Inês
Cardoso – Jornal de Notícias, opinião
Iniciam-se
as férias, mas em dezenas de concelhos as cantinas escolares mantêm-se abertas,
chegando a acolher, além dos alunos, familiares diretos. Medidas que começaram
por ser de exceção, para evitar que crianças ficassem sem refeições quentes nas
pausas escolares, ameaçam tornar-se uma regra.
Soube-se
também, ontem, que nos próximos anos Portugal vai receber 176,9 milhões de
euros de fundos comunitários para fornecer produtos alimentares e outros
artigos básicos às franjas mais pobres da população. Verbas que, declarou a
comissária europeia para o Emprego, Assuntos Sociais, Competências e Mobilidade
Laboral, ajudarão o país "a enfrentar a sua elevada taxa de privação
material grave".
Dos
números da pobreza ou da percentagem da população em risco de passar fome, nem
vale a pena falar. De desemprego, perda de rendimentos, crise e recuperação ou
falta dela, também não. Mas o longo nome da pasta da referida comissária
europeia, que encerra em si toda uma promessa de políticas ativas com vista à
plena integração e qualificação para o emprego, não pode deixar de suscitar
perguntas sobre as dificuldades em transitarmos de um assistencialismo
preocupante para uma efetiva transformação social.
O
apoio de urgência a quem mais precisa não é dispensável, nem deve ser menorizado
- por mais legítimo que seja o debate quanto à sua eficácia -, enquanto não se
muda a realidade. Mas o problema de fundo é que a mudança não se vislumbra. Sem
o envolvimento das pessoas, sem a sua capacitação, sem a garantia de que o
assistencialismo seja transitório, perpetuam-se ciclos de dependência. E não é
de dependência alimentar que se trata: é de défice de participação cívica, de
ineficácia na integração social e de falta de empreendedorismo. A mão que se
estende deve servir para levantar o outro do chão - e é este movimento que
fica, demasiadas vezes, por fazer.
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