domingo, 24 de novembro de 2013

RESGATES COM SENTIDO DE VIDA! – I

 
 
Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Angola tem trilhado, de há pouco mais de meio século até aos nossos dias, um caminho de resgate e libertação, que nunca é demais lembrar e fazer constar:
 
Do alfobre de escravatura e colonialismo de há quatro/cinco séculos, os povos africanos, no caso angolano de armas na mão por que não houve outra alternativa, sacudiram a opressão e assumiram-se independentes e soberanos, apesar das sucessivas conjunturas adversas e dos imensos obstáculos!
 
No caso angolano a independência ocorreu entre o troar dos canhões, há 38 anos, em plena década de 70 do século XX, mas era apenas uma etapa que se haveria de vencer.
 
O fascismo-colonialismo português acabava de ser derrotado em Angola, mas outra luta teve de se travar logo de seguida: na África do Sul e dominando a região, estava instalado um regime fascista e opressor, como o do “apartheid”, tão opressor que colonizava a Namíbia, contra as decisões da ONU, ameaçava os povos que haviam saído vencedores sobre os restos da colonização e suas sequelas e impunham um regime de segregação racial, tisnado pelos pseudo-estados a que denominavam de “bantustões”, que só eles reconheciam!
 
Na própria operação da CIA contra Angola, em Quifangondo, estiveram presentes armas desse regime: um grupo de artilharia que haveria de, às pressas, ser retirado da frente de combate!
 
Também esse regime foi vencido através duma luta de enormes proporções ocorrida principalmente durante a década de 80 do século XX e independentes o Zimbabwe e a Namíbia, pela primeira vez se tornou possível na África do Sul instalar a democracia representativa na base de 1 homem / 1 voto!
 
2 – As sequelas para os países libertos que haviam constituído a Linha da Frente, teimosamente continuaram a fazer-se sentir!
 
No caso angolano, por causa dos imensos interesses externos coligados ao “lobby” dos minerais com influência decisiva até no Partido Democrata dos Estados Unidos, foi imposta a “guerra dos diamantes de sangue”, que se espalhou em toda a região até aos Grandes Lagos e continuidade no oeste africano, na Serra Leoa e na Libéria!
 
Face ao desespero dos intervenientes da agressão com base na disputa das riquezas do continente, no rescaldo dum episódio como o holocausto do Ruanda, também nesse caso não houve outra alternativa senão, de armas na mão, dar resposta aos resíduos do fascismo, do colonialismo, do “apartheid” e daqueles que impõem tensões, conflitos e guerras a fim de melhor poderem explorar as riquezas do continente, ao longo da década de 90 e princípios do século XXI!
 
3 – Em 2002 finalmente em Angola houve a oportunidade para, ao se vencerem e verem removidos os obstáculos do fascismo, do colonialismo, do “apartheid” e de algumas das suas sequelas, instaurar um clima de ausência de tiros, que possibilitava a reconciliação e a reconstrução nacional, instaurando um modelo ainda que precário de democracia representativa, de economia de mercado e de paz possível!
 
Desde que as guerras foram ultrapassadas que as imensas tarefas da reconciliação e da reconstrução nacional se começaram a desenvolver em Angola!
 
Nos primeiros tempos em relação às questões humanas houve algum apoio internacional, mas depois passou-se a contar apenas com as próprias forças e só com as próprias forças, sob orientação do Presidente José Eduardo dos Santos!
 
Tudo isso foi feito sem que do exterior houvesse qualquer tipo de sensibilidade e reparação: a própria África do Sul que com seus aliados e alianças havia devastado, com o regime do “apartheid,” toda a região, mas muito particularmente Angola, nunca mexeu um dedo no sentido de ressarcir os custos das perdas enormes acumuladas ano após ano e isso muito embora os sucessivos governos do ANC, da democracia de 1 homem / 1 voto e da emergência reconhecida do país que é hoje um dos BRICS!
 
4 – Nem estadistas, nem banqueiros, nem a comunidade internacional, nem os “activistas de plantão” e da conveniência dos grandes interesses, alguma vez se decidiram a reconhecer essa dívida que deveria ser ressarcida para com os países que compuseram a Linha da Frente e sobretudo para com Angola que suportou o choque principal durante décadas!
 
Essa dívida seria uma reparação no âmbito dos direitos humanos a uma questão que é fundamental: todos os seres humanos devem estar livres da opressão e ela na África Austral só se tornou possível com a uma longa luta pejada de sangue e de sacrifícios que afinal, só muito poucos ousaram reconhecer para reparar!
 
5 – A seu tempo essa luta foi reconhecida pelos países socialistas e por Cuba, cuja Revolução, pela decisão justa de Fidel de Castro, admitia que a América Latina deveria dar o seu contributo, se necessário de sangue, para que se apagassem da face da Terra fascismo, colonialismo e “apartheid”!
 
Cuba pagava assim uma dívida para com África, de forma desassombrada, legítima e levando em consideração a história e a antropologia cultural dos povos do sul, identificando-se por inteiro com o sentido de vida do movimento de libertação!
 
Foto: Monumento alusivo à batalha de Quifangondo com esculturas de Rui de Matos, um dos guerrilheiros do MPLA!
 

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