quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Voluntários portugueses encontraram "cenário de destruição total" nas Filipinas

 


Augusto Correia – Jornal de Notícias
 
Dois voluntários portugueses da Assistência Médica Internacional passaram dois dias em Tacloban, cidade no norte da ilha de Leyte, nas Filipinas, que ficou praticamente destruída pela passagem do tufão Haiyan. Com ventos de 320 quilómetros hora, a tempestade deixou para trás "um cenário de destruição total".
 
Sofia Costa e Tiago Swart não vêem uma cama há dois dias. Passaram as últimas 48 horas em Tacloban, no epicentro da destruição causada pelo tufão Haiyan, nas Filipinas. Feito o levantamento das necessidades mais prementes e garantida a parceira com uma organização no terreno, as irmãs Madre Teresa, os dois voluntários da Assistência Médica Internacional (AMI) regressam a Surigao para comprar mantimentos que vão ser distribuídos no norte da ilha de Leyte, fortemente afetado pela tempestade tropical do fim-de-semana, que causou perto de três mil mortos.
 
"Encontrámos uma grande devastação. Está tudo destruído, num raio de 30 a 40 quilómetros. É um cenário de destruição total, de catástrofe", contou Sofia Costa, ao telefone de Surigao, esta quinta-feira de manhã. Em Tacloban, seis dias após o tufão ainda há "muitos corpos nas bermas das estradas", no meio de "um cenário caótico", descreve aquela voluntária da AMI.
 
"As maiores dificuldades são a falta de comida e água potável. As pessoas estão a beber água da chuva ou água não tratada e já há muitos casos de crianças com diarreias", contou Sofia Costa. "Uma coisa leva a outra", explicou, a falta de comida e água potável agudiza os problemas de saúde, com casos de doença a acrescer aos mais de três mil feridos pela passagem do furacão.
 
Os postes de electricidade foram derrubados, ainda há muitas estradas intransitáveis e as pessoas desalojadas estão a viver em centros de evacuação, nas ruas ou em tendas improvisadas. "A comida está a ser distribuída pelos militares, todos os dias as pessoas enfrentam uma fila interminável para receber um quilo de arroz", contou Sofia Costa, já com 15 anos de voluntariado no currículo.
 
"Já tínhamos experiência de voluntariado internacional, por isso a falta de água, de luz ou comida não foi um problema", observou Sofia Costa, ao detalhar o que sentiu ao entrar em Tacloban. "Ver tudo destruído, os corpos ensacados, o cheiro, as pessoas a andar de um lado para o outro, sem saber muito bem para onde, porque praticamente não há transportes e é difícil sair da ilha, foi muito difícil".
 
Entrar em Leyte também não foi nada fácil, como atesta a jornada de Tiago e Sofia, que demoraram quase 48 horas a chegar da ilha de Siargao, onde estavam de férias quando o tufão atingiu as Filipinas, a Tacloban, no norte da ilha de Leyte. Pelo meio uma escala de quase 14 horas no porto da ilha de Surigao, a principal porta de saída para o epicentro da catástrofe.
 
À chegada a Saint Bernard, na ilha de Leyte, após uma viagem de barco de pouco mais de duas horas, Sofia e Tiago tiveram de esperar cerca de uma hora até que as viaturas militares estivessem prontas para sair para Tacloban. "Não nos deixavam seguir sem escolta, porque era muito perigoso por causa das pilhagens", recordam.
 
"A viagem por estrada, que demora normalmente entre duas a três horas, demorou sete", das 10 da noite às cinco da amanhã, para percorrer os cerca de 150 quilómetros entre o sul e o norte da ilha de Leyte. "Como o dia estava a nascer, assim que chegamos começamos logo a trabalhar, a tentar identificar as necessidades maiores e a encontrar um parceiro no terreno", conta Sofia Costa.
 
A "ansiedade" de querer chegar ao local e começar a trabalhar, companheira de cerca de 48 horas de viagem, ficou esquecida à vista da destruição em Tacloban. Um ambiente "pesado", para o qual os dois voluntários se prepararam mentalmente durante as longas horas de espera. "O que vimos até nos deu mais força e mais vontade de fazer alguma coisa, de ajudar", disse Sofia Costa.
 
É com essa força e motivação que estão de regresso a Surigao. Nesta ilha, que não foi afetada pelo furacão, Tiago e Sofia vão adquirir mantimentos para levar para Tacloban, de acordo com as necessidades identificadas pelo parceiro no terreno, as irmãs Madre Teresa, que acolhe várias famílias na zona da catástrofe.
 
"A ideia é encher a carrinha das irmãs com o máximo que conseguirmos", disse Sofia Costa. Arroz, água potável e enlatados são prioritários. A falta de condições de segurança e as dificuldades em circular nas estradas da ilha de Leyte conduziram à opção por uma carrinha de mercadorias, em vez do aluguer de um camião TIR.
 
"Contamos levar o essencial para três dias e vamos reavaliando", disse Sofia Costa, ciente de que após quase uma semana ainda há muito a fazer no terreno. "Há muitas vilas onde a ajuda ainda não chegou. Há muitas estradas sem acesso, edifícios destruídos, postes de eletricidade caídos. Percebe-se porque demora a chegar a ajuda", disse, considerando que "o trabalho está a ser feito a bom ritmo", dadas as circunstâncias e as dificuldades de operar num local afetado pela maior tempestade conhecida no Mundo.
 
Foto Edgar Su - Reuters
 

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