Em Angola 2014
começa com as mesmas dificuldades sociais. A melhoria de vida da população
mostra-se uma miragem porque as políticas de desenvolvimento estão desfasadas,
considera o analista angolano Nelson Pestana.
No fim de 2013 o
Presidente angolano disse, no seu discurso sobre o Estado da Nação, que
"houve melhorias das condições de vida da população em vários
dominíos".
Há quem reconheça
os esforços do Governo do MPLA, no poder, mas pense que mais deveria ser feito,
como é o caso do jornalista Adalberto José: "De facto houve alguns
investimentos feitos na área energética e que começam a surtir alguns efeitos,
isso é visível para quem viaja para as principais capitais do país."
Relativamente ao
abastecimento de água o cenário não é o melhor: "Em relação ao setor da
água ainda temos muitos problemas e Luanda é prova disso. Há investimentos que
têm de ser feitos e como o Presidente reconheceu no discurso de fim do ano,
apesar dos esforços ainda há muito por fazer. "
E o jornalista
lembra também que "essas questões sociais fazem parte das promessas do
MPLA... que devem ser feitos esforços para que haja melhorias sociais."
Mas o discurso de José Eduardo dos Santos também foi criticado por supostamente não refletir exatamente a realidade do país. E por isso para o ano que agora inicia as expetativas sobre as melhorias sociais são praticamente inexistentes.
Políticas
desfasadas
O analista político
angolano Nelson Pestana considera que a razão da atual situação, que ainda na
sua opinião deverá continuar, deve-se a um desfasamento entre as políticas de
desenvolvimento e as necessidades da maioria da população: "As políticas de
desenvolvimento são ditadas de cima para baixo segundo os interesses daqueles
que têm o poder."
Nelson Pestana
recorda porém que a prática não tem trazido resultados satisfatórios:
"Aliás, o grande objetivo estratégico definido pelo Presidente no discurso
sobre o Estado da Nação, e que tem repetido em outras intervenções, é dotar de
uma grande riqueza um grupo restrito que possa vir a ser a locomotiva do
desenvolvimento, e essa política já dura há 15 anos..."
Por exemplo, há dias que a capital angolana enfrenta uma crise de falta de água. Os residentes são obrigados a consumir água imprópria para a saúde.
E ao mesmo tempo a
empresa que fornece o precisoso líquido está em greve há mais de 11 dias por
melhores condições.
Nelson Pestana, que
reconhece também o esforço do Governo na melhoria das infra-estruturas, e que
por isso haverá mais gente com acesso à água potável, exemplifica entretanto
onde reside o desfasamento entre as políticas e a realidade: "Só que os
ritimos de crescimento desses setores não acompanham os ritimos demográficos do
país e por isso vai haver sempre um défice em relação ao acesso à água potável
e em relação ao acesso à energia elétrica."
População aproveita
investimento da indústria
O analista, entretanto, acredita que a situação seja melhor no acesso à energia elétrica do que no aceso à água potável devido à política de desenvolvimento que está direcionada para a indústria com vista à promoção do seu crescimento.
Relativamente à
saúde, as expetativas de Pestana não são boas, considerando o Orçamento de
Estado para este ano: "O plano de desenvolvimento do setor está ferido de
dois problemas: o primeiro é que diminuiu a parcela do Orçamento de Estado para
a saúde, e o segundo é que o dinheiro está destinado aos grandes hospitais,
quando os probelmas estão nas pequenas unidades sanitárias."
Para o setor da educação, que também viu a sua fatia reduzida no Orçamento de Estado, Pestana prevê uma continuidade dos probelmas pois as apostas do Governo não são os setores críticos, o nível primário, e sobretudo o secundário, mas sim o universitário porque quer cumprir o plano nacional de fomação de quadros.
Uma decisão que é
questionada pelo analista: "Que tipo de quadros se vão formar? ninguém
sabe dar a resposta. Antevemos que serão quadros de má qualidade e que não
estarão à altura de competir para os empregos de qualidade que o crescimento
económico vai criar."
Em resultado dessa
situação, a continuidade das manifestações não está fora de questão. As
difícieis condições de vida da população poderão originar contestações contra o
Governo.
Deutsche Welle - Autoria:
Nádia Issufo – Edição: António Rocha
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