quarta-feira, 21 de maio de 2014

Acordo marítimo pode ajudar Timor-Leste a enfrentar pobreza




Jacarta, 20 mai (Lusa) - O Programa de Ação Estratégica para proteger os mares de Arafura e Timor representa uma "nova oportunidade" para Timor-Leste enfrentar a pobreza através da "economia azul", defendeu hoje na Indonésia o responsável pelo projeto, Tonny Wagey.

O programa foi assinado quinta-feira em Manado, na Indonésia, pelo ministro da Agricultura e das Pescas de Timor-Leste, Mariano Assanami Sabino, o ministro dos Assuntos Marítimos e das Pescas da Indonésia, Sharif Cicip Sutardjo, e o embaixador da Austrália na Indonésia, Greg Moriarty, e deverá ter efeitos na vida de milhões de pessoas.

Com uma economia assente sobretudo nas receitas do petróleo e na agricultura, Timor-Leste, considerado um dos países mais pobres do mundo, tem uma "nova oportunidade" na "economia azul", dado que grande parte da população vive nas zonas costeiras, disse à Lusa Tonny Wagey, após regressar a Jacarta.

O responsável advertiu que a "pesca ilegal" tem consequências na "segurança alimentar" e no desemprego das populações costeiras e ainda nas exportações, devido às capacidades limitadas de patrulha em Timor-Leste e na Indonésia.

A pesca ilegal traduz-se em perdas anuais de dois mil milhões de dólares (1,46 mil milhões de euros) na Indonésia, sendo que em fevereiro passado também o Presidente da República de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, deu conta de perdas de "milhões de dólares" no seu país.

Tonny Wagey disse ainda que o mecanismo para a gestão sustentável do ecossistema marinho e costeiro da região visa combater a "erosão costeira", um "grande problema em Díli e na costa do sul", bem como evitar a "destruição dos recifes de coral" - uma das atrações turísticas do país -, resultante da "acidificação" provocada pelas alterações climáticas.

A região, - igualmente rica em petróleo e gás, o que continua a motivar disputas territoriais entre a Austrália e Timor-Leste -, sofre também com a poluição provocada por derrames e por resíduos lançados ao mar.

O programa estabelece vários objetivos para dez anos, como reduzir a pesca ilegal "entre 10 a 15 por cento", melhorar a "proteção em 10 a 20% de importantes habitats de espécies marinhas migratórias ameaçadas" e o "estabelecimento de planos de gestão para mais de 60% das aldeias costeiras em risco".

De acordo com Tonny Wagey, o programa envolverá ainda formação junto das comunidades costeiras e uma aposta na rentabilização dos recursos na região, indo além da mera venda de matérias-primas.

A proteção da zona marinha começou a ser equacionada em 2002 - quando "as relações entre a Indonésia e Timor-Leste ainda eram bastante tensas", devido à ocupação indonésia do país vizinho -, recordou, justificando a demora na implementação com a dificuldade em reunir apoios.

O programa tem contado com o apoio técnico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e é financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente e pelos governos dos três países, mas Tonny Wagey admite pedir apoios a outras entidades, como "a União Europeia, através de Portugal", e ao setor privado, porque as verbas atuais, "quase nove milhões de dólares" (6,57 milhões de euros), não são suficientes.

Após quatro anos de estudo, inicia-se agora a preparação para a fase da implementação do programa, que deverá ter início "talvez no final do próximo ano", informou Tonny Wagey, segundo o qual será instalado um secretariado em Bali dentro de dois ou três anos.

AYN // APN - Lusa

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