Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Em miúdo ouvia um
mega-êxito dos The Beatles, intitulado When I'm 64 (quando tiver 64 anos) que,
no fundo, se interrogava sobre se a companheira ainda iria gostar de um homem a
perder o cabelo, se ainda lhe mandaria postais no dia de namorados, se ainda
lhe daria presentes de anos.
Seria, de qualquer
modo "many years from now", ou seja, daqui a muitos anos. Na altura
em que a música saiu eu tinha 11 anos e agora, que estou a meros sete anos dos
64, vejo que o tempo passa muito mais depressa do que queremos. É um
instantinho, como diziam (e dizem) os velhos.
Ora, para acabarmos
a austeridade é outro instantinho. Segundo contas do Budget Watch, simulados
pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, só nos anos 40 cumpriremos os
limites do Pacto de Estabilidade. Até lá, a palavra mais em voga será
austeridade.
É por isso que
tenho insistido tanto na irresponsabilidade de colocar uma expectativa elevada
na saída da troika, como se tal resolvesse, por passe de mágica, algum dos
nossos problemas de fundo. No melhor cenário, dizem estes especialistas, em
2041 estamos com a dívida a 60% do PIB, considerado um rácio absolutamente
sustentável. Num cenário menos otimista, mas ainda assim sem loucuras, essa
barreira atinge-se em 2044. No início desse ano (se não falecer, coisa que
aconteceu ao autor da letra, John Lennon, muito anos dos 64) tenho 87 - farei
88 no seu decorrer - e se a reforma continuar a fugir de mim, quem sabe se
ainda não ando por aqui a escrevinhar.
É que, seja em que
cenário for, a dívida só não aumenta se Portugal conseguir saldos primários
(uma diferença positiva entre o que gasta e o que arrecada, descontando os
juros da dívida). Para terem uma ideia, este ano teremos um ligeiro excedente,
ainda longe do necessário para começarmos efetivamente a poder baixar o peso da
dívida no PIB (que está em 127,8%), o que se estima comece a acontecer (com
todos os sacrifícios inerentes) em meados de 2014.
Ficaram
desanimados? Não vale a pena. Isto é um "instantinho". E além disso,
pode não ser nada assim. Diz-se que Deus criou a economia para fazer da
meteorologia uma ciência exata.
Sem comentários:
Enviar um comentário