Sei
que não esqueceram Junho de 2013 e estão com raiva. Mas tentar barrar a
Política de Participação Social pode ser insanidade
Alessandra
Nilo – Outras Palavras
Srs.
Deputados, por favor parem com esse mimimi sobre a inconstitucionalidade
do Decreto Presidencial Nº 8.243. Afinal, qual foi a surpresa, por
que tanto espanto? Essa não foi a primeira (e nem última vez) que recebem um
decreto presidencial, e é fato notório que o executivo quase governa por
Decretos e Medidas Provisórias. Há quanto tempo e por quantas vezes vocês os
receberam e os aprovaram calmamente?
O
tamanho desse incômodo parece mais um preciosismo para esconder
podridões. E, afinal, o que a participação social tem de “insana” ou a ver com
a “existência de 40 ministérios” ou com a escolha do staff governamental? Que
argumentação é essa? Os simulacros não se sustentam mais tão facilmente.
Entendo
que estejam irritados porque as pessoas comuns foram às ruas, disputaram
discursos, ideias. Entendo que Henrique Alves está chateado por ter perdido as
eleições, que metade do PMDB não gostou do resultado; que o PSB está em crise
de identidade e que PSDB e DEM, juntinhos, decidiram apertar o governo.
Entendo, mas não adianta mandar recados, faremos valer nossos direitos.
Entendo
também que a prática dos que rechaçaram o Decreto tem a ver com interesses
partidários pouco republicanos de muitos dos senhores, e apenas corrobora com
uma já generalizada desconfiança, partilhada por todas as classes e meios,
sobre os que legislam para poucos e ignoram a maioria.
Sim,
a realidade não está fácil e o descontentamento paira sobre muitas cabeças.
Entendo
também que os que barraram a Política Nacional de Participação Social
(PNPS)devem estar mesmo com raiva. Saíram de alguma forma derrotados pelas
urnas e sabem o que acontece quando a sociedade ocupa as ruas. Ruas
sempre tão sedutoras… Sei que não esqueceram tão rápido de Junho de
2013. Lembro bem como os senhores voltaram correndo de seus estados,
trabalharam de segunda a sexta em turnos regulares de trabalho, fazendo por pressão
e no grito o que sempre deveriam ter feito, e o que são mais do que bem-pagos
para fazer. Óbvio, estamos conscientes que fizeram muita fita, mas nós não
somos meras plateias, estamos ativas no processo.
Realmente detesto
ter que concordar com os comentários recentes sobre alguns partidos e
parlamentares toscos e anacrônicos que temos, cujas composturas indicam total
desrespeito à democracia. Que feio, senhores. Brincando com fogo?
Não
vai ser tão difícil conseguir aliados. Seja de direitas, de esquerdas, de
centros ou independentes, ainda tem muita gente cujo voto não tem preço. Pela
PNPS, em todas as regiões e partidos será possível conseguir aliados/as.
Desenhando:
40 milhões de pessoas que votaram em branco, mais oito milhões que defendem o
plebiscito sobre a Reforma Política não irão divergir num tentativa tão óbvia
de retrocesso democrático. Qualquer pessoa sabe como funcionam as redes, o
quanto as articulações sociais se multiplicam e como as informações circulam
entre bytes e bits rapidamente. Existem organizações e movimentos, a sociedade
é múltipla e nem sempre tem donos.
Finalmente,
registro que refiro-me apenas aos “Senhores Deputados” porque, de fato, essa
maioria masculina na política deixa muito a desejar. Tenho certeza de que se
fossemos metade + 1 no Congresso, nós, mulheres, iríamos aprovar sem grandes
dramas esse Decreto, uma demanda de anos de uma parte bem significativa da
população brasileira. A situação é, pois, muito grave: além de terem uma noção
limitada e limitante de Democracia, ao que parece, muitos dos Senhores sequer
sabem fazer contas.
Sem
meu voto e sem afeto, despeço-me.
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