domingo, 9 de novembro de 2014

Moçambique: Exportação ilegal de madeira ameaça centenas de carvoeiros




A exportação ilegal de madeira em toros ameaça devolver à pobreza centenas de carvoeiros no bairro da Cerâmica, Sofala, centro de Moçambique, que tinha nas sobras do processamento da matéria-prima o seu sustento, denunciou o grupo à Lusa.

Moçambique aprovou, em maio de 2010, legislação a banir a exportação de madeira em toros, sobretudo sete espécies de madeira de primeira qualidade sem processamento: chanfuta, jambirre, umbila, pau-ferro, mecrusse (cimbirre), panga-panga e mondzo.

Desde então, um grupo de carvoeiros, a maioria mulheres viúvas, inovou a produção de carvão no bairro da Cerâmica, zona limítrofe entre a cidade da Beira e o distrito de Dondo (Sofala), com base em cascas de madeira das sobras de processamento simples para exportação e tinham nesse procedimento o sustento familiar.

Apesar da proibição em vigor, madeira não processada e protegida por lei, continua a ser exportada com "desrespeito reiterado", denunciam relatórios florestais a que a Lusa teve acesso, explicando a pouca saída da casca e consequente explosão de preço de comercialização, levando os carvoeiros a declarar que a iniciativa que os beneficiava não passou de "lavagem de imagem".

"O custo da casca da madeira quase triplicou. Por vezes investimos 4800 meticais (123 euros) de madeira para fazer um forno, o que nos força a fazer sociedade por falta de capital", disse à Lusa Maria Meque, sustentando que os preços elevados estão associados ao retorno de "exportações em toro".

Um relatório, de 2013, da Agência de Investigação Ambiental, organização não-governamental do Reino Unido, aponta que "entre 80% e 90% das árvores derrubadas em Moçambique têm como destino final a China", destinadas aos setores de construção civil e imobiliário.

O valor das exportações de madeira moçambicana para aquele país asiático aumentou de oito milhões de dólares em 2001 para cerca de 100 milhões em 2010.

"O número de pessoas que desiste deste projeto, desincentivadas pelo alto preço da casca da madeira, cresce a cada dia" disse à Lusa o carvoeiro Artur Sebastião, acrescentando que persiste no negócio com medo de "voltar a casar com pobreza".

O negócio de produção de carvão baseia-se na compra das sobras da madeira e construção dos fornos nas bermas da N6, a principal estrada que liga o porto da Beira aos países africanos do interior, junto às gigantes unidades onde é processada a madeira e depois embalada em contentores.

O lucro partilha-se entre o proprietário do terreno, a maioria machambas (quintas) de produção de arroz abandonadas por infertilidade, e o dono do forno, que o aluga aos carvoeiros.

Um forno demora em média sete dias para produzir carvão.

"Quando começámos o negócio o saco de carvão custava 150 meticais (3,8 euros) e agora dobrou o preço, mas o lucro não justifica o esforço", declarou à Lusa Joana Meque, que confessa sentir-se frágil, e assegurando que a debilidade resulta da ingestão de fumo e constante exposição do peito ao aquecimento do forno.

A Lusa tentou ouvir as autoridades locais mas não obteve resposta.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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