quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A EUROPA A VER-SE GREGA…



Rafael Barbosa – Jornal de Notícias, opinião

As eleições para o Parlamento Europeu deveriam ter servido de aviso: a ideia de Europa está sob suspeita.

Seja por militância isolacionista ou sintoma de xenofobia (como acontece a Norte, com destaque para Reino Unido e França), seja por revolta contra a austeridade e o empobrecimento (como acontece a Sul, com destaque para Grécia e Espanha), o mapa político-partidário europeu pode sofrer uma reviravolta. Já não se trata de assistir à habitual alternância entre centro-esquerda e centro-direita. Também já não se trata da presença fugaz de uma força alternativa cujo balão logo se esvazia (como o Movimento 5 Estrelas, em Itália). O que estará em cima da mesa, já em 2015, mas também nos anos seguintes, é a hipótese de sucessão de vitórias eleitorais de forças políticas radicais, à Esquerda e à Direita, que desconfiam desta Europa.

O primeiro passo deverá ser dado pelos gregos em janeiro. Dissolvido ontem o Parlamento, as sondagens atribuem a vitória ao Syriza (acrónimo para Coligação de Esquerda Radical), cujo líder, Alexis Tsipras, foi adaptando o discurso e as propostas a uma eventual (e histórica) conquista do poder: já não fala, por exemplo, na recusa em pagar a dívida, antes na sua renegociação. A melhor prova das fortes possibilidades eleitorais de Tsipras deu-a o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, quando o tratou como um inimigo: "Não gostaria que forças extremistas chegassem ao poder [na Grécia]. Preferia que aparecessem caras conhecidas". Uma intromissão um pouco grotesca que o povo grego parece, desta vez, pouco inclinado a considerar.

Mas os poderes europeus não se verão gregos apenas com os gregos. Em maio, há eleições no Reino Unido e anuncia-se a chegada em força, ao Parlamento, do partido independentista (UKIP), que no espetro político se situa à direita do Partido Conservador e quer a ilha fora da Europa. Em novembro, será a vez de Espanha testar a verdadeira força do Podemos, partido que reclama a herança dos indignados que encheram as praças espanholas e que diferentes sondagens dão como um dos três candidatos à vitória, intrometendo-se no que costumava ser uma luta a dois entre PSOE e PP. Finalmente, em 2017, será a vez da França e do teste final à Frente Nacional, que venceu as europeias e é cada vez menos um movimento alicerçado na extrema-direita e cada vez mais um partido nacionalista que colhe apoio de descontentes de todos os quadrantes.

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