NUNO RIBEIRO - Público
Prémio
UNESCO-Guiné Equatorial para a investigação das ciências da vida não foi mais
polémico porque designação inicialmente prevista não vingou.
A
entrada da Guiné Equatorial como Estado de pleno direito na CPLP é mais um
passo na persistência de Teodoro Obiang em quebrar o isolamento internacional
do seu país. Um percurso feito de várias iniciativas, tão surpreendentes como
ousadas. Apenas um exemplo: criou um prémio com a chancela da UNESCO. Em 17 de
Julho de 2012, foi outorgado o prémio UNESCO-Guiné Equatorial para a
investigação das ciências da vida.
O
nome do galardão, com um prémio pecuniário de três milhões de euros, não deixa
de ser um sarcasmo. O país presidido consecutivamente desde 1979 por Obiang é
acusado de desrespeito pelos direitos humanos. O caso não foi mais escandaloso
porque, depois de muita polémica no seio da Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura, foi abandonada a designação originária. O prémio
esteve para se chamar Teodoro Ngema Obiang.
Recentemente,
em 26 e 27 de Junho, a capital guineense foi palco da cimeira da União
Africana, o que originou um cortejo de caravanas oficiais e presença de
dirigentes políticos. O espanhol Mariano Rajoy terminou com a ausência de um
chefe do Governo do seu país em Malabo, que datava de uma visita de Felipe
González em 1991, para angariar votos à candidatura de Espanha ao Conselho de
Segurança da ONU, que se decide na Assembleia Geral do Outono. Mais de um
quarto dos votos da Assembleia Geral reside em África.
A
presença de Rajoy em Malabo levou-o a chegar mais tarde ao Conselho Europeu de
Bruxelas, em cujo jantar foi representado por Pedro Passos Coelho. Um mês
antes, nas cerimónias fúnebres de Adolfo Suárez, em 31 de Maio, o
primeiro-ministro espanhol evitara, no entanto, encontrar-se com Obiang. Aliás,
o Presidente da Guiné Equatorial foi o único chefe de Estado estrangeiro
presente em Madrid.
Hoje,
a presença internacional na Guiné Equatorial é multifacetada. A segurança de
Obiang é marroquina, os serviços secretos foram treinados pela Mossad, os
israelitas controlam dois hospitais, em Bata e na capital, Malabo, e a
diplomacia anota uma alteração das reticências norte-americanas, apesar de, em
2012, os Estados Unidos terem emitido um mandado de captura internacional
contra o filho do Presidente. Teodorin Obiang é acusado de corrupção e de
compra de bens e propriedades através de práticas criminosas.
Brasil
tem marcado presença?Para além das boas relações que a Guiné Equatorial mantém
com os países africanos da CPLP, o Brasil tem marcado presença de destaque
naquele país. Em 4 e 5 de Julho de 2010, em Malabo, o então Presidente Lula da
Silva manifestou a Obiang apoio à entrada do seu país na CPLP. À imprensa
brasileira, Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, foi claro e
conciso: “Negócios são negócios.” Lula voltou à Guiné Equatorial, já como
ex-Presidente. Em 2011, como representante duma missão oficial brasileira e, em
13 de Março do ano passado, para uma reunião com o primeiro-vice-presidente,
Ignácio Milán, tendo participado num evento sobre o modelo brasileiro de
desenvolvimento económico e inclusão social.
A
ofensiva brasileira na África subsariana tem interesses económicos. A Guiné
Equatorial, terceiro país produtor da África subsariana depois da Nigéria e
Angola, exporta petróleo para o Brasil e as construtoras brasileiras estão
presentes e atentas às oportunidades de negócios em infra-estruturas.
Existe,
ainda, outra dimensão, a geopolítica, que não afecta apenas o Brasil, mas
também outros parceiros da CPLP. Para Angola, Cabo Verde, São Tomé e
Guiné-Bissau, o país de Obiang é vital para o controlo do sistema de
transportes e de comunicações no sensível Golfo da Guiné. A situação desta
área, que preocupa Portugal, é, aliás, tema de uma conferência na próxima
sexta-feira no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa. Por outro
lado, Luanda, a partir da Guiné Equatorial, também dispõe de uma espécie de
“varanda” sobre a Nigéria, país com o qual tem uma rivalidade geopolítica.
Foi
nesta confluência de interesses que foram gerados os apoios a Malabo e
liquidada a margem de manobra portuguesa.
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