Eron
Bezerra - da Amazónia – Correio do Brasil, opinião
O
conceito de democracia (governo do povo) definido pelos gregos não deixa
dúvidas: esse regime só pode assim ser entendido quando a maioria do povo passa
a governar. Na velha Grécia, de poucos habitantes, era possível exercer tal
prática através de assembleias especialmente convocadas para esse fim.
Numa
sociedade de milhões e até de bilhões, como a chinesa e a indiana, essa
democracia passa a ser exercida através de representantes, especialmente
escolhidos para esse fim, seja por eleições diretas, como as existentes no
Brasil – sem entrar no mérito de como ou de que forma cada um se elege – ou
indiretas, como as que existem nos Estados Unidos, que já experimentou o
vexame, recente, de assistir a apuração de uma eleição presidencial se arrastar
por semanas e dá posse a um presidente que teve menos votos do que o
“derrotado”, graças ao esdrúxulo colégio eleitoral americano que estabelece
peso diferente inclusive para os tipos de votantes.
Numa
sociedade dividida em classes esses pressupostos, todavia, não passam de mera
retórica. A direita nunca respeitou a vontade do povo. Assim, enquanto o povo
elege os seus representantes ela faz, por conveniencia, a defesa do sistema
democrático. Mas, se por qualquer razão, seus interesses são minimamente
contrariados, ela não tem nenhum prurido em defender a deposição de quem
eventualmente contrariou os seus interesses.
Defende
abertamente os golpes militares e executa uma criminosa campanha, por todos os
meios que dispõe (legislativo, judiciário, executivo, meios de comunicação e
principalmente os meios de produção) para viabilizar seu intento.
A
tática varia, mas as “bandeiras” no geral são as mesmas. Falam em combater a
corrupção quando eles são os patrocinadores e beneficiários dessa prática
odiosa que, em ultima análise, faz parte da essência do modo de produção capitalista;
se apresentam como defensores da “liberdade” quando naturalmente eles são
supressores até mesmo de sopros de experiências menos ditatoriais, como as que
ocorrem no Brasil; e mesmo após o fim da “guerra fria” ainda recorrem ao
surrado manual da Agência Central de Inteligência Americana (CIA) e
propagandeiam um risco eminente de invasão socialista, de cubanização – pobre
cuba que tanto tem lutado para alimentar seu povo – de bolivarianismo e outras
apelações rasteiras, subestimando a inteligência do povo e a própria
complexidade de uma sociedade como a brasileira.
Mas
é bom não subestima-los. Eles são reacionários, muitos são fascistas,
americanoides, golpistas sem qualquer respeito pelo povo e suas instituições
democráticas. Mas dispõem de todo um aparato – muitas vezes sem contestação – o
que acaba tornando “verdade” a mentira repetida mil vezes, como ensinava o
chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, do qual eles são admiradores e
seguidores.
Baseado
nessa tática eles levaram Getúlio Vargas ao suicídio; depuseram João Goulart
(Jango) através do golpe de estado de 1964; ensaiaram o impeachment de Lula por
mais de uma vez e, agora, após mais uma fragorosa derrota, voltam a carga
contra Dilma.
Pouco
importa se o povo escolheu Dilma, precisamente pelo fato de ter melhorado de
vida, mesmo que de forma modesta. Importa menos ainda se o governo Dilma é o
que mais combate a corrupção, numa proporção de 46% contra 4% de FHC. nada
disso importa. Eles não podem suportar mais 4 anos fora do poder político nacional
e tudo farão para inviabilizar o governo Dilma.
Naturalmente
as forças progressistas de esquerda, bem como as entidades do movimento popular
reagirão a altura a qualquer provocação golpista. A intensidade dessa
mobilização e mesmo o seu alcance dependerá, todavia, dos sinais que a nossa
camarada Dilma Rousseff emitir.
A
palavra é sua presidenta!
*Eron
Bezerra, é professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e
Indígena do Comitê Central do PCdoB.
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