Filipe
Paiva Cardoso – jornal i
PT
desvalorizou 80% desde 2004 mas salários e prémios da administração ficaram
iguais. Maior prémio aos gestores desde 2006 foi pago agora, quando perderam
900 milhõesno GES
Este
ano a Portugal Telecom expatriou todos os seus activos para o Brasil e viu
desaparecer quase 900 milhões de euros que os seus gestores decidiram emprestar
ao Grupo Espírito Santo. As perdas foram impostas aos accionistas da PT, que
ficaram com a fatia na Oi reduzida por culpa desta aposta, tornando a absorção
da operadora portuguesa pela empresa brasileira um negócio ainda mais penoso.
Resultado? A administração recebeu salários e bónus como não se viam desde
2006, totalizando mais de 12,1 milhões de euros este ano.
Desde
2004, os diferentes conselhos de administração da Portugal Telecom e suas
ramificações - conselho geral ou conselho fiscal, por exemplo -, cus- taram à
empresa 117 milhões de euros. Limitando a análise a administradores executivos
e não executivos, a remuneração destes totalizou 112,74 milhões de euros no
mesmo período, mais de 10 milhões de euros anuais, a grande maioria dos quais
em remuneração variável. É que, independentemente dos resultados, esta
"variável" é sempre paga, nunca tendo caído abaixo dos 2,2 milhões
desde 2004 e superando os 3 milhões anuais em oito dos 11 anos em questão,
incluindo 2014. Variável ma non troppo , portanto. Basta ver que no
período analisado a PT desvalorizou 80%, mas nada disso se nota no nível de
remuneração fixa ou variável dos seus administradores. Cortes só mesmo nos
salários dos colaboradores.
Nos
anos analisados, com mais ajuda da componente fixa ou mais ajuda da variável, a
administração executiva e não executiva da PT ganhou sempre entre o mínimo de 6,9
milhões e o máximo de 21 milhões de euros de remuneração anual - desde 2009 que
não ganham menos de 7 milhões.
Sensivelmente
no mesmo período, a ex-empresa portuguesa passou de um custo médio anual por
colaborador em Portugal de 38,5 mil euros para 30,4 mil euros, uma redução de
21% entre 2005 e 2013, anos durante os quais a PT reduziu mais de 1300 o número
dos colaboradores dos seus quadros portugueses. Eram mais de 8800 em 2005 e em
2013 nem chegavam a 7600 - a análise foi fechada aos colaboradores que
trabalham em Portugal na rede móvel e na rede fixa sem contar com a PT
Multimédia, para estabelecer uma base comparável para todo o período.
As
duas realidades salariais da PT, entre administração e custo médio por
colaborador, evidenciam assim a disparidade salarial entre gestores executivos
e o colaborador médio da empresa: um trabalhador com um salário médio da PT
precisa de 30 anos para ganhar o que um administrador ganha num ano - o
administrador executivo levou para casa em média 735 mil euros de remuneração
em 2013 e o colaborador médio pouco menos de 25 mil euros em remunerações. Pondo
a questão de outra forma: entre 2014 e 2044 este colaborador vai receber quase
725 mil euros em salários, valor mesmo assim aquém do que o seu executivo
ganhou só no ano passado.
Se
as remunerações variáveis para a administração vão oscilando entre altas e mais
altas, os variáveis recebidos pelos colaboradores têm vindo a cair. "Os
custos com pessoal diminuíram 8,2% face a 2010, para 252 milhões, em resultado
do enfoque na redução de custos, incluindo menores remunerações variáveis e
horas extra", lê-se nas contas de 2011 da PT. No ano seguinte o mesmo: os
custos com pessoal diminuíram em parte devido "a um menor nível de
remunerações variáveis".
PT
DESAPARECEU DESDE 2004
Além
da forte desvalorização bolsista desde 2004, sem reflexo nos ganhos dos
administradores, é de salientar que neste período a PT foi sendo desvalorizada
por iniciativa dos seus gestores. Primeiro quando combateram a OPA de Paulo
Azevedo e da então Sonaecom a qualquer custo - incluindo dividendos anuais
recorde e a cedência da PT Multimédia aos accionistas -, e depois ao vender a
Vivo, distribuindo quase tudo pelos accionistas. Por fim, Zeinal Bava negociou
a cedência dos activos da PT à brasileira Oi a troco de um quarto das acções
daquela operadora e da sua ida para CEO da Oi. Resultado: uma acção que valia
10,2 euros no início de 2004 vale hoje 2,16 euros. Mas os salários e os prémios
para a gestão permanecem ao mesmo nível.
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