Mário
Motta, Lisboa
Confesso
a minha ignorância acerca de muita coisa que acontece por este mundo, ainda
mais em economia e finanças (exceto na doméstica), e muito mais em ciências. E noutras
matérias. Em suma: assumo-me um grande ignorante que mal sabe ler, escrever e
contar. Reconheço que isso é da competência dos doutores. Principalmente os
engravatados e de colarinho branco, que todos os dias vimos nas televisões a
partilhar as suas sapiências.
Dito
isto avanço. Tenho para mim que estamos a ser invadidos por clones,
sequestradores das elites portuguesas (quiçá mundiais) que substituem abusiva e
criminosamente o governo bom para exercer um mau governo (exceto para as suas
conveniências). O mesmo se passa na Presidência da República. Agora,
flagrantemente, até acontece com banqueiros de honestidade inquestionável, como
é o caso de Ricardo Salgado, do caso BES. E se recuarmos no tempo podemos
lembrar Oliveira e Costa do BPN, e outros, e outros. Tudo membros de uma elite
imaculada que de repente descambam para mentirosos, vigaristas e ladrões. Tenho
para mim, repito, que esses tais vagabundos não são os originais, os de facto
paridos pelas mãezinhas, mas sim os clones malvados que nos enfernizam a vida e
depauperam sem escrúpulos nem contemplações o país inteiro.
Pode
lá ser, no caso de Salgado, o original banqueiro ter feito tanta trapaça. Assim
como não devemos acreditar que o Oliveira e Costa do BPN seja o original. Nem Cavaco
Silva, que recebeu favores do Oliveira e Costa clone, tendo ganho com isso uns
largos milhares quase sem ter tempo de espirrar. E a filha daquele Cavaco clone
também. Se calhar nem foi ele que trocou a sua casa do coração no Algarve, a
Vivenda Mariana, por uma aparatosa mansão em condomínio fechado na Aldeia da
Coelha. Nem foi ele que tentou ludibriar o Fisco naquela “história” da Sisa.
Impossível. Nanja tais atos reprováveis, até imorais num país de tanta pobreza,
de um homem honesto e escrupuloso, impoluto, como Cavaco original. Só pode ser
um clone. Muito provavelmente até naquela Aldeia da Coelha de uns quantos o
condomínio é só de clones. Isto porque Oliveira e Costa é vizinho de Cavaco
ali. E outros das elites portuguesas cujos originais são realmente insuspeitos.
Quanto aos clones… Ponho as minhas sérias dúvidas. Até certezas, por causa dos
filingues.
Repare-se,
por exemplo, neste malvado clone de Pedro Passos Coelho. O original, na
campanha eleitoral disse verdades e prometeu responsavelmente o que sabia que
podia prometer. Saiu o resultado das eleições. Soube-se que Passos Coelho ia
ser primeiro-ministro. Tomou posse. Suspeito que logo ali avançou o clone. Que
passou a governar ao contrário daquilo que o Passos original governaria com a
sua característica transparência, sensibilidade, independência, patriotismo,
autenticidade, verdade. Este Passos que vimos nos telejornais só pode ser um
clone do original e tão honesto individuo que conhecemos desde jovem. Um jovem
talentoso de capacidades superiores e bem talhado para a missão de governar. Infelizmente
alguém, alguma organização estuporada e criminosa o substituiu por um clone. O
descalabro, o resultado, está à vista. Para mal de todos nós.
A
invasão de clones até passou a ser notória entre os imensos comentadores
políticos da escrita e das televisões. Nas televisões é flagrante. Marques
Mendes, que no original é um cidadão impecável e coerente, fazia críticas
severas ao comportamento do clone Passos Coelho, ao já ido Vítor Gaspar,
ministro das Finanças, a todo o governo de modo geral pelas políticas
empreendidas. De um momento para o outro surge um Marques Mendes diferente, o
contrário do original, claro. Ali só podemos ver um clone do piorio que apoia
os seus comparsas clones sem vergonha. E isso nem é difícil de detetar em todos
os clones. Eles são desprovidos de vergonha e de qualidades e sentimentos
humanos como os conhecemos e consideramos imprescindíveis aos eleitos e das
elites que devem governar bem e não governarem-se selvagem e despudoradamente.
Marques Mendes é só um exemplo. Mas quantos clones não haverá assim em
Portugal? Olhem que às vezes até o professor Marcelo… Às vezes desconfio de que
aquele que aparece no ecrã seja um clone.
Clones
e mais clones. Sendo assim o mesmo se deve passar com imensos políticos e
banqueiros. Com gestores e outros doutores. Urge saber quem arrecadou os
originais e fez avançar para cargos tão importantes os clones que nos mentem e
nos roubam impunemente.
A
pergunta que se põe: onde estão os originais? Será este um caso de polícia? Cá
para mim é. Investiguem e encontrem os autênticos, os bons, os honestos. Cá
para mim, fazerem-se passar pelos portugueses excelentíssimos da elite nacional
é crime. Levem todos estes clones para a choça e que por lá fiquem a ver o sol
aos quadradinhos.
Não
fosse a minha enorme ignorância e podem acreditar que eu descobria os
originais. Assim traria absoluta inquestionabilidade aos meus palpites. Mais
que palpites.
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