domingo, 8 de dezembro de 2013

Portugal: QUANDO EU TIVER 87 ANOS

 

Henrique Monteiro – Expresso, opinião
 
Em miúdo ouvia um mega-êxito dos The Beatles, intitulado When I'm 64 (quando tiver 64 anos) que, no fundo, se interrogava sobre se a companheira ainda iria gostar de um homem a perder o cabelo, se ainda lhe mandaria postais no dia de namorados, se ainda lhe daria presentes de anos.
 
Seria, de qualquer modo "many years from now", ou seja, daqui a muitos anos. Na altura em que a música saiu eu tinha 11 anos e agora, que estou a meros sete anos dos 64, vejo que o tempo passa muito mais depressa do que queremos. É um instantinho, como diziam (e dizem) os velhos.
 
Ora, para acabarmos a austeridade é outro instantinho. Segundo contas do Budget Watch, simulados pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, só nos anos 40 cumpriremos os limites do Pacto de Estabilidade. Até lá, a palavra mais em voga será austeridade.
 
É por isso que tenho insistido tanto na irresponsabilidade de colocar uma expectativa elevada na saída da troika, como se tal resolvesse, por passe de mágica, algum dos nossos problemas de fundo. No melhor cenário, dizem estes especialistas, em 2041 estamos com a dívida a 60% do PIB, considerado um rácio absolutamente sustentável. Num cenário menos otimista, mas ainda assim sem loucuras, essa barreira atinge-se em 2044. No início desse ano (se não falecer, coisa que aconteceu ao autor da letra, John Lennon, muito anos dos 64) tenho 87 - farei 88 no seu decorrer - e se a reforma continuar a fugir de mim, quem sabe se ainda não ando por aqui a escrevinhar.
 
É que, seja em que cenário for, a dívida só não aumenta se Portugal conseguir saldos primários (uma diferença positiva entre o que gasta e o que arrecada, descontando os juros da dívida). Para terem uma ideia, este ano teremos um ligeiro excedente, ainda longe do necessário para começarmos efetivamente a poder baixar o peso da dívida no PIB (que está em 127,8%), o que se estima comece a acontecer (com todos os sacrifícios inerentes) em meados de 2014.
 
Ficaram desanimados? Não vale a pena. Isto é um "instantinho". E além disso, pode não ser nada assim. Diz-se que Deus criou a economia para fazer da meteorologia uma ciência exata.
 

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