Eusébio, um
moçambicano-português que nunca foi príncipe porque nasceu rei do futebol, como
em todo o mundo assim o reconhecem. Eusébio, um jovem de 17 anos que desembarca
no aeroporto de Lisboa e vai habitar o Lar do Benfica, junto ao cemitério, em
Benfica – depois de algumas peripécias recambolescas protagonizadas pelo
Sporting e pelo Benfica.
Era tão jovem que a mãe escreveu a Mário Coluna, também moçambicano,
jogador de gabarito do Benfica, com mais idade e experiência de vida e no mundo
do futebol, para que tomasse conta do filho. E Coluna quase fez de Eusébio seu
filho, sendo exigente no “mundo novo” de Lisboa que para Eusébio era
deslumbrante mas não foi de perdição. “Pai” Coluna tinha o seu “filho” marcado
e controlado – tirando uma fuga ou outra que Eusébio fazia, às vezes em véspera
de jogo. Mas rápidamente os “mais velhos” o faziam arrepiar caminho e “ter juízo”.
A dedicação e o
potencial de força do jovem Eusébio tudo superava. Eusébio no Estádio da Luz,
nos treinos, era o exemplo a seguir… Até pelos mais velhos. Não era uma fuga do
jovem Eusébio do Lar do Benfica para vir cavaquear ao Penalty (restaurante do Cávem
e do Bastos, ambos jogadores do Benfica), logo ali ao lado do café Nilo, frente
à igreja de Benfica, que manchava o desempenho do Rei Eusébio nos jogos ou nos
treinos. O profissionalismo primeiro, a responsabilidade, o querer e o saber
também. O resto nasceu com ele, por isso nasceu Rei.
Para os mais jovens
ou para os que esqueceram o percurso deste grande futebolista e bom homem retirámos
da Wikipédia referências do historial do grande homem e desportista que faleceu
esta madrugada, aos quase 72 anos. Todas as homenagens que lhe façam será
pouco, principalmente pelo homem que era. Como futebolista foi um Fora de Série,
um potentado que pairava (e paira) acima das clubites. Eusébio estará sempre
nos corações daqueles que o conheceram, por isso vive. Eusébio manterá viva a
chama da admiração de todos que o viram jogar e também daqueles que de Eusébio
ouvem falar. O rei continuará vivo, eternamente. (Redação PG)
Infância e juventude
Eusébio nasceu no
bairro de Mafalala, em Maputo (na época Lourenço Marques), em Moçambique
(ex colônia portuguesa), a 25 de janeiro de 1942, filho de Laurindo António da
Silva Ferreira, ferroviário, branco, natural de Angola e, de
Anissabeni Elisa, uma negra moçambicana. Foi o quarto filho do casal. Criado
numa sociedade extremamente pobre, costumava faltar às aulas para jogar
descalço futebol com os seus amigos em campos improvisados e utilizando bolas
de futebol improvisadas. O seu pai morreu com tétano, quando Eusébio tinha 8 anos
de idade, de modo que Elisa tomou quase exclusivamente cuidado parental do
jovem Eusébio.
Carreira - O início
Mais tarde, Eusébio
procurou inscrever-se no clube O Desportivo, mas não foi aceite, por
ter um problema no joelho. A vontade de jogar futebol falou mais alto do que o
clubismo, por isso, dirigiu-se ao Sporting Lourenço Marques. Tendo
sido aceite nesta filial moçambicana do clube leonino de Lisboa, Eusébio
jogou de leão ao peito até à sua ida para Portugal. Antes disso, chegou a ser
indicado à equipa brasileira do São Paulo, após o ex-jogador do clube José Carlos Bauer, que havia participado nos Campeonatos Mundiais de 1950 e 1954, observá-lo em Lourenço Marques, em 1960. O Tricolor
Paulista, entretanto, desdenhou do investimento. Bauer então conversou com Béla
Guttmann, que fora seu treinador no São Paulo, sobre o jovem. Guttmann já
treinava o Benfica
na época.
O negócio da
transferência do menino de 17 anos ficou então marcado pela polémica, devido à
luta que houve entre os dois rivais de Lisboa para conseguir o passe do rapaz.
O [Benfica] tinha tudo acordado com Eusébio e com o Sporting Lourenço Marques. No
entanto, os responsáveis sportinguistas, sabendo tratar-se de um diamante em
bruto, foram buscar o jogador ao Aeroporto, encaminhando-o para um hotel. Desta
forma, Eusébio não pode assinar pelo Sporting visto que o seu pai já teria
assinado pelo S.L.Benfica]] quando ainda corria o ano de 1960. Logo na primeira
época de camisola vermelha vestida, o "Pantera Negra" ajudou o Benfica
a conquistar o seu último troféu europeu e a sua segunda Taça dos Campeões Europeus consecutiva,
acabando de vez com a hegemonia do Real Madrid.
Benfica
A 15 de dezembro de
1960 chegou a Lisboa. Eusébio jogava na filial leonina de Lourenço Marques
quando um funcionário do Benfica tratou da sua transferência para as águias.
Colocou o Eusébio num avião sob um nome falso (Ruth Malosso - que pertence a
uma cidadã portuguesa) e avisou os leões de que o jogador tinha partido para
Lisboa de barco. Na capital, Eusébio era esperado por dirigentes da turma da
Luz e alguns jornalistas.
O Sporting Clube de Portugal não desistiu
e voltou à carga, duplicando a oferta do Benfica,
que acabou por pagar à mãe de Eusébio, Elisa Anissabene, 250 contos (250
milhares de escudos) pela transferência. Os encarnados
esconderam o rapaz de 18 anos numa unidade hoteleira em Lagos, Algarve,
evitando que ele fosse comprado pelo Sporting, e assim seguraram o reforço.
Menos de uma semana
passou e Eusébio regressou à capital e já era jogador do Benfica.
Estreou-se no Estádio
da Luz a 23 de maio de 1961, num jogo amigável contra o Atlético
em que marcou 3 dos quatro golos do Benfica. As peripécias que se sucederam
desde a sua chegada atrasaram a assinatura do contrato, o que iria impedir de
estar presente em Berna, na noite do primeiro triunfo europeu do Benfica. A sua fama internacional vem do
jogo da segunda final europeia do Benfica em 1962, contra o Real Madrid.
Não só marcou dois golos como fez uma exibição de luxo com as características
que o iriam tornar famoso: a velocidade estonteante e o remate fortíssimo.
A France Football
considera-o o segundo melhor jogador do mundo, em 1962. Os convites para jogar
no estrangeiro obviamente surgiram. A Juventus
oferece-lhe 16000 contos, em 1964, numa altura em que ganhava 300 contos no Benfica. A tentação era tão grande que o
governo de então o envia para a tropa, não permitindo que se venda um tesouro
nacional deste tamanho. O Benfica acabaria por lhe aumentar o salário
para 4000 contos. No mundial de 1966 em Inglaterra, torna-se definitivamente
uma estrela mundial, um digno rival de Pelé. O epíteto de
"Pantera Negra" vai correr o mundo. A facilidade em marcar golos
torna-o no melhor marcador do mundial com 9 golos, ajudando a levar Portugal ao
terceiro lugar. Após o mundial, os italianos fazem uma nova oferta a Eusébio:
90000 contos. Quando parecia que desta vez nem o governo poderia impedi-lo de
aceitar, surge a notícia de que os clubes italianos deixam de poder contratar
jogadores estrangeiros.
A carreira de
Eusébio foi recheada de lesões, tendo sido operado 6 vezes ao joelho esquerdo e
1 vez ao direito. Nunca deixou de jogar, mesmo em condições dolorosas, até
porque sabia que o Benfica dependia muito dele e que os
espetadores não aceitariam bem a sua ausência. Realizaram-lhe uma festa de
despedida, em Setembro de 1973, mas continuou ainda a jogar até 1979.
O seu último jogo
com a camisa do Benfica foi no dia 18 de junho de 1975,
frente à seleção africana, em Casablanca.
Seleção Nacional
Portuguesa
Estreou-se na Seleção Nacional Portuguesa a 8 de
outubro de 1961.
Em 1966, vestindo a camisola das quinas, foi um dos protagonistas do Campeonato do Mundo jogado em Inglaterra. Com
uma prestação fenomenal, Eusébio foi uma das principais armas portuguesas para
uma das melhores campanhas internacionais de sempre. Logo no primeiro Campeonato do Mundo, Portugal chegou
aos quartos-de-final, deixando pelo caminho equipas como a da Coreia do Norte (a grande surpresa
do torneio, logo depois de Portugal), Hungria e Brasil (um dos principais
favoritos, sendo que de entre uma equipa genial se destacava o número 10, Pelé). Portugal
acabou por sair derrotado contra a equipa da casa, num jogo que ficou conhecido
pelo "Jogo das Lágrimas", e que ficou marcado por contestações à
organização do torneio. A marca de Eusébio de golos marcados no Campeonato do Mundo de 1966 ficou
registada como a maior da prova.
Eusébio obteve a
sua última internacionalização a 19 de outubro
de 1973.
Final de carreira
Nas temporadas de
1976-77 e 1977-78, Eusébio jogou em duas equipas menores portuguesas: Beira-Mar, na Primeira
Divisão e União de Tomar, na Segunda Divisão.
Jogou também na North American Soccer League (NASL), por três equipas
diferentes, de 1975 a 1977: Boston Minutemen (1975), Toronto Metros-Croatia
(1976, e Las Vegas Quicksilvers (1977). O seu maior sucesso na NASL foi em 1976, com
Toronto Metros-Croatia. Eusébio marcou na vitória por 3-0 no 76 Soccer Bowl
para ganhar o título da NASL.
No mesmo ano, disputou dez jogos pelo Monterrey no
campeonato mexicano.
Na temporada
seguinte (1977), assinou pelos Las Vegas Quicksilvers. Acabaria por ser um final
muito decepcionante da carreira de Eusébio. Por esta altura, as lesões tinham
magoado o "Pantera Negra", e ele estava constantemente a receber
tratamento médico enquanto jogava pelos Las Vegas Quicksilver. Durante a
temporada, ele só conseguiu marcar dois golos.
Apesar de os
joelhos lhe terem roubado a capacidade de continuar na NASL, Eusébio queria
continuar a jogar futebol. Encontrou uma casa em 1978 com os New Jersey
Americans da segunda linha American Soccer League (ASL). Foi forçado a
aposentar-se de vez no final da temporada. Eusébio jogou cinco jogos pelos
Buffalo Stallions durante a temporada 1979-1980 da Major Indoor Soccer League.
Em Outubro de 1963,
foi seleccionado para representar a equipa da FIFA no
"Aniversário de Ouro" da "Football Association" no Estádio
de Wembley.
Eusébio
aposentou-se em 1979 e fez parte da comissão técnica da Selecção Nacional Portuguesa até ao
seu falecimento.
Falecimento
Eusébio faleceu
cerca das 3h30m da madrugada de domingo, 5 de
janeiro de 2014,
vítima de uma insuficiência cardíaca, a poucos dias de completar 72 anos de
idade.
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