quinta-feira, 10 de abril de 2014

LESTE DA UCRÂNIA CONTINUA A RESISTIR



Maria Balyabina – Voz da Rússia

Os ativistas que ocuparam a sede local do Serviço de Segurança da Ucrânia em Lugansk afirmam que a cidade se prepara para seguir o exemplo de Carcóvia e Donetsk, que proclamaram “Repúblicas Populares”.

Em Lugansk, tal como nas regiões vizinhas, os manifestantes preparam-se para rechaçar o assalto policial, que pode ocorrer nos próximos dias. Enquanto isso, em Carcóvia foram processados quatro manifestantes, detidos terça-feira.

Os ativistas pró-russos que bloqueiam a sede do Serviço de Segurança em Lugansk lançaram um manifesto aos cidadãos onde dizem que “não admitem o golpe militar de Kiev”. Os manifestantes explicaram que as suas ações são motivadas pelo desejo de resistir à “junta de Kiev” e às suas reformas no Sudeste do país.

No intuito de manifestar o seu apoio aos manifestantes, os habitantes de Lugansk organizaram um acampamento junto da sede do Serviço de Segurança da Ucrânia. As pessoas, desarmadas, que cercaram este prédio estão prontas a enfrentar os agentes de operações especiais ucranianos e os radicais das organizações nazistas, diz o politólogo Alexander Gusev.

“Esta é uma prova de que as pessoas passaram a ter consciência da necessidade do avançar sem o poder ucraniano e apoiaram os que protestam em Carcóvia e em Donetsk. No plano econômico, são precisamente estas regiões que formam a base do sistema. Elas já estão cansadas de saber que as autoridades as enganam, que não resolvem os seus problemas, não cuidam delas e espalham boatos de que estas regiões vivem à custa das subvenções do governo central”.

Enquanto o ministro do Interior da Ucrânia, nomeado pela Suprema Rada, isto é, o parlamento ucraniano, está disposto basicamente a esmagar o protesto à força bruta, os manifestantes propõem um modo político de solução do conflito. O quartel-general da resistência popular informa que os representantes do grupo promotor realizam conversações com os representantes das autoridades de Kiev e procuram explicar-lhes as suas exigências.

Mas é pouco provável que as autoridades autonomeadas de Kiev, que tratam agora de enviar para o Leste do país tropas nazistas e unidades blindadas, sejam capazes de fazer alguma concessão. Elas encaram estas regiões como suas colônias, entregam o poder local aos oligarcas e praticamente entregam a população, como servos, juntamente com os territórios onde vivem, afirma o analista especializado em problemas ucranianos Bogdan Bespalko.

“Alguém pode fazer concessões quando reconhece o direito do interlocutor à sua própria opinião mas as autoridades de Kiev não encaram esta gente como interlocutores iguais. É possível que haja concessões, mas elas não irão ultrapassar o limite de concessões táticas. "Vamos prometer tudo que quisermos e mais tarde vamos enforcar-los". Se os políticos ucranianos fossem sábios, nomeariam Gubarev chefe da região de Donbass. Então a tendência de repulsa em relação ao poder central seria muito menor. Mas imaginar um governo golpista central - produto da ideologia nacionalista, empenhando-se em conceder amplos direitos aos habitantes da Novorossia, isto é, ao Sudeste da Ucrânia, seria o mesmo que imaginar Hitler empenhando-se em conceder direitos aos judeus do Terceiro Reich”.

Os preparativos para rechaçar o assalto realizam-se não somente em Lugansk. O grupo promotor que bloqueou a sede da administração regional de Donetsk também se recusa a deixar as suas posições e fortalece as barricadas nas proximidades do edifício. Centenas de militantes continuam na rua aguardando o assalto a qualquer instante. O quartel-general da milícia popular afirma que, se for necessário, poderá reunir até dez mil partidários.

Aí não admitem que seja repetido o roteiro de Carcóvia, onde a milícia popular foi expulsa da sede da administração local dois dias depois de a ter ocupado. Naquele caso foram presos mais de sessenta militantes. Quatro deles já foram processados. O tribunal determinou que três deles devem pagar uma caução no valor de cerca de 15 mil dólares e para o quarto, a soma da caução ultrapassa os sete mil dólares. Tem-se a impressão de que as autoridades estão atemorizadas, elas próprias, com o eventual emprego da força e cuidam de “fazer marcha atrás”. É que as medidas duras irão agravar a situação ainda mais”, assevera Bogdan Bespalko.

“Esta gente será metida em prisão preventiva ou transferida para Kiev. Neste caso não teremos nenhuma informação dela. Mas vemos que a detenção de Gubarev, da mesma maneira que a detenção de Davydchenko, não fazem as pessoas renunciar à luta. Ocorre o contrário, em seu lugar vêm novos ativistas. Ao acionar o “rolo compressor” das repressões, eles intensificam também a campanha de protestos no Sudeste. A detenção ou outra medida coerciva, caso seja muito cruel, de nada adianta para cessar os protestos em Carcóvia e em outras regiões”.

No entanto, o agravamento da situação pode ser, inclusive, vantajoso para certas forças em Kiev que pretendem frustrar a realização das eleições marcadas para maio deste ano. Em particular, os peritos são unânimes na opinião de que este roteiro será conveniente para Yulia Tymoshenko que está perdendo a corrida eleitoral para o seu adversário mais próximo, Piotr Poroshenko.

Foto  RIA Novosti/Irina Gorbaseva

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