O presidente da
Cáritas Portuguesa alertou que Portugal está com “problemas sociais graves”,
sublinhando que a austeridade, que visava a recuperação económica, não gerou
empregos em “número suficiente” para fazer “decrescer o flagelo do desemprego”.
“Com índices de
gravidade diferentes, Portugal está com problemas sociais graves, mas são
praticamente os mesmos que foram identificados pelo Chipre, pela Grécia, pela
Itália”, disse Eugénio Fonseca à Lusa no final da apresentação de um relatório
da Cáritas Europa, em Atenas.
O relatório “A
crise europeia e o seu custo humano” analisa o impacto das políticas de
austeridade que estão a ser aplicadas nos países da UE mais afetados pela crise
(Portugal, Chipre, Grécia, Irlanda, Itália, Roménia e Espanha) e os seus
efeitos na vida das pessoas.
O “problema
central” nestes países é o desemprego, sendo que em Portugal o desemprego
juvenil “é a maior preocupação”, mas o desemprego de longa duração também é um
problema e também foi referenciado pelo Chipre e pela Itália.
Dados divulgados no
relatório indicam que, em abril de 2013, o número de pessoas no desemprego
atingiu o valor histórico de 26,6 milhões (11% da população ativa na União
Europeia a 27) e o desemprego juvenil situava-se nos 23,5%.
Eugénio Fonseca
adiantou que, apesar de estar a haver uma estabilização nas taxas de desemprego
e um ligeiro crescimento económico em Portugal, “isso não quer dizer que tenha
algum reflexo, para já, na vida das pessoas”.
“As pessoas
continuam sem ter autonomia financeira, sem ter acesso ao trabalho, muitas
delas perderam os subsídios que estavam a receber” e há pessoas que continuam a
precisar dos serviços das instituições públicas e particulares e a ficarem numa
situação de “maior empobrecimento”.
O presidente da
Cáritas Portuguesa fez, em Atenas, o retrato da situação vivida em Portugal e
ouviu os relatos dos dirigentes da organização dos países analisados.
“O que verificámos
(…) é que são países que fizeram uma aposta, para solucionar a crise, em
medidas de austeridade e a conclusão a que chegámos é que essas medidas foram
feitas à custa das políticas sociais e, em todos estes países, não se se
chegaram aos resultados desejáveis”, comentou à Lusa.
Foram exigidos
“sacrifícios às pessoas” e até agora não foram “beneficiadas em nada”, antes
pelo contrário, disse, acrescentando que “as recompensas” têm sido, por
exemplo, o encerramento de serviços de saúde de proximidade, que “eram
essenciais”.
Esta situação
obriga as pessoas a deslocarem-se e a terem ainda maiores encargos financeiros,
frisou, alertando também para o facto de muitas doentes estarem a deixar de ir
ao médico e a parar os tratamentos porque não terem dinheiro para os pagar.
Por outro lado, há
outro fenómeno que é comum nestes países e que deve ser um motivo de
preocupação: O aumento da desconfiança das pessoas relativamente às
instituições europeias e nacionais, concretamente aos políticos e às políticas
que são apresentadas”, disse à Lusa.
“O receio é que
esta desconfiança se venha a instalar e seja difícil recuperá-la nos próximos
anos, sendo tão necessária a confiança para que todos participem na recuperação
económica e social destes países que estão a ser intervencionados”, salientou.
Outro motivo de
preocupação para os relatores do documento é o discurso que “o pior da crise já
passou”.
“Parece-nos que
esta afirmação ainda é muito temerária porque a crise, no nosso entender, ainda
não passou e as suas consequências continuam a ser evidentes”, como pessoas
ainda a serem “empurradas pela primeira vez para situações de pobreza”.
O responsável
alertou ainda para os “números significativos” da emigração, adiantando que nos
meados deste ano terão saído do país 200 mil portugueses.
Dados do Instituto
Nacional de Estatística (INE) referem que o número de portugueses em risco de
pobreza aumentou entre 2011 e 2012, atingindo 18,7% da população (quase dois
milhões de pessoas).
HN//GC – Lusa –
foto Manuel de Almeida
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