Pedro
Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião
Houve
vários momentos dramáticos na trapalhada do Citius, o sistema informático que
bloqueou a justiça portuguesa durante mais de 40 dias. Mas o maior foi,
provavelmente, o que conduziu a uma teoria da conspiração que se cristalizou no
espaço mediático. A de que a migração apressada de milhões de processos
judiciais para uma plataforma digital só não acontecera por obra e graça de uma
sabotagem.
A
ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, agarrou-se com ambos os braços a
esta boia de salvação. Pelo menos pensava ela. Na verdade, como o argumento
deste filme negro foi tão elegante nos detalhes, até nos dava vontade de
acreditar. Afinal, esta era a história de dois funcionários administrativos da
PJ que tinham sido alcandorados à condição de mentores de uma gigantesca trama
informática. Com as consequências sabidas: milhões de documentos e informações
vitais suspensos numa espécie de limbo.
Semeada
a dúvida, a ministra deu-lhe corda. Pediu ao Ministério Público que
investigasse as suspeitas. O Citius começava finalmente a endireitar-se e havia
que manter bem vivo o fantasma da cabala. Duas semanas bastaram para a
estratégia ruir: a Procuradoria ilibou os dois suspeitos e arquivou o processo,
por falta de indícios do crime de sabotagem informática e do crime de coação. O
despacho é cristalino: o Citius revelou-se um sistema frágil e o Instituto de
Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça foi incapaz de conduzir o processo
de migração "com eficácia".
Perante
isto, o que diz a ministra? Que "os factos descritos no relatório não
revelavam, mas não excluíam, a ocorrência de ilícito". Paula Teixeira da
Cruz é uma mulher obstinada. E isso é salutar. Menos quando esse empenho se
transforma em
cegueira. Desista , senhora ministra. Perdeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário