O
investigador criminal Barra da Costa considera que houve, nos últimos anos,
momentos assumidos por "políticos profissionais e seus acólitos" de
matriz psicopata, exemplificando com o fecho de centros de saúde ou o
"roubo oficial" de reformas.
A
análise do antigo inspetor chefe da Polícia Judiciária resulta da investigação
que desenvolveu para o livro "Nós, os psicopatas -- fantasias, manias e
anomalias", recentemente publicado pelas edições Macaronésia, no qual
concluiu que "nem todos os psicopatas são assassinos ou criminosos",
sendo estes "os mal sucedidos".
"Os
bem sucedidos encontram-se plenamente inseridos no seu contexto
socioprofissional, onde ocupam, na maior parte das vezes, cargos de relevo na
política e nos governos, em instituições, em empresas, na ciência ou nas
polícias", disse o autor, em entrevista à agência Lusa.
Neste
livro, que pretende "debulhar tudo o que é história, biologia, psicologia,
sociologia e, evidentemente, criminologia desse terrível desvio do
comportamento, assente numa grave perturbação da personalidade, que é a
psicopatia", Barra da Costa descreve os traços mais determinantes dessa
perturbação.
"Há
pais psicopatas, patrões psicopatas, maridos psicopatas, políticos psicopatas,
empresários psicopatas, companheiros de trabalho psicopatas. A maioria deles
jamais será detida e nunca cometerá algum crime", sublinhou.
As
motivações dos psicopatas passam por "ideais de poder e 'status' social,
em detrimento da empatia e do apego".
"O
psicopata não possui capacidade para sentir tristeza, desespero, desalento ou
dor pela perda de alguém, constituindo-se como um ser desprovido de sentimentos
verdadeiros, um 'desalmado'", adiantou.
Para
o criminologista, existiram em Portugal, "nos últimos anos, momentos
assumidos pelos políticos profissionais e seus acólitos, que são de matriz
psicopata, atentas as consequências gravosas para as populações mais
desfavorecidas em termos socioeconómicos".
Alguns
dos momentos apontados por Barra da Costa como exemplo destes momentos de
matriz psicopata são "o fecho de centros de saúde, escolas e tribunais, o
roubo oficial de reformas e subsídios de férias e de natal, o esbugalhar de
postos de trabalho, vencimentos e direitos, a atrofia social pela via
tributária ou o afastamento compulsivo de funcionários sob o olhar cúmplice de
um sistema de justiça medieval".
"Trata-se
de exemplos da crueldade premeditada, da frieza e da falta de remorso por parte
dos que mais têm e nada fazem (para além de consumir), para com aqueles que
produzem (justamente os mais desfavorecidos em termos sociais e
económicos)".
Por
norma, acrescentou, "esses 'responsáveis', psicopatas aparentemente
não-criminosos, convidam a entender essa psicopatia como uma 'necessidade', um
desígnio coletivo, sob a capa de uma 'recuperação económica' ou de um 'regresso
aos mercados'".
Segundo
o investigador, "as ligações cerebrais dos psicopatas são diferentes das
pessoas 'normais', na medida em que os psicopatas são jogadores de xadrez
psicológico e manobram as pessoas como peões em um tabuleiro".
"Um
primeiro-ministro ou um ministro das finanças não se ralam se condenam uma
população à fome ou se estimulam uma guerra", afirmou, acrescentando: a
"um ministro da educação que não se importa de despedir milhares de
professores apenas para poupar uns tostões - esquecendo-se que um seu colega
optou pela compra de um submarino, gastando nisso uma quantia que daria para
pagar os vencimentos desses professores e dos efetivos, durante cinco anos -
nada preocupa, desde que as suas necessidades pessoais e partidocráticas sejam
satisfeitas".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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