Verdade
(mz) - Editorial
Na
tarde de 21 de Outubro, um agente da Polícia de Investigação Criminal (PIC) foi
alvejado a tiro na Avenida Mao Tse Tung, em Maputo, e sobreviveu por um triz. À
mesma hora, a 22 do mesmo mês, uma cidadã de ascendência asiática foi
sequestrada na Avenida Milagre Mabote, também, em Maputo, deixando claro que
para a Polícia e a Justiça ainda prevalece a árdua tarefa de investigar e deter
os verdadeiros cabecilhas deste crime, que pulam entre nós.
Na
mesma cidade, a 24 de Outubro, os serial killers, ora à solta e que
aparentemente não só controlam os movimentos das suas vítimas, mas, também, das
autoridades da Lei e Ordem, perpetraram mais uma acção selvagem: Paulo Estêvão
Daniel (Danger Man) foi crivado mortalmente de balas. Estes problemas
gravíssimos, que apavoram todos nós, tornaram-se ummodus vivendi e um modus
operandi de facções do crime organizado perante o desespero aterrador da
sociedade e a incapacidade do Estado.
Estamos
constantemente indispostos por conta desta situação. Com os assassinos e sequestradores
cada vez mais violentos, a população vive endoidecida e o Estado fica
fragilizado e prestes a cair no descrédito. As facções do crime organizado, que
a olho nu ameaçam colocar em causa a legitimidade e a credibilidade do Estado,
desafiam de forma descarada e abusiva o vigor da Polícia e as instituições de
administração da Justiça, que se mostram impotentes para conter tamanha
violência.
O
poder do Estado em relação a este tipo de maléficos refreou e prevalece a ideia
de que esta pouca-vergonha deriva do facto de aqueles cuja tarefa é garantir a
nossa integridade física e protecção pactuam com gente pouco honesta ou com mau
carácter. Há gente na Polícia, do topo à base, que está do lado de facções do
crime organizado? O desrespeito pela legalidade está a ficar assustador.
Os
criminosos matam a sangue-frio, dia e noite, longe e nas proximidades das
subunidades da Polícia. À velocidade a que estes crimes acontecem e dado o rumo
que tomam, torna-se consistente a ideia de que a Polícia, no seu todo, como as
restantes instituições que velam pela legalidade e integridade territorial e
física, foram tomadas e são controladas pelo crime organizado.
As
armas que deviam estar em poder da Polícia são cada vez mais administradas por
criminosos e não é muito difícil perceber como e em que circunstâncias chegam
às mãos deste grupo. Todavia, acreditamos que o Estado pode e é capaz de tomar
medidas concretas para estancar este problema – se é que há interesse para tal
– que se repercute na generalização do medo e da insegurança pública. Uma rede
composta por uma punhado de gente que vive à margem da Lei não pode continuar
mais forte que um Estado.
Este
deve impor-se com vista a assegurar que não fiquemos reféns de gangues e não
tenhamos receio de sair das nossas casas. Os bandidos não podem colocar uma
população inteira à mercê da sua sorte. A Polícia e o sistema de Justiça não
podem ser vigorosos apenas quando se está diante de ladrões de galinhas. As
artimanhas dos raptores e dos assassinos não podem ser de tal sorte
bem-sucedidas a ponto de transparecer que a corporação e o Estado se baldam
perante este caos.
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