quarta-feira, 9 de julho de 2014

Guiné Equatorial: Apoios a Malabo crescem com interesses e negócios



NUNO RIBEIRO - Público

Prémio UNESCO-Guiné Equatorial para a investigação das ciências da vida não foi mais polémico porque designação inicialmente prevista não vingou.

A entrada da Guiné Equatorial como Estado de pleno direito na CPLP é mais um passo na persistência de Teodoro Obiang em quebrar o isolamento internacional do seu país. Um percurso feito de várias iniciativas, tão surpreendentes como ousadas. Apenas um exemplo: criou um prémio com a chancela da UNESCO. Em 17 de Julho de 2012, foi outorgado o prémio UNESCO-Guiné Equatorial para a investigação das ciências da vida.

O nome do galardão, com um prémio pecuniário de três milhões de euros, não deixa de ser um sarcasmo. O país presidido consecutivamente desde 1979 por Obiang é acusado de desrespeito pelos direitos humanos. O caso não foi mais escandaloso porque, depois de muita polémica no seio da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, foi abandonada a designação originária. O prémio esteve para se chamar Teodoro Ngema Obiang.

Recentemente, em 26 e 27 de Junho, a capital guineense foi palco da cimeira da União Africana, o que originou um cortejo de caravanas oficiais e presença de dirigentes políticos. O espanhol Mariano Rajoy terminou com a ausência de um chefe do Governo do seu país em Malabo, que datava de uma visita de Felipe González em 1991, para angariar votos à candidatura de Espanha ao Conselho de Segurança da ONU, que se decide na Assembleia Geral do Outono. Mais de um quarto dos votos da Assembleia Geral reside em África.

A presença de Rajoy em Malabo levou-o a chegar mais tarde ao Conselho Europeu de Bruxelas, em cujo jantar foi representado por Pedro Passos Coelho. Um mês antes, nas cerimónias fúnebres de Adolfo Suárez, em 31 de Maio, o primeiro-ministro espanhol evitara, no entanto, encontrar-se com Obiang. Aliás, o Presidente da Guiné Equatorial foi o único chefe de Estado estrangeiro presente em Madrid.

Hoje, a presença internacional na Guiné Equatorial é multifacetada. A segurança de Obiang é marroquina, os serviços secretos foram treinados pela Mossad, os israelitas controlam dois hospitais, em Bata e na capital, Malabo, e a diplomacia anota uma alteração das reticências norte-americanas, apesar de, em 2012, os Estados Unidos terem emitido um mandado de captura internacional contra o filho do Presidente. Teodorin Obiang é acusado de corrupção e de compra de bens e propriedades através de práticas criminosas.

Brasil tem marcado presença?Para além das boas relações que a Guiné Equatorial mantém com os países africanos da CPLP, o Brasil tem marcado presença de destaque naquele país. Em 4 e 5 de Julho de 2010, em Malabo, o então Presidente Lula da Silva manifestou a Obiang apoio à entrada do seu país na CPLP. À imprensa brasileira, Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, foi claro e conciso: “Negócios são negócios.” Lula voltou à Guiné Equatorial, já como ex-Presidente. Em 2011, como representante duma missão oficial brasileira e, em 13 de Março do ano passado, para uma reunião com o primeiro-vice-presidente, Ignácio Milán, tendo participado num evento sobre o modelo brasileiro de desenvolvimento económico e inclusão social.

A ofensiva brasileira na África subsariana tem interesses económicos. A Guiné Equatorial, terceiro país produtor da África subsariana depois da Nigéria e Angola, exporta petróleo para o Brasil e as construtoras brasileiras estão presentes e atentas às oportunidades de negócios em infra-estruturas.

Existe, ainda, outra dimensão, a geopolítica, que não afecta apenas o Brasil, mas também outros parceiros da CPLP. Para Angola, Cabo Verde, São Tomé e Guiné-Bissau, o país de Obiang é vital para o controlo do sistema de transportes e de comunicações no sensível Golfo da Guiné. A situação desta área, que preocupa Portugal, é, aliás, tema de uma conferência na próxima sexta-feira no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa. Por outro lado, Luanda, a partir da Guiné Equatorial, também dispõe de uma espécie de “varanda” sobre a Nigéria, país com o qual tem uma rivalidade geopolítica.

Foi nesta confluência de interesses que foram gerados os apoios a Malabo e liquidada a margem de manobra portuguesa.

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