A
exportação ilegal de madeira em toros ameaça devolver à pobreza centenas de
carvoeiros no bairro da Cerâmica, Sofala, centro de Moçambique, que tinha nas
sobras do processamento da matéria-prima o seu sustento, denunciou o grupo à
Lusa.
Moçambique
aprovou, em maio de 2010, legislação a banir a exportação de madeira em toros,
sobretudo sete espécies de madeira de primeira qualidade sem processamento:
chanfuta, jambirre, umbila, pau-ferro, mecrusse (cimbirre), panga-panga e mondzo.
Desde
então, um grupo de carvoeiros, a maioria mulheres viúvas, inovou a produção de
carvão no bairro da Cerâmica, zona limítrofe entre a cidade da Beira e o
distrito de Dondo (Sofala), com base em cascas de madeira das sobras de
processamento simples para exportação e tinham nesse procedimento o sustento
familiar.
Apesar
da proibição em vigor, madeira não processada e protegida por lei, continua a
ser exportada com "desrespeito reiterado", denunciam relatórios
florestais a que a Lusa teve acesso, explicando a pouca saída da casca e
consequente explosão de preço de comercialização, levando os carvoeiros a
declarar que a iniciativa que os beneficiava não passou de "lavagem de
imagem".
"O
custo da casca da madeira quase triplicou. Por vezes investimos 4800 meticais
(123 euros) de madeira para fazer um forno, o que nos força a fazer sociedade
por falta de capital", disse à Lusa Maria Meque, sustentando que os preços
elevados estão associados ao retorno de "exportações em toro".
Um
relatório, de 2013, da Agência de Investigação Ambiental, organização
não-governamental do Reino Unido, aponta que "entre 80% e 90% das árvores
derrubadas em Moçambique têm como destino final a China", destinadas aos
setores de construção civil e imobiliário.
O
valor das exportações de madeira moçambicana para aquele país asiático aumentou
de oito milhões de dólares em 2001 para cerca de 100 milhões em 2010.
"O
número de pessoas que desiste deste projeto, desincentivadas pelo alto preço da
casca da madeira, cresce a cada dia" disse à Lusa o carvoeiro Artur
Sebastião, acrescentando que persiste no negócio com medo de "voltar a
casar com pobreza".
O
negócio de produção de carvão baseia-se na compra das sobras da madeira e
construção dos fornos nas bermas da N6, a principal estrada que liga o porto da
Beira aos países africanos do interior, junto às gigantes unidades onde é
processada a madeira e depois embalada em contentores.
O
lucro partilha-se entre o proprietário do terreno, a maioria machambas
(quintas) de produção de arroz abandonadas por infertilidade, e o dono do
forno, que o aluga aos carvoeiros.
Um
forno demora em média sete dias para produzir carvão.
"Quando
começámos o negócio o saco de carvão custava 150 meticais (3,8 euros) e agora
dobrou o preço, mas o lucro não justifica o esforço", declarou à Lusa
Joana Meque, que confessa sentir-se frágil, e assegurando que a debilidade
resulta da ingestão de fumo e constante exposição do peito ao aquecimento do
forno.
A
Lusa tentou ouvir as autoridades locais mas não obteve resposta.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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