Lynn
Stuart Parramore – Alternet, São Francisco - Opera Mundi
Insegurança
no emprego é a maior preocupação de pessoas com mais de 50 anos e acusações de
preconceito etário no trabalho crescem no país
Em
todos os cantos dos Estados Unidos, milhões de homens e mulheres com
impressionantes conquistas e credenciais profissionais estão sendo colocados de
escanteio ou demitidos. Vasculhando sites de oferta de empregos, se veem
rejeitados até mesmo para as vagas mais básicas no setor de serviços. Não por
serem incompetentes ou por falta de qualificações, mas simplesmente porque têm
alguns fios de cabelo branco. Não apenas pessoas na faixa dos 60 ou 70 anos de
idade; trabalhadores ainda na casa dos 50 de repente se veem lançados na
lixeira, justamente quando se sentem no auge em seus campos de atuação.
Jan,
uma executiva de marketing do sul da Califórnia, tem 51 anos, e já descobriu a
insegurança causada pela idade no mercado de trabalho. Ela estava bem estabelecida
como chefe de marketing de uma grande empresa quando foi demitida em 2009, aos
47 anos. A recessão fez seu estrago, e a empresa dela teve de cortar algumas
pessoas – na maioria, os empregados mais velhos e os mais jovens. A empresa lhe
deu ótimas recomendações e a manteve como consultora por um ano.
Quando
tentou encontrar outro emprego, Jan a princípio se candidatou a cargos
semelhantes ao de seu emprego anterior, em bancos e outras instituições
financeiras. Nada. Mantendo o otimismo, ela ampliou o leque, tentando todos os
anúncios de vagas nas áreas de comunicação e marketing em um raio de 65
quilômetros de sua casa. Ainda nada. Finalmente, começou a procurar emprego no
setor de serviços e ficou chocada ao descobrir que não conseguia sequer entrar
nessa área. Ela tentou uma loja de vestidos de noiva, pensando que teria a
mesma idade das mães das clientes e, por isso, se encaixaria bem. Não a
contrataram. Mesmo uma loja de departamentos a recusou para uma vaga de
balconista. Não lhe revelaram o motivo.
Ao
fazer pesquisas para este artigo, ouvi muitas histórias como a de Jan, de
norte-americanos de todas as camadas sociais. Um pescador profissional com 30
anos de experiência em Tucson, Arizona, enviou dezenas de currículos, e não
obteve nenhuma resposta. Um profissional da área de tecnologia de Ohio com 30
anos de experiência foi demitido depois de 15 anos numa empresa, e agora
trabalha no cargo mais baixo em um serviço de atendimento a clientes, ao lado
de jovens na casa dos 20 anos. São norte-americanos que desceram na escala
social, cujos sonhos de estabilidade e de uma aposentadoria confortável depois
de anos de trabalho estão desaparecendo diante de seus olhos.
Novas
pesquisas mostram que a discriminação por idade pode ser até mais comum e mais
prevalente do que outras formas de preconceito, como a discriminação étnica. De
acordo com um estudo divulgado pelo periódico Age and Ageing, da
Sociedade Britânica de Geriatria, um terço dos britânicos na casa dos 50 anos
ou mais entrevistado pela publicação relatou ter sofrido discriminação por
idade, uma cifra que surpreendeu os pesquisadores. Do atendimento ruim em
restaurantes a maus-tratos em hospitais e até ofensas gratuitas, as pessoas se
sentem cada vez mais desrespeitadas à medida que envelhecem.
A
pesquisadora Isla Rippon, da University College London, afirma que esse tipo de
experiência no dia-a-dia tem impacto na saúde física e mental das pessoas: “A
percepção frequente de discriminação pode ser uma fonte crônica de estresse e
aumentar com o tempo, levando à exclusão social e até à relutância em ir ao
médico”.
Quando
se trata de estresse financeiro, norte-americanos mais velhos dizem que a
insegurança no emprego é a maior preocupação, de acordo com uma pesquisa da
AARP (Organização Norte-Americana de Pessoas Aposentadas, na sigla em inglês).
Muitas pessoas com mais de 50 anos se agarram aos seus empregos, convencidas de
serem vistas como obsoletas e não tão valiosas quanto trabalhadores mais
jovens, apesar da vasta experiência e conhecimento institucional. Segundo o relatório
da AARP, “mais de um terço dos trabalhadores mais velhos não se sentem confiantes
de que encontrariam um novo emprego imediatamente sem ter um corte no salário
ou uma mudança de área (37%). Desses, quase um em cada cinco (19%) dizem que o
motivo de não se sentirem confiantes se deve à discriminação por idade, e 21%
identificaram limitações da idade, tais como sentir que são ‘velhos demais’ ou
limitados de algum modo por causa da idade”.
“É
verdade que trabalhadores mais jovens podem ser mais rápidos”, comenta Ashton
Applewhite, que escreve sobre envelhecer e sobre preconceito etário no site This Chair Rocks. “Trabalhadores mais
velhos são mais lentos, mas também são mais precisos. A idade confere paciência
e habilidades para lidar com as coisas, além da capacidade de lidar com o
estresse.”
A
pesquisa de Applewhite mostra que as equipes de trabalho mais produtivas e
eficientes são aquelas que mesclam grupos de diferentes idades. “Uma equipe com
diferentes perspectivas geracionais tem nova energia, novas possibilidades de
colaboração”, diz ela.
“As
pessoas acham que os mais velhos estão acomodados em seus empregos”, comenta
Applewhite. “Na realidade, a maioria das pessoas mais velhas que trabalham o
fazem porque gostam. As pessoas não deveriam ter a opção – o direito – de
continuar a trabalhar se quiserem? Ninguém quer depender economicamente de
ninguém.” O problema aparece quando trabalhadores mais velhos são colocados de
lado ou não conseguem encontrar empregos decentes, e não têm uma rede de
proteção social adequada. Então eles se tornam dependentes, e essa dependência
só reforça o mito de que são um peso. Quem gostaria de ser um peso por opção?
Houve
uma época em que trabalhadores norte-americanos e seus empregadores tinham
contratos justos. Quanto mais tempo você trabalhava para uma empresa, mais você
ganhava, e quando você se aposentava podia contar com uma aposentadoria.
Nos Estados Unidos, a Lei sobre Discriminação por Idade no Emprego, de 1967,
tornou ilegal que empregadores discriminassem trabalhadores e candidatos a
emprego com 40 anos ou mais com base na idade.
As
coisas começaram a mudar nos EUA nos anos 1980, quando tendências como a
desregulamentação, a terceirização e a pressão para esmagar os sindicatos
começaram a dar aos empregadores mais poder para agir com os empregados da maneira
que lhes conviesse. Chefes começaram a focar mais nos funcionários mais jovens
porque eles são mais baratos e não esperam benefícios como aposentadorias. Eles
podem também ser mais facilmente intimidados.
Atualmente
as acusações de discriminação por idade estão em alta nos EUA, o que geralmente
ocorre durante recessões: em 2012, 22.857 trabalhadores entraram com ações
relacionadas a essa questão na Comissão Federal por Igualdade de Oportunidades
no Emprego, em comparação com apenas 16.548 em 2006.
Jan,
a ex-gerente de marketing, acha que os EUA são especialmente obtusos quando se
trata de lidar com os trabalhadores mais velhos. Ela cita as medidas adotadas
na Alemanha após a crise financeira: “O governo agiu criando incentivos para a
indústria não demitir as pessoas, mas, em vez disso, reduzir a jornada. Aqui
nos EUA isso não aconteceu.” E desabafa: “Empresas americanas não retribuem os
contribuintes e trabalhadores que possibilitaram o seu sucesso. Nós deveríamos
esperar alguma reciprocidade. Deveríamos compensar empresas que não
terceirizam. Deveríamos melhorar a rede de proteção social para ajudar pessoas
que estão desempregadas. Há coisas que eu poderia fazer para beneficiar mais a
comunidade, mas se ninguém quer me contratar, não vejo como isso seja minha
culpa. Especialmente considerando que a economia está produzindo o suficiente
para todos, se isso fosse distribuído com justiça.”
Vivemos
em uma era de obsolescência programada, na qual projetistas deliberadamente
fazem um produto limitado em sua vida útil. Agora essa obsolescência planejada
inclui seres humanos. É realmente um uso eficiente de nosso capital humano
fazer com que trabalhadores experientes se tornem recepcionistas do Walmart?
Tradução:
Maria Teresa de Souza
Matéria
original publicada no site Alternet, portal norte-americano de mídia independente e
alternativa.
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