corrupção de um punhado de gente do que as condições
de sobrevivência da maioria.
Este foi, pois,
muito mais do que um editorial, um lamento. O mundo, infelizmente, continua a
ser um lugar preferencialmente para biltres e para bestas. No Moçambique de
hoje, ser solidário, olhar para o próximo, partilhar e sacrificar-se pelo bem
comum, não é importante. E não o é porque, salvo raras excepções, este país
transformou-se no ninho de gente sem escrúpulos, para cobardes, para incultos,
para fanáticos. Dificilmente a solidariedade teria lugar no meio de tanto
lixo...
Sem comentários:
Enviar um comentário