Rafaela Burd Relvas – Dinheiro Vivo
Independentistas
garantem que Escócia tem recursos financeiros suficientes. O "não"
defende a "segurança" britânica
"Deve
a Escócia ser um país independente?" É a esta pergunta que os mais de 4
milhões de eleitores escoceses vão responder "sim" ou
"não", no referendo que se realiza a 18 de setembro, quinta-feira.
Saiba o que está em causa.
De
onde surgiu a ideia?
Em
2011, o Scottish National Party (SNP), que luta pela independência da Escócia
desde que foi fundado, em 1933, foi eleito por uma maioria sem precedentes para
o parlamento escocês.
Um
ano depois, o primeiro-ministro escocês, Alex Salmond, e o primeiro ministro do
Reino Unido, David Cameron, assinaram o chamado "Acordo de
Edimburgo", que deu ao parlamento escocês o poder legal para realizar o
referendo.
O
que defende quem diz "sim"?
O
The Guardian sintetiza o argumento principal: "não há razão para a que a
Escócia não possa controlar o seu próprio destino, ficando em pé de igualdade
com Inglaterra e ocupando o seu lugar no mundo".
Mas
os argumentos pela independência chegam a todas as áreas. Da necessidade de
apoio financeiro às empresas escocesas até ao acesso gratuito ao ensino
superior, passando pela proteção do serviço nacional de saúde e do sistema de
pensões.
Acima
de tudo, os independentistas têm uma resposta muito simples para a pergunta
"porquê o sim?". Porque podem. "A Escócia tem os recursos financeiros
para se tornar independente", garante a campanha Independent Scotland. A prová-lo está, por exemplo, uma
análise do Financial Times, que mostra que a Escócia tem um dos 20
rendimentos per capita (a preços de mercado) mais elevados do mundo, estando,
aliás, à frente do conjunto do Reino Unido, com 43,4 mil dólares.
Além
disso, a independência daria à Escócia o controlo de cerca de 90% das reservas
de petróleo e gás natural do Mar do Norte. Na prática, os escoceses ficariam
com 81% das receitas da exploração de gás e petróleo, que valem, atualmente,
entre 6 mil milhões e 12 mil milhões de libras por ano (7,4 mil milhões de
euros e 14,9 mil milhões de euros, respetivamente).
O
"sim" significaria ainda uma maior igualdade salarial e mais emprego,
graças à afirmação da Escócia enquanto fornecedor de energia à escala global e
à criação de novos serviços e departamentos públicos que resultariam da
independência.
E
quem diz "não"?
Pertencer
ao Reino Unido é o melhor dos dois mundos. "O que significa, na prática, é
que temos todas as coisas fantásticas que fazem de nós a Escócia e temos,
também, a segurança de ser parte de uma das maiores economias do mundo. Temos o
nosso próprio parlamento a decidir sobre a nossa saúde, educação e serviços de
emergência e partilhamos os riscos e recompensas com o resto do Reino Unido,
quando faz sentido que assim seja": É desta forma que a campanha Better
Together apela ao "não" no referendo de dia 18.
E apresenta os
factos. A Escócia exporta mais para o Reino Unido do que para o mundo
inteiro (em 2012, 65% das exportações escocesas tiveram como destino o Reino
Unido). Por isso, defende a campanha, o Reino Unido significa mais
prosperidade, mais comércio e mais emprego. Aliás, a campanha refere que 1 em
cada 5 escoceses está empregado numa empresa com base noutro lugar do Reino
Unido que não a Escócia.
Além
disso, apesar de as decisões relativamente ao sistema de saúde serem feitas
exclusivamente pelos escoceses, são os contribuintes do conjunto do Reino Unido
que suportam este sistema. Assim, o país beneficia de investimento em
investigações clínicas e de acesso a tratamento especializado em qualquer parte
do Reino Unido, refere a campanha.
A
"força e a segurança" da libra esterlina é outra das principais
razões para o não à independência, assim como as faturas de energia mais baixas
a que os escoceses têm direito enquanto cidadãos britânicos.
Que
consequências terá o "sim"?
A
vencer o "sim", terão início as negociações para a separação da
Escócia do resto do Reino Unido. O governo escocês propôs que a independência
seja efetiva a partir de 24 de março de 2016. Um prazo que, para os opositores
da independência, é demasiado curto para que as autoridades possam decidir
sobre assuntos como a divisão de ativos e obrigações britânicos ou adesão da
Escócia à União Europeia, por exemplo.
O
que acontece à moeda?
O
SNP propõe que uma Escócia independente continue a usar a libra, estabelecendo
uma união monetária com o Reino Unido. Os três principais partidos de
Westminster rejeitam, porém, uma união monetária. De acordo com o
Financial Times, a Escócia poderá, ainda assim, continuar a usar a libra, uma opção
a que a imprensa britânica chama de "esterlinização" e que consiste
em usar a libra de forma informal. É uma abordagem que assusta os mercados,
aponta o The Guardian. "A falta de uma união monetária formal pode levar a
uma fuga de capital da Escócia, pressionando as condições financeiras nesse
país", refere um analista do BNP Paribas, citado pelo The Guardian.
A
alternativa, diz o Financial Times, é a introdução de uma nova moeda,
indexando-a à libra esterlina ou sujeitando-a a uma taxa flutuante.
E
a União Europeia?
Este
seria um caso sem precedentes na história da UE. O SNP está comprometido em
manter a Escócia como Estado-membro da União, argumentando que esta questão
pode ser discutida ainda antes do dia da independência proposto. Mas alguns
líderes europeus, incluindo Durão Barroso, consideram que a independência
significaria o adeus da Escócia à União Europeia e um processo difícil de re-adesão.
Ainda
assim, alguns especialistas defendem que dificilmente a União Europeia quererá
excluir 5,3 milhões de cidadãos europeus.
Isabel
II continua a ser rainha da Escócia?
Para
o SNP, sim. A rainha Isabel II manter-se-ia como monarca da Escócia, sob uma
constituição escrita, tal como é monarca de outros países que já pertenceram ao
império britânico. Mas alguns membros deste partido, assim como vários grupos
pró-independência, esperam que a Escócia venha a tornar-se numa república,
defendendo que este será assunto para outro referendo.
Como
muda a vida dos cidadãos?
Os
cidadãos escoceses terão mais a dizer, e de forma mais direta, sobre o seu
governo, ganhando assim mais liberdade política. Mas terão, por outro lado,
maior risco e menor segurança económica. Para os cidadãos britânicos, as mudanças
não serão muitas, mas a economia do Reino Unido será imediatamente encolhida.
Os britânicos não-escoceses podem contar combustível e whisky mais caro e um
"status" mais fraco à escala mundial.
Se
o referendo fosse hoje, quem ganhava?
A
6 de setembro, uma sondagem do You-Gov dava 51% ao sim e 49%. Mas a campanha de
David Cameron pelo não pode ter dado algum resultado. A última sondagem do
Survation, feita para o Daily Record e divulgada esta quinta-feira, dá 53% ao
não e 47% ao sim.
Na
foto: Alex Salmond, do Scottish National Party, lidera a campanha pelo
"sim" - AFP Photo / Lesley Martin
Publicado em DV 11.09.2014
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