terça-feira, 5 de novembro de 2013

ZILLAH BRANCO: A CIA E A DEMOCRACIA




O medo de sucumbir sem qualquer ajuda sempre levou os seres humanos a transformarem os seus mitos e crenças no sobrenatural em possíveis socorros. É o desespero a que a solidão conduz como última esperança.

Zillah Branco* - Vermelho


O populismo, com a enumeração de uma lista de problemas sociais sofridos desde sempre pelas classes mais desfavorecidas, sempre foi um recurso de representantes da elite dominante que precisam dos votos dos seus adversários de classe para a chamada "eleição democrática" que o regime republicano exige. Prometer é fácil, e convencer os que já perderam as esperanças na luta coletiva como o recurso adequado é o caminho habitual dos inescrupulosos.

Por alguma razão, que não foi devidamente estudada, os Estados Unidos - um país sem nome de pátria nacional - construiu, como sua, a história da democracia. Solidariamente, a França presenteou aquela Federação que adotou o nome de todo um continente estando situada apenas no norte (deixando em aberto o caminho expansionista pelo Sul, no século 19), com a estátua da Liberdade representando a memória da Revolução burguesa de 1789, que deitou abaixo a monarquia.

Como fazem os mentirosos históricos, os que orientaram o destino político dos Estados Unidos enveredaram pela especialização da arte e da técnica publicitárias e desenvolveram, com enorme êxito, toda uma indústria de comunicação que alimentou mundialmente uma cultura dominante no Ocidente e em parte do Oriente.

Os valores filosóficos foram roubados aos gregos da antiguidade e adaptados às conveniências do poder norte-americano que, assim, assumiu a figura de um deus imperial no planeta, condutor da ética universal. Impôs-se ao seu povo e aos vizinhos, estendendo-se pelo mundo, como o líder que constrói o modelo a ser seguido pela humanidade "civilizada". Definiu normas de conduta para cidadãos e nações e a sua função de polícia planetário com um poder quase divino de reprimir e matar os desobedientes. Abriu o caminho para a criação de um governo mundial.

Dentro da sua Federação, abafou as vozes que, em nome da guerra de independência e adoção do regime democrático, denunciavam as chacinas que exterminaram os nativos do território e oprimiram os antigos escravos africanos, discriminados ferozmente na vida social do país.

A literatura do início do século 20 e o nascente cinema, hoje conhecidos como clássicos de alto valor (com autores como Bernard Shaw, Haward Fast e Charles Chaplin, entre outros), foram as primeiras formas de comunicação a sofrerem a repressão antidemocrática do período "mackartista" intensamente anticomunista.

No caminho expansionista selvagem os EUA avançaram pelo território mexicano, anexando a Flórida, e passaram a apoiar os movimentos independentistas das novas nações que expulsavam os seus colonizadores europeus. Neste papel de "irmão maior americano" introduziram modernizações que permitiam a industrialização e desenvolvimento urbano deixando títeres de sua confiança nos governos ditatoriais.

Ao mesmo tempo, os colonizadores europeus, expulsos das colônias americanas, decidiram aliar-se ao império capitalista que surgia, selando esta amizade no confronto com a Alemanha, nas duas grandes guerras que pretenderam usar também para acabar com a nascente União Soviética. Mas a Revolução Socialista forjara uma profunda consciência de luta nos povos que deram a vida para extirpar a ameaça nazi-fascista de Hitler que ocupara a França e bombardeara a Inglaterra.

O projeto anticomunista ficou temporariamente arquivado, para reacender após a vitória dos "aliados" a que se somaram as forças militares norte-americanas, no final, para deixar a sua chancela cruel com o uso da bomba atômica, que matou 200 mil civis japoneses quando a guerra já estava decidida, com a chegada do exército soviético a Berlim.

Começou na sombra a terceira guerra, chamada pelos imperialistas de "Guerra Fria". A Europa destruída decidiu organizar o seu quartel general imperialista para não ser engolida pelos EUA. Em Bildenberg, na Holanda, em 1947, nasceu a decisão de formar um clube com representantes norte-americanos, além de personalidades da direita europeia, acompanhados por remanescentes da velha monarquia que se mantiveram aliados dos governos republicanos, ou "democratas" dos países ricos ocidentais.

Em 1954, reuniram-se pela primeira vez e passaram a ter encontros anuais, para traçar o programa de um governo planetário com a centralização financeira bancária e de um mercado para regular as economias. Passaram a escolher futuros presidentes ou primeiros-ministros dos países submissos, formados a partir de quadros fiéis ao controle imperialista (entre muitos, Clinton, Merkel, Balsemão, Sócrates e outros de igual valia).

Aí nasceu o projeto da União Europeia para amarrar a economia, sobretudo as finanças, de todas as nações europeias, e subordiná-las ao controle político unificado pelos países mais ricos. Com a ponta de lança da Social-Democracia dirigida por Helmut Koll, da Alemanha, apoiado de perto por Henry Kissinger, sionista do governo dos EUA, apoiaram Mário Soares (que aderira ao processo inicial da Revolução dos Cravos) a minar a base popular liderada pelos comunistas, com a apologia do "capitalismo humanizado e democrático". Combateram implacavelmente a reforma agrária e as nacionalizações da banca iniciadas com vigor no governo de Vasco Gonçalves, pilares da democracia nacional.

Foi criada a Comunidade Econômica Europeia (CEE), que abraçou os "irmãos pobres da Europa" (tal como fizeram os EUA, no início do século 20, na América Latina) com os cantos de sereia do consumismo e do desenvolvimento da estrutura de comunicações, rasgando belas estradas por onde escoava os produtos exportados pelos mais ricos e criando, em Portugal, o maior parque de centros comerciais de luxo, que passaram a formar uma mentalidade consumista e alienada em populações de cultura e trabalho agrícola humanizada e politicamente ingênua.

A apresentação da história da CEE/UE revela o "uso ignóbel" de linguagem democrática e de valores artísticos e esportivos capazes de atrair e comover uma população jovem, alienada das suas esperanças tradicionais próprias às condições reais de vida (como a música dos Beatles e o esporte de risco - ver página da UE).

Nos Estados Unidos, diante da crise normal do sistema capitalista na sua fase imperialista (prevista por Marx e seus seguidores), o Partido Democrático revestiu os seus presidentes eleitos com uma fachada humanista, apesar de prosseguir as invasões em todo o mundo pela via da Agência Central de Inteligência (CIA) ou da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Escolheu Obama, por ser negro, que copiou com maestria o comportamento e a linguagem da esquerda democrática, iludindo com falsas esperanças de liberdade e respeito humano os que sofriam a repressão imposta pelo sistema capitalista em todo o planeta, o que ficou provado com o discurso de intenções terroristas e expansionista que fez ao receber o prêmio Nobel da Paz.

Assim reforçavam a liderança cultural e política, assumindo inescrupulosamente a imagem de princípios éticos dos seus adversários revolucionários e dando novos sentidos aos vocábulos tradicionais de uma cultura expoliada.

O sentido histórico das palavras

Os países de língua portuguesa tentam impor aos seus povos um acordo para satisfazer os interesses das empresas editoriais. Os estudantes do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor são obrigados a reaprender o idioma que já sabiam falar, introduzindo as mudanças ortográficas que facilitam a edição e venda de textos em todos os continentes onde a língua portuguesa é conhecida. Até aí, na linguagem redutora, tornam os povos escravos do mercado.

Mais importante que unificar a ortografia de tantos povos com diferentes culturas será restabelecer o valor atual de termos que foram apropriados na Idade Média, por elites da classe dominante, esvaziando o seu conteúdo filosófico. Por exemplo: "nobre", durante a dominação exercida pela aristocracia monárquica, eram os seus familiares.

No entanto, com o advento da República, que levou a realeza à visível decadência, ser nobre significa "ter valor humano, dignidade, integridade, solidariedade", que os povos revelam principalmente nos estratos sociais vinculados ao trabalho. É a "nobreza de caráter", não de títulos herdados familiarmente, ou comprados. No entanto, em quase todas as nações da Europa, a nobre gente trabalhadora é pobre, e do seu trabalho sai a riqueza que sustenta no luxo os descendentes da aristocracia medieval e as elites que os substituíram no poder político e financeiro.

Outra confusão de conteúdo em termos amplamente usados, é o de "classe média". Médio quer dizer "do meio", mas é preciso estabelecer de quê. Dos menores e maiores salários? Da situação inferior e superior na estrutura social? Dos benefícios concedidos pelo Estado? Do conhecimento? Ou apenas uma camada social que fica entre os mais desgraçados, que apenas sobrevivem, e os mais ricos, que desconhecem a fome e até esbanjam o que lhes sobra?

No sistema capitalista, as estatísticas classificam os cidadãos em classes apenas pelo valor das suas propriedades e salário completado com o valor do que consomem. "Valor" estritamente financeiro, como manda o mercado, conceito também medieval que atribuía "valor humano" aos "nobres aristocratas" (as palavras do presidente Cavaco e Silva, em Portugal, confirmam o reducionismo do conceito de valor ao substituí-lo pelo de "custo financeiro", a propósito de um orçamento nacional que enriquece os ricos e condena os trabalhadores e pensionista à miséria em 2014).

Se ainda não atualizamos estas pendências medievais em pleno século 21, depois de uma importante Revolução Burguesa em 1789 e uma Revolução Socialista em 1917 que levaram a humanidade a descobrir que os "valores" não são os financeiros roubados à força, mas sim os "conquistados pelos cidadãos" através da luta pelo desenvolvimento social, porque então esta falsa atribuição do título de "classe média" a quem é explorado como força de trabalho para enriquecer a elite dominante? Só para que fiquem iludidos na hora de eleger os seus candidatos e poderem manter a dinâmica de um mercado de quinquilharias que gira o dinheiro entre os empresários e os banqueiros, sem criar um produto importante para a economia nacional?

O imperialismo tropeça na CIA

A prepotência da elite imperial tornou-a descuidada. Deslumbrados com o domínio financeiro, tal como o Tio Patinhas por ela criado para divertir os pobres e alienados, descuidaram o comportamento político enquanto destruíam o Estado Social que despertava a consciência de classe em todo o mundo.

Da CIA, e serviços congêneres de outras nações, escoaram informações que revelam não apenas os planos de destruição da democracia planetária, mas a espionagem organizadas através de todos os meios de informação disponíveis mundialmente.

Tornaram-se conhecidos os políticos, militares e policiais, além de outras categorias de personalidades influentes por meio da mídia, que foram e são corrompidos em todos os países para sabotarem os processos democráticos e revolucionários.

Agora, com o hábito de utilizar a democracia para manter uma fachada aparentemente decente, tanto invadem os correios electrónicos de militantes da esquerda como também os telefones particulares de membros de qualquer Governo Nacional e mesmo dos "aliados do imperialismo".

Até foi bom que invadissem a intimidade de Angela Merkel, expoente dos Bildenberg e parceira direta do poder que conduz o Presidente dos EUA, atirando-a para o campo das populações esmagadas pelo sistema nefasto que ainda domina o ocidente e morde o oriente nesta guerra globalizada.


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