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Oposição ucraniana
insiste na renúncia de Viktor Yanukovytch para forçar nova eleição. Enquanto
centenas de milhares protestam em Kiev, o presidente conta até com o inverno para
esfriar o ânimo dos manifestantes.
O presidente da
Ucrânia, Viktor Yanukovytch, esperou até a noite de segunda-feira (02/12), dois
dias após a escalada dos protestos em Kiev, para finalmente se pronunciar. Em
entrevista à TV ucraniana, ele pediu que polícia e manifestantes se comportem
de acordo com a lei e de forma pacífica.
Na véspera, cerca
de meio milhão de pessoas tomaram as ruas de
Kiev para protestar contra Yanukovytch e expressar sua revolta contra a
brutalidade usada pela polícia no sábado, quando centenas de jovens na Praça da
Independência, no centro da capital, foram reprimidos com violência durante um
protesto.
Um dos principais
motivos dos protestos foi a recusa de
Yanukovytch de assinar um acordo de associação e livre-comércio com a União
Europeia na semana passada. E o estopim para a repressão policial foi
quando manifestantes tentaram invadir a sede da presidência em Kiev.
Estrategista
experiente
Alguns analistas
interpretaram o silêncio de dois dias do presidente como um sinal de indecisão.
"Para mim, parece que ele ainda não decidiu que postura deve adotar",
observa Serhij Rachmanin, editor de política do prestigiado jornal Dzerkalo
Tyzhnia. "Temos um impasse. Ambos os lados – governo e manifestantes –
foram longe demais."
Já Gerhard Simon,
especialista em Ucrânia da Universidade de Colônia, na Alemanha, avalia que o
comportamento de Yanukovytch é simplesmente estratégico. "Ele sabe como
ganhar tempo", afirma. "Esse silêncio não é uma tolice. Qualquer
coisa que fizer será usada contra ele."
Yanukovytch, de 63
anos, ocupa a presidência da Ucrânia há quatro anos. Os protestos do último fim
de semana foram de longe os maiores desde que ele assumiu o cargo, em 2010.
No domingo, sua
base de apoio parecia estar se esfacelando, quando alguns membros proeminentes
do Partido das Regiões – a legenda governista – anunciaram sua retirada do
grupo parlamentar. Havia também rumores de que o chefe de gabinete do presidente,
Serhiy Lyovochkin, havia renunciado, mas até agora não houve confirmação
oficial.
Além disso, a
popularidade de Yanukovytch em seus redutos eleitorais no leste e no sul do
país não deverá ser abalada pelos últimos acontecimentos. Nesta terça-feira, o
Parlamento rejeitou uma moção de censura ao primeiro-ministro Mykola Azarov,
numa derrota para a oposição os manifestantes.
Apesar do clima
tenso no próprio país, Yanukovytch embarcou na noite de terça-feira para a
China, onde permanecerá por vários dias. De lá, vai para a Rússia, onde se
encontra com o presidente Vladimir Putin.
Chegada do inverno
Rachmanin acredita
que, apesar dos protestos, o presidente ainda tem chances significativas de se
manter no poder. As próximas eleições serão apenas em 2015 e, segundo o
jornalista, a oposição ainda não tem uma estratégia definida para propor uma
mudança da política governamental.
Além disso, afirma,
os confrontos entre a polícia e os manifestantes deixaram uma parcela da
população "no mínimo" pensativa. Segundo ele, nessas circunstâncias,
Yanukovytch prefere esperar que a situação se acalme por si só.
Para o jornalista,
uma futura escalada da violência por parte da polícia é muito possível, mas uma
reação do Ocidente poderia deter Yanukovytch. "Penso que ele quer deixar a
porta para a Europa aberta", opina – mesmo que seja apenas para ter algo
que possa utilizar no intuito se opor às pressões da Rússia.
Gerhard Simon não
acredita que Yanukovytch venha a deixar o cargo. Mas se a oposição conseguir
paralisar o país com uma greve geral, lembra, como já anunciou que pretende
fazer, então "muita coisa ainda pode acontecer".
Como próximo passo
em sua estratégia, o presidente, segundo Simon, deverá sinalizar uma disposição
de fazer concessões aos protestos, no intuito de manipular os manifestantes, na
esperança que o inverno venha logo e os protestos "se percam na
neve".
Segundo os passos
de Kuchma
Caso funcione a
estratégia de Yanukovytch de esperar o esfriamento dos protestos, ele não será
o primeiro presidente ucraniano a utilizar essa manobra. No inverno de 2001, o
então presidente Leonid Kuchma era acusado de envolvimento no assassinato de um
jornalista de oposição.
Milhares saíram às
ruas para protestar e pedir sua renúncia. Assim como nos dias de hoje, houve
confrontos violentos entre a polícia e manifestantes. A população ficou em
choque, e os protestos acabaram perdendo apoio. Kuchma continuou no cargo até o
fim de seu mandato, no início de 2005.
Autoria: Roman
Goncharenko (rc) - Edição: Rafael Plaisant
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