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Cavaco Silva desmaia a meio do discurso de 10 de junho e é retirado em braços |
Fernanda
Câncio – Diário de Notícias, opinião
Houve
o deslumbrante, comovente até, elogio de Teresa Leal Coelho ao Tribunal
Constitucional, em forma de milagre das rosas: a maioria confessando que quis e
acreditou nomear comissários políticos descobrindo, atónita e vingativa, que
lhe saíram juízes do regaço. Houve a reação vagal de quem há muito vagou o
lugar e que, 20 minutos de ausência depois, achou, apesar (por causa?) dos
diretos de todas as TV, não dever uma palavra, uma justificação, um módico de
boa educação, ao País no dia dele - decerto crendo que, neste caso como nos
outros, se fingir que não se passou nada, é como se nada se tivesse passado.
Tanta
coisa nesta semana. Mas não vou, como o desmaiado vacante, retomar o discurso
como se não tivesse caído. Os nomes das pessoas que esta semana receberam
notificação de despedimento no grupo editorial do DN ocupariam esta coluna toda
- pensei usá-la assim. Mas seria uma outra forma de não me obrigar a falar
sobre isso. De guardar o silêncio envergonhado, embaraçado, que os jornalistas
guardam sobre as suas tragédias, nós que corremos a "cobrir" as dos
outros, os despedimentos dos outros, as lágrimas, desalento e desespero dos
outros, para fazer delas posto de espreita sobre o mundo.
Somos
isso, temos essa missão: espécie de guarda avançada, cega, lenta, à procura de
sinais. De vez em quando, os sinais vêm ter connosco. Abalroam-nos. Inevitável,
diz a gestão deste grupo: que é "a única forma". Posso vir a
acreditar nisso. Mas preciso que me expliquem. Que me demonstrem. Que me oiçam;
quem sabe tenho, temos, ideias para ajudar a resolver o problema. A lei, esse
tão infrequentável luxo nos tempos que correm, diz que os jornalistas "têm
o direito de participar na orientação editorial do órgão de comunicação social
para que trabalhem, bem como a pronunciar-se sobre todos os aspectos que digam
respeito à sua actividade profissional". A lei diz isto porque reconhece
aos jornalistas uma natureza específica, especial: somos fundamentais para a
democracia. Mas poderemos sê-lo, com o que isso implica de independência, de
segurança, de intrepidez e resistência, se formos tratados, nós que somos
supostos averiguar sobre tudo, investigar sobre tudo, ter uma perspetiva sobre
tudo, uma narrativa sobre tudo, afrontar tudo e todos, como se não tivéssemos
capacidade de perceber o que nos acontece e porquê, riscar uma palavra sequer
sobre isso?
E,
o que é mais, se nos deixarmos assim tratar. Será assim tão impossivelmente
heróico cumprir os nossos deveres e exigir os nossos direitos? Com que cara
pediremos amanhã a alguém que dê a cara no nosso jornal, se não damos a cara
por ele, pelo jornalismo, por nós? Com que cara continuaremos como se nada se
tivesse passado, à espera de cair de vez?
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